Muito se fala em virtualidade e realidade da Política,
quando se quer expressar o que aparenta ser ou o que de fato acontece, mas,
entre essas duas interfaces, há diversas camadas, perceptíveis ou imagináveis
somente por mentes e espíritos mais atilados e capacitados a processar toda
gama de variáveis que envolvem as relações entre a informação e o poder.
A virtualidade e a realidade são propiciadas pela
visibilidade, que o observador obtém das versões e dos fatos, enquanto que as
demais camadas situam-se no terreno da invisibilidade, que exige do observador,
para que este possa penetrá-las, formação e informação muito mais buriladas.
Tais camadas do campo invisível são os bastidores; os
cenários prospectivos (interno e externo) baseados na estrutura e na conjuntura
políticas; as características das instituições; as variáveis do sistema
político em análise; o fluxo de comunicação política; os perfis das elites e o
movimento das massas.
Começando pela virtualidade política, esta ganhou
considerável dimensão a partir do advento da internet e das redes sociais. Milhões
de internautas definem o universo do “aparente” e interagem com o mesmo no
cotidiano, criando “fatos e versões” que consolidam um ideal político.
A realidade política, acessada por meio desse mesmo instrumental
da internet, permite a construção do universo do “real”, com o qual milhões de
internautas interagem criando fatos e versões que consolidam um realismo
político.
No campo invisível, os bastidores constituem o universo fugaz
e mutante das tentativas de articulações e criações do processo decisório, sendo,
por si só, um laboratório heurístico, onde atuam atores das esferas estatal e societária
e de grupos de interesses nacionais e supranacionais. Uma boa imagem representativa
dos bastidores é o “iceberg”, que mostra seu topo, mas oculta sua massa principal,
tornando-se, por esse capricho, o campo que mais curiosidade desperta nos
repórteres e analistas políticos e mais sensível a especulações.
Os cenários prospectivos, projetados com base na seleção de
eventos futuros, a partir da avaliação das conjunturas interna e externa e com
aplicação da análise probabilística, permitem definir objetivos políticos e
respectivas estratégias - o planejamento da ação política -, tornando-se
excelentes recursos para a elaboração de programas e planos de governo. No
Brasil, a Escola Superior de Guerra é pioneira nesse trabalho e repassou sua
experiência para vários países da América Latina.
As instituições políticas ordenam e comandam o processo de
conquista e manutenção do poder resultante das interligações e interações entre
atores e órgãos políticos (variáveis). A Constituição, a tripartição de
poderes, o processo legislativo, a comunicação política, a forma federativa, o
sistema de governo, o regime de governo, o sistema representativo, o sistema
eleitoral, o sistema partidário, etc., são algumas das principais instituições
e variáveis do sistema político como um todo.
Os perfis das elites e o movimento das massas (e aqui
emprego essa expressão plural para elite e massa, concordando cientificamente
com as concepções de Gramsci e da Escola de Frankfurt, embora considere válidas
as concepções mais tradicionais de Mosca e Pareto com tais expressões singularizadas,
mais aplicáveis ao período anterior à “cultura de massa”) constituem o cerne da
dominação política, seja numa perspectiva nacional, seja numa perspectiva global
ou cosmopolita.
Identificar e qualificar as elites, pelo seu tipo de
circulação (horizontal ou vertical), e interpretar e fixar o pensamento comum
das mesmas (o pensamento dominante), em função do movimento das massas, é o
meio de se estabelecer a ideologia dominante adequada a cada uma das quatro
etapas do desenvolvimento da sociedade, sugeridas de forma quase algorítmica
pela Política Comparada: a) Identificação das lideranças modernizante; b)
Fixação das lideranças modernizantes; c) Disseminação da liderança
modernizante, e d) Promoção da interação social.
Por último, cabe destacar a importância da comunicação
política (o conjunto de informações circulantes no sistema político e
condicionadoras das ofertas e demandas do sistema, como define Panebianco).
Curtos-circuitos nesse processo podem gerar a entropia (o desarranjo interno)
do sistema político e o conflito entre governante e governados.
Curiosa a interpretação que Semama dá à comunicação, não
como veículo cultural, mas, sim, como a própria cultura em si, e o
relacionamento entre poder e informação –observa- é confirmado pelo fato de que
“a medida da entropia é expressa do mesmo modo na mecânica estatística e na informática,
tendo-se descoberto que a medida do conteúdo de informações de uma mensagem, membro
de um determinado conjunto, é igual ao logaritmo da sua probabilidade de
ocorrência.” (“Linguagem e Poder”, UnB, 1981).
Por esse prisma, a complexidade e amplitude dos meios de
comunicação desta sociedade global não constituem veículos, mas, a própria
cultura global, o que se coaduna com a massificação política e polariza radicalmente
os universos do visível e invisível da política, criando, a meu ver, condições
para um verdadeiro “big-bang” político universal, com a “reformatação” negativa de várias
instituições relacionadas moral e eticamente à liberdade humana.
Caro Feichas,
ResponderExcluirQuando você menciona o big bang como reformatação, você estaria apontando como possibilidade a falência do Estado Nacional como conhecemos hoje?
Falência devido a) incapacidade de dar tratamento local a problemas globais; b) ineficácia e ineficiência administrativa;
Não estamos caminhando para o Estado Globalizado, capaz de a) dar respostas globais a problemas globais e b) Ser administrativamente mais eficiente (ganho de escala)?
Abraço