Qual poder impõe, quais interesses movem e qual ideologia justifica a comunhão da Presidente Dilma Rousseff e dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique e Lula em torno da litania de transformação da Comissão da Verdade em assunto de Estado, como vimos recentemente?
Lá estavam, na instalação da dita comissão, dois ex-presidentes, Sarney e Collor, que participaram da transição do regime de exceção - cujos supostos excessos contra os direitos humanos serão apurados – para a democracia, com base na Lei da Anistia promulgada pelo último dos presidentes militares, João Figueiredo, e três presidentes - Fernando Henrique, Lula e Dilma – representantes da nova ordem de esquerda contestadora daquele diploma.
Detalhes significativos da história da sucessão presidencial: José Sarney foi, ao lado de Petrônio Portella, líder da Aliança Renovadora Nacional –Arena -, o partido de sustentação política do regime militar, e, ao lado de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, um dos fiadores da Lei da Anistia e fundadores da denominada “Nova República”. Fernando Collor de Mello foi defenestrado do cargo presidencial por uma campanha sistemática do Partido dos Trabalhadores sob o comando de Lula.
O poder em cena tem configurações codificadas,que requerem ao observador atenção ao quadro geral e aos detalhes. Se uma só águia não caça moscas, cinco águias juntas muito menos... Parece que esse barco político, que partiu do porto da Anistia, chega agora ao seu destino final tornando a democracia brasileira parecida com o paradoxal barco de Teseu.
Nesse momento político brasileiro, de clima apocalíptico, qualquer evento político de grane apelo ideológico junto aos meios de comunicação é válido para afirmação ou reafirmação de regras e intenções por parte dos detentores do poder.
Aparentemente, o Brasil copia os Estados Unidos, reunindo ex-presidentes fora de cerimônias fúnebres ou de inauguração de alguma obra de interesse nacional, com base na idéia republicana de que “o cargo transcende o indivíduo”. Cinco ex-presidentes estiveram reunidos na Casa Branca, após a eleição do Presidente Barack Obama, e, anteriormente, na comemoração dos 200 anos de construção do prédio, em 2000,quando Reagan, doente, não pode comparecer.
Acredito que a instalação da Comissão da Verdade é um fato muito pequeno, embora politicamente significativo, diante da pergunta que formulei abrindo esse texto, e que a demonstração dada pelos ex-presidentes à nação, contando com amplo espaço aberto pela mídia nacional, reforça junto ao povo e às forças armadas, os dois pilares básicos da democracia, a idéia (falaciosa ou não) de que há consenso em torno do atual pacto político, além de transmitir aos centros internacionais de poder político e econômico e aos grandes investidores a mesma afirmação.
O valor (poder) mais alto que se alevanta, parodiando Camões, impondo esse ritual, seria o reforço da visão parsoniana de organização e solidificação do poder central em relação ao contrapoder periférico nacional. Os interesses seriam garantia da governabilidade (ou governança) e estímulo ao desenvolvimento do País, e a ideologia seria, possivelmente, a de um novo desenvolvimentismo, sustentável, mesclado com o neo-liberalismo, capaz de promover maior inserção competitiva do Brasil no contexto internacional.
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