Encontro, casualmente,
numa loja em Brasília, meu colega jornalista João Bosco Rabelo, colunista
político de “O Estado de S.Paulo” e um dos mais lúcidos analistas políticos da
atual geração, além de inquieto observador das transformações tecnológicas que afetam
a imprensa e a política.
Ambos nos queixamos da
velocidade com que se processa a informação no mundo virtual, colocando os
jornais a reboque da web e obrigando-os a apelar para a análise dos fatos já
exaustivamente divulgados na véspera.
As revistas também
sofrem os efeitos da superação dos fatos: Se, antes da internet, tinham que
fazer análise, hoje, muito mais, têm que fazer investigação para conseguirem
agregar ao leitor substâncias para juízos de fato e de valor às suas matérias
de capa.
Outro aspecto que
mereceu, em nossa troca de idéias, especial consideração é a dimensão da
informação na internet: Simples notícia, fotografia, livro ou vídeo pode atrair
a atenção de milhões de internautas e garantir minutos, horas, dias, meses ou anos
de fama negativa ou positiva para o autor e os personagens envolvidos. Fama
nacional e internacional.
Inúmeros sites, blogs e
redes sociais multiplicam o conteúdo impactante do fato a escalas superiores à
capacidade de absorção do raciocínio humano, que, quase que por intuição, tenta
estabelecer uma seleção caótica dos signos, significados e significantes, para
repassar à sociedade a realidade que a cerca.
Em termos políticos,
essa velocidade e dimensão dos fatos e idéias na internet confundem os governos
e governados, causando descompasso entre as ofertas e as demandas do sistema
político e, consequentemente, gerando processos entrópicos e perda de
governabilidade. Governar tornou-se um desafio tão difícil quanto arar no mar,
razão pela qual não há atualmente um estadista que obtenha reconhecimento mundial.
Esse é um problema de
comunicação política, pois diz respeito à velocidade de circulação das
mensagens e dos condicionamentos das ofertas (outputs) e demandas (inputs)
do sistema. Curtos circuitos nessa comunicação podem gerar distorções no regime
de governo, como ditadura ou anarquia, sempre resultantes da perda de qualidade
na comunicação. Democracia e Liberdade se transformam em instituições cada vez
mais abstratas, e menos reais.
Se não há comutação adequada
entre governantes e governados, ou entre si nas próprias categorias, o processo
político se torna desconstrutivo. Por exemplo, a tipologia da democracia, da cidadania
ou da justiça social, no mundo inteiro, apresenta variações conforme cada
cultura, mesmo com o advento da internet e da globalização. Democracia tem um
significado na Ásia e outro na Europa: ditadura idem; cidadania para a América
do Sul tem um significado; para a América do Norte outro. Justiça social é um conceito
um tanto vago para muitos países.
Quando as nações mais desenvolvidas,
com respaldo de centros de poder como a ONU, o FMI, Banco Mundial, etc., tentam
impor modelos políticos, econômicos e sociais, pouca importância dão ao fato de
que o gargalo dos seus objetivos se encontra na comunicação.
Há nações que têm tecnologia
nuclear e não conseguem até hoje convencer boa parcela de sua população a usar
vasos sanitários ou lavar as mãos antes das refeições. E quando conseguem
superar tais desafios, como, por exemplo, os países escandinavos e a Alemanha,
são obrigados a realimentar o processo educativo com elevados gastos na
comunicação, sob o risco de registrarem retrocessos em suas conquistas de superação
de barbáries dos paganismos nórdico e germânico, que incluíam sacrifícios
humanos.
A cultura não se
transmite hereditariamente, como enunciou o antropólogo Claude Levi-Strauss, após
suas pesquisas com indígenas brasileiros e, consequentemente, a seu ver, a civilização
consiste na permanente “desanimalização” do homem.
Poder e dominação mundial
consistem na imposição de civilização, mas, por acaso, os grandes impérios de
que temos conhecimento pela história se caracterizavam por uma civilização “desanimalizante”,
como sugere. Strauss? E pode-se afirmar que a civilização ocidental em algum
momento foi “desanimalizante”, diante das atrocidades cometidas por
dominadores?
Não há um modelo-padrão
de comunicação entre governantes e governados, governantes e governantes,
governados e governados, por mais que se criem tipologias teóricas e
científicas em torno da idéia de um governo universal sobre uma massa universal
de governados.
Desaparecem os estadistas,porque desaparecem os estados nacionais, sem que esteja definido um modelo sucedâneo. A Torre de Babel permanece impávida frustração de Nimrod...
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