segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Conjuntura Mundial: O limiar de uma nova era.


Gélio Fregapani(membro da Academia Brasileira de Defesa)

“Cenários” são prospectivas que podem vir a acontecer. Alguns dos que levantamos estão acontecendo, outros estão no rumo. Levanta-se os cenários prováveis e até os apenas possíveis porque não há nem haverá situações permanentes no nosso mundo, e quem se antecipar aos acontecimentos e tomar a decisão adequada terá grande vantagem sobre quem não o fez. Sabemos que, por vezes, acontecem fatos capazes de transformar toda uma conjuntura.

Atualmente, o principal fato portador de transformações, em qualquer prospectiva é a contínua perda de valor do dólar, que tende a levar a contração de seu mercado importador. Certamente, se o dólar deixar de ser bem aceito, os EUA passarão a ter dificuldade de importar até bens indispensáveis como o petróleo, mas poderão viver isolados, substituindo o petróleo importado pelo carvão, pelo gás de xisto e pelo etanol. Alimentos eles tem até para vender ou trocar. Ao refazer sua indústria não poderá competir com a China no comércio externo, mas no interno tomará as indispensáveis medidas de proteção. Claro, suas exportações ficarão mais em conta. Certamente ficará mais pobre, mas não será o único.

Em consequencia das medidas protecionistas que certamente serão adotadas pelos EUA, a China perderá seu principal mercado, prejudicando sua ascensão rumo ao posto de maior economia do mundo. Naturalmente a China reorientará parte de sua produção para o consumo doméstico, mas não há como evitar uma drástica diminuição da importação de commodities, que afetará diretamente ao nosso País, bem como a todos os outros fornecedores.

E a Europa? Hoje ponto nevrálgico, encerra uma questão crucial: quais as chances de sucesso de um modelo de federalização na Europa, com solidariedade e compartilhamento de custos e benefícios? É a grande incógnita. Esfacelando-se a União Européia como parece provável, os pequenos países estará em grandes dificuldades. Só sobreviverão se descobrirem um nicho de excelência como fez a Finlândia com os celulares, mesmo assim só antes da China tomar-lhe a dianteira.

Até os mais poderosos enfrentarão dificuldades se não forem auto-suficientes, coisa que poucos conseguirão. Todos estarão mais pobres. Todos apelarão para medidas protecionistas e recriminarão as medidas dos demais que prejudiquem suas exportações. Os mais prejudicados serão os pequeno s países de mercado insuficiente para ter uma indústria de escala. Terão dificuldade de sobreviver como nação, mas dispondo de capital e tecnologia tentarão fundar empresas nos “BRICs”. Não à toa que esta seja a estratégia dos mais inteligentes: crescer para fora. Marcar terreno, principalmente em países emergentes como o Brasil

Aos poucos os BRICs, inclusive o nosso Pais, compreenderão o erro de permitir a drenagem de recursos feitas pelas empresas de capital estrangeiro e tentarão restringi-lo. As restrições ao capital estrangeiro e a necessidade vital de petróleo sem ter como comprá-lo tende a causar ações militares para impor os interesses vitais, principalmente sobre os detentores das jazidas, mas os de outras commodities também não estarão a salvo.

Naturalmente, aos poucos será retomado o comércio, a principio a base de escambo, mas até voltar a ordem natural será inevitável uma série de conflitos, disputas pelo acesso a recursos naturais indispensáveis; pressões, conquistas territoriais, faxinas étnicas e até genocídios.

Por certo este não é o melhor cenário, mas apenas o mais provável. Não podemos saber ainda até que ponto os EUA agüentarão o tranco e se recuperarão, nem se a redução da economia chinesa será um "pouso suave" ou "aterrissagem" forçada. Tampouco sabemos se a acomodação mundial se dará por intermédio dos mecanismos de mercado, por meio do jogo político ou pela força; em outras palavras, se acontecerá de forma negociada ou conflitiva. Só o que podemos
saber é que estamos no limiar de uma nova era na História

E nós? - É claro que o Brasil não passará incólume pelas vicissitudes do quadro internacional. Poderemos resistir a um ambiente externo hostil? – Dependerá do acerto da política e da capacidade de resistência. Então quais os espaços para o Brasil, tendo como referência o cenário descrito, e quais as ações para construir e fortalecer capacidade de resistência? – Num primeiro passo zerar o déficit nas contas externas mesmo a custo de redução do consumo e bem estar; em seguida orientar a economia para o mercado interno, diminuindo a dependência das exportações, que sabemos, serão reduzidas. Ainda teríamos que reduzir a drenagem de capitais pelas remessas de lucro e royaties, como está fazendo a China.

O Brasil pode seguir uma trajetória de desenvolvimento puxado pela demanda interna (investimentos em energias e infra-estruturas e consumo interno), e isto estamos fazendo. Outra ação indispensável será o incentivo ao aumento da população e ocupação do território, por mais que isto contrarie aos ecoxiitas e aos neo-maltusianos. Entretanto nada disso adiantará se não tivermos preparado Forças Armadas duras de roer, que possam manter a distância os ambiciosos.

O cenário não é desesperador. Somos dos poucos países que pode viver sozinho, se necessário. O país acumulou trunfos que, se bem usados, permitirão mitigar as consequências de um cenário externo de degradação e aproveitar as oportunidades de um cenário de recuperação lenta para manter o curso de seu desenvolvimento. A capacidade de resistência, porém, será função das medidas que tomarmos hoje, e para isto é preciso coragem e união.

 

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