“Cenários”
são prospectivas que podem vir a acontecer. Alguns dos que levantamos estão
acontecendo, outros estão no rumo. Levanta-se os cenários prováveis e até os
apenas possíveis porque não há nem haverá situações permanentes no nosso mundo,
e quem se antecipar aos acontecimentos e tomar a decisão adequada terá grande
vantagem sobre quem não o fez. Sabemos
que, por vezes, acontecem fatos capazes de transformar toda uma conjuntura.
Atualmente,
o principal fato portador de transformações, em qualquer prospectiva é a
contínua perda de valor do dólar, que tende a levar a contração de seu mercado
importador. Certamente, se o dólar deixar de ser bem aceito, os EUA passarão a
ter dificuldade de importar até bens indispensáveis como o petróleo, mas
poderão viver isolados, substituindo o petróleo importado pelo carvão, pelo gás
de xisto e pelo etanol. Alimentos eles tem até para vender ou trocar. Ao
refazer sua indústria não poderá competir com a China no comércio externo, mas
no interno tomará as indispensáveis medidas de proteção. Claro, suas
exportações ficarão mais em conta. Certamente ficará mais pobre, mas não será o
único.
Em
consequencia das medidas protecionistas que certamente serão adotadas pelos
EUA, a China perderá seu principal mercado, prejudicando sua ascensão rumo ao
posto de maior economia do mundo. Naturalmente a China reorientará parte de sua
produção para o consumo doméstico, mas não há como evitar uma drástica
diminuição da importação de commodities, que afetará diretamente ao nosso País,
bem como a todos os outros fornecedores.
E a
Europa? Hoje ponto nevrálgico, encerra uma questão crucial: quais as chances de
sucesso de um modelo de federalização na Europa, com solidariedade e
compartilhamento de custos e benefícios? É a grande incógnita. Esfacelando-se a
União Européia como parece provável, os pequenos países estará em grandes
dificuldades. Só sobreviverão se descobrirem um nicho de excelência como fez a
Finlândia com os celulares, mesmo assim só antes da China tomar-lhe a
dianteira.
Até os mais
poderosos enfrentarão dificuldades se não forem auto-suficientes, coisa que
poucos conseguirão. Todos estarão mais pobres. Todos apelarão para medidas
protecionistas e recriminarão as medidas dos demais que prejudiquem suas
exportações. Os mais prejudicados serão os pequeno s países de mercado
insuficiente para ter uma indústria de escala. Terão dificuldade de sobreviver
como nação, mas dispondo de capital e tecnologia tentarão fundar empresas nos
“BRICs”. Não à toa que esta seja a estratégia dos mais inteligentes: crescer
para fora. Marcar terreno, principalmente em países emergentes como o Brasil
Aos
poucos os BRICs, inclusive o nosso Pais, compreenderão o erro de permitir a
drenagem de recursos feitas pelas empresas de capital estrangeiro e tentarão restringi-lo.
As restrições ao capital estrangeiro e a necessidade vital de petróleo sem ter
como comprá-lo tende a causar ações militares para impor os interesses vitais,
principalmente sobre os detentores das jazidas, mas os de outras commodities
também não estarão a salvo.
Naturalmente,
aos poucos será retomado o comércio, a principio a base de escambo, mas até
voltar a ordem natural será inevitável uma série de conflitos, disputas pelo
acesso a recursos naturais indispensáveis; pressões, conquistas territoriais,
faxinas étnicas e até genocídios.
Por certo
este não é o melhor cenário, mas apenas o mais provável. Não podemos saber
ainda até que ponto os EUA agüentarão o tranco e se recuperarão, nem se a
redução da economia chinesa será um "pouso suave" ou "aterrissagem"
forçada. Tampouco sabemos se a acomodação mundial se dará por intermédio dos
mecanismos de mercado, por meio do jogo político ou pela força; em outras
palavras, se acontecerá de forma negociada ou conflitiva. Só o que podemos
saber é
que estamos no limiar de uma nova era na História
E nós? -
É claro que o Brasil não passará incólume pelas vicissitudes do quadro
internacional. Poderemos resistir a um ambiente externo hostil? – Dependerá do
acerto da política e da capacidade de resistência. Então quais os espaços para
o Brasil, tendo como referência o cenário descrito, e quais as ações para
construir e fortalecer capacidade de resistência? – Num primeiro passo zerar o
déficit nas contas externas mesmo a custo de redução do consumo e bem estar; em
seguida orientar a economia para o mercado interno, diminuindo a dependência
das exportações, que sabemos, serão reduzidas. Ainda teríamos que reduzir a
drenagem de capitais pelas remessas de lucro e royaties, como está fazendo a
China.
O Brasil pode seguir uma trajetória de
desenvolvimento puxado pela demanda interna (investimentos em energias e
infra-estruturas e consumo interno), e isto estamos fazendo. Outra ação
indispensável será o incentivo ao aumento da população e ocupação do
território, por mais que isto contrarie aos ecoxiitas e aos neo-maltusianos.
Entretanto nada disso adiantará se não tivermos preparado Forças Armadas duras
de roer, que possam manter a distância os ambiciosos.
O cenário
não é desesperador. Somos dos poucos países que pode viver sozinho, se
necessário. O país acumulou trunfos que, se bem usados, permitirão mitigar as
consequências de um cenário externo de degradação e aproveitar as oportunidades
de um cenário de recuperação lenta para manter o curso de seu desenvolvimento.
A capacidade de resistência, porém, será função das medidas que tomarmos hoje,
e para isto é preciso coragem e união.
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