segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Brasília nas mãos de Cingapura

O Brasil recorre a Cingapura para planejar o futuro de Brasília até o horizonte de 2060. Notícia que poderia ser surrealista, mas que é real, depois de ter o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, assinado, naquela cidade, no último dia 29, contrato para que a Jurong Consultants faça o planejamento estratégico do Distrito Federal para os próximos 50 anos – o denominado “Projeto Brasília 2060”, que custará cerca de 4,5 milhões de dólares e será iniciado imediatamente.
A notícia deixou estupefatos os arquitetos, engenheiros, urbanistas, professores e vários estudiosos de Brasília, desde os primórdios de sua fundação, quando o marechal José Pessoa realizava estudos para a transferência da capital, conforme relata a cronista Conceição Freitas, do “Correio Braziliense” (edição de 7 de outubro). Ainda informa que já há uma petição pública para obter na Justiça o cancelamento da consultoria, enquanto cresce o  movimento, encabeçado pelo presidente do Instituto dos Arquitetos de Brasília – IAB-, Paulo Paranhos, de repúdio ao  que considera mais um tipo de colonialismo.
Colonialismo à parte, esse contrato prevê que a equipe da Jurong Consultants realizará estudos visando à criação de uma espinha dorsal que integrará quatro grandes eixos da Capital: A cidade-aeroportuária; o polo logístico; o centro financeiro internacional e a ampliação do Polo JK. O planejamento final será entregue em abril de 2014.
Globalização é isto: Integração de mercados em todos os setores da economia – agropecuário, industrial e de serviços. Com seu status de “Patrimônio da Humanidade”, Brasília receberá o aporte científico, tecnológico e administrativo de um grupo destacado de Cingapura, a “Meca” asiática dos grandes negócios.
O planejamento estratégico no Brasil, introduzido a partir da criação da Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, em 1949, transformou-se num poderoso instrumento de desenvolvimento nacional, disseminando-se não apenas no âmbito governamental, mas, também, no setor privado. O País conta hoje com o que há de melhor em planejamento, e esta tem sido uma das alternativas para redução de sua dependência externa.
A Presidente Dilma, creio que alertada por especialistas de larga visão em planejamento, criou a Empresa de Planejamento e Logística, que, certamente, proverá o Brasil de infraestrutura de transportes e logística adequada às necessidades de um país que ainda tem grandes deficiências no seu sistema de escoamento da produção para abastecimento interno e exportação e de integração social pela circulação de pessoas. Maiores qualidade e competividade serão exigidas das empresas que operam nesse setor.
Tenho dúvidas sobre a prevalência do planejamento a ser feito pela empresa de Cingapura sobre os modelos já elaborados por grupos nacionais. Creio que as duas vertentes serão cotejadas e fundidas numa só visão estratégica. Nesse aspecto, o trabalho da Jurong Consultants terá muita utilidade, pois, conforme a máxima do Direito, “o que abunda não prejudica...”.
É conhecido o problema da violência urbana na região do denominado Entorno do Distrito Federal, região fronteiriça com os Estados de Goiás e Minas Gerais e onde a pobreza reflete a superação do planejamento original pelo crescimento desordenado.
Com cerca de 2,5 milhões de habitantes, o Distrito Federal exerce influência sobre 298 municípios  do Centro-Oeste brasileiro e uma população de 9,6 milhões de habitantes, tornando-se, segundo o IBGE, uma metrópole nacional, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Mas, ficam no ar algumas perguntas? Tanto dinheiro para esse contrato? Não seria mais interessante uma licitação entre empresas de consultoria nacionais (segundo dados da Catho, há 1.885 empresas de consultoria geral no Brasil). Qual interesse político (captação de recursos para as eleições de 2014?) se oculta nesse contrato?

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