Essa
preocupação do Governo brasileiro com a sucessão na Venezuela, caso o presidente
eleito Hugo Chàvez venha a falecer em Havana, antes de tomar posse, tem alguma
relação com a recente história política brasileira, quando Tancredo Neves foi
eleito em 15 de janeiro de 1985,ficou de tomar posse em 14 de março, mas
adoeceu e morreu no dia 21 de abril, o que levou o vice-presidente eleito José
Sarney a assumir a presidência da República.
Chàvez,
que se encontra em tratamento em Havana (especula-se que em coma), foi eleito
para 2013/2019, em outubro passado, e tomaria posse dia 10, mas o Tribunal
Superior de Justiça teve que adiar a sua posse, e o vice-presidente Nicolas Maduro
exerce o governo interinamente. Caso não venha Chàvez a ser empossado, o presidente
da Assembléia Nacional exercerá a presidência interinamente e novas eleições
serão convocadas em 30 dias.
A
sucessão de Tancredo com a posse de José Sarney não foi pacífica e teve que
contar com respaldo das Forças Armadas ( leia-se ministro do Exército ,Leônidas
Pires Gonçalves, que exigiu que fosse seguido o “livrinho”, ou seja, a
Constituição), enquanto o Presidente da Câmara, deputado Ulysses Guimarães,
queria a convocação de novas eleições – esta mesma linha que o governo
brasileiro vem sugerindo às autoridades venezuelanas.
Maduro
está para a sucessão de Chàvez como Sarney estava para a sucessão de Tancredo,
e o governo brasileiro defende a convocação de novas eleições como ato de
respeito à Constituição, mas é evidente que está implícita nessa posição o
temor de que Maduro assuma a presidência e atiçe a oposição, liderada por Henrique Capriles, e nesse caso a Venezuela
ver-se-á engolfada numa instabilidade política que pouco interessa a Brasília,
ainda que uma nova eleição possa levar o líder oposicionista Henrique Capriles
(o Ulysses Guimarães de lá) ao poder.
A
disputa pelo poder preocupa o Governo brasileiro, pois a instabilidade ameaça
as boas relações de cooperação econômica e comercial que os dois países vêm mantendo,
principalmente no setor petrolífero, embora a Venezuela chavista esteja se
armando e se transformando em potencial ameaça militar na fronteira. Um vizinho
fortemente armado é sempre objeto de preocupação para qualquer país.
Em
resumo, novas eleições conferem legitimidade e governabilidade, mesmo que o
chavismo perca sua força sem o seu criador e a oposição aumente sua chance de
conquistar o poder. Para o governo brasileiro, o retrato é secundário, desde
que a moldura seja a estabilidade política e a manutenção das boas relações
entre os dois países.
Penso
que o “chavismo” morre com Chàvez, pois vejo- o mais como artifício de
exercício do poder (uma ditadura populista e demagógica) do que propriamente
como ideologia. Um bolivarianismo que talvez fosse rejeitado pelo próprio Simón
Bolívar, para quem, conforme escreveu em várias cartas a amigos, pregar a
democracia nas Américas é o mesmo que tentar “lavrar no mar”.
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