segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

De Tancredo Neves a Hugo Chàvez, o risco da instabilidade


Essa preocupação do Governo brasileiro com a sucessão na Venezuela, caso o presidente eleito Hugo Chàvez venha a falecer em Havana, antes de tomar posse, tem alguma relação com a recente história política brasileira, quando Tancredo Neves foi eleito em 15 de janeiro de 1985,ficou de tomar posse em 14 de março, mas adoeceu e morreu no dia 21 de abril, o que levou o vice-presidente eleito José Sarney a assumir a presidência da República.
Chàvez, que se encontra em tratamento em Havana (especula-se que em coma), foi eleito para 2013/2019, em outubro passado, e tomaria posse dia 10, mas o Tribunal Superior de Justiça teve que adiar a sua posse, e o vice-presidente Nicolas Maduro exerce o governo interinamente. Caso não venha Chàvez a ser empossado, o presidente da Assembléia Nacional exercerá a presidência interinamente e novas eleições serão convocadas em 30 dias.
A sucessão de Tancredo com a posse de José Sarney não foi pacífica e teve que contar com respaldo das Forças Armadas ( leia-se ministro do Exército ,Leônidas Pires Gonçalves, que exigiu que fosse seguido o “livrinho”, ou seja, a Constituição), enquanto o Presidente da Câmara, deputado Ulysses Guimarães, queria a convocação de novas eleições – esta mesma linha que o governo brasileiro vem sugerindo às autoridades venezuelanas.
Maduro está para a sucessão de Chàvez como Sarney estava para a sucessão de Tancredo, e o governo brasileiro defende a convocação de novas eleições como ato de respeito à Constituição, mas é evidente que está implícita nessa posição o temor de que Maduro assuma a presidência e atiçe a oposição, liderada por  Henrique Capriles, e nesse caso a Venezuela ver-se-á engolfada numa instabilidade política que pouco interessa a Brasília, ainda que uma nova eleição possa levar o líder oposicionista Henrique Capriles (o Ulysses Guimarães de lá) ao poder.
A disputa pelo poder preocupa o Governo brasileiro, pois a instabilidade ameaça as boas relações de cooperação econômica e comercial que os dois países vêm mantendo, principalmente no setor petrolífero, embora a Venezuela chavista esteja se armando e se transformando em potencial ameaça militar na fronteira. Um vizinho fortemente armado é sempre objeto de preocupação para qualquer país.
Em resumo, novas eleições conferem legitimidade e governabilidade, mesmo que o chavismo perca sua força sem o seu criador e a oposição aumente sua chance de conquistar o poder. Para o governo brasileiro, o retrato é secundário, desde que a moldura seja a estabilidade política e a manutenção das boas relações entre os dois países.
Penso que o “chavismo” morre com Chàvez, pois vejo- o mais como artifício de exercício do poder (uma ditadura populista e demagógica) do que propriamente como ideologia. Um bolivarianismo que talvez fosse rejeitado pelo próprio Simón Bolívar, para quem, conforme escreveu em várias cartas a amigos, pregar a democracia nas Américas é o mesmo que tentar “lavrar no mar”.

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