Tantas loas à figura do
presidente Hugo Chàvez, da Venezuela, morto por um câncer, significam que o
“Chavismo” ainda detém as rédeas do poder e fará o sucessor, não
necessariamente o atual vice, Nicolás Maduro, também politicamente escolado em
Cuba, porque há uma ferrenha disputa
interna do poder venezuelano.
Chàvez foi um ditador
de porte limitado, se comparado com outros ditadores latinos, como o haitiano
François Duvalier (“Papa Doc”), o dominicano Rafael Trujillo, o paraguaio Alfredo Stroessner, o argentino Peron, o
cubano Fidel Castro (ainda presente), o chileno Augusto Pinochet e... o brasileiro
Getúlio Vargas - todos hoje relegados a um relativo esquecimento.
Mesmo Getúlio Vargas, internacionalmente
reconhecido como estadista, tende a cair na vala comum da história, onde se
encontra a maioria dos próceres políticos mundiais, com exceções de cerca de
uma centena de nomes cuja citação não cabe aqui. Chàvez, com “Chavismo” e tudo,
não será lembrado por muito tempo.
Mas, o que é o
“Chavismo” e qual a herança que Chàvez deixou para os venezuelanos, com sua
ditadura que amordaçou jornalistas, juízes e opositores ao regime?
O “Chavismo” gira em
torno da figura de Hugo Chàvez e de uma proposta socialista baseada nas idéias
de personalidades que variam de Simon Bolívar a Che Guevara. O “Chavismo” é
mais um logotipo do que uma ideologia, utilizado pela elite venezuelana
detentora do poder. A tendência é o logotipo mudar a médio prazo, mas sempre
com a fachada democrática
O legado de Chàvez ao altivo
povo venezuelano estaria nas suas obras de assistencialismo social, na sua
postura internacional agressiva, nas articulações
de projetos de integração e
desenvolvimento econômicos com países vizinhos, no reequipamento das Forças Armadas
e na busca de valorização do petróleo venezuelano.
O Presidente Lula, ao
contrário do que a mídia divulga, não era tão afinado pessoalmente com Presidente
Chàvez, pois ambos transitavam numa faixa concorrencial de liderança populista
na América Latina, e seus egos se chocavam... Mas era necessária a união das esquerdas no continente para a
defesa de interesses comuns.
Lula considerava , em
declarações à imprensa,a Venezuela muito diferente do Brasil, que, a seu ver,
tem instituições tradicionais; os rompantes de Chàvez deixavam Lula ressabiado.O
que seria o maior projeto dos governos Lula/Chàvez, a construção da refinaria
de petróleo em Ipojuca, no estado de Pernambuco, continua com sua execução lenta.
As obras começaram em 2007 e a previsão era de que terminassem em 2011.
A refinaria Abreu e
Lima é uma síntese das relações entre os dois países: Carrega o nome do general
brasileiro que pertenceu ao estado-maior de Simon Bolívar, que lutou pela
independência da Venezuela.
Talvez maior influência
tenha sido exercida sobre o “Chavismo”, na sua fase germinal, pelo Governo
Fernando Henrique Cardoso, que acompanhou de perto todo o movimento que levou
Chàvez ao poder, interagindo com os principais agentes civis e militares do
regime em gestação. Conheci pessoalmente dois desses agentes, que propalavam na
época (final dos anos 90) as idéias de um coronel venezuelano visando à
fundação de uma “república bolivariana”.
Demonstravam convicção
quanto ao ideário político de Chàvez e, certamente, compunham a nata do que se
tornou o atual stablishment
venezuelano, que, há décadas, se reproduz e atua em sintonia com a concorrência
no mercado mundial de produção e refino do petróleo...
Bolívar dizia que a América
Latina é um viveiro de ditadores e que pregar a democracia na região equivale a
“arar no mar”... Falsos democratas continuam proliferando na região, e a Venezuela não escapa dessa realidade.
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