Num plebiscito, fundamental é a questão a ser
formulada. Quais são as questões a serem formuladas, nesse plebiscito que a
Presidente Dilma Rousseff está propondo sobre reforma política, com a premência
que apenas certos temores ou intenções justificam, diante de movimentos bruscos
das massas?
Realizar um plebiscito, com a pressa que vem
sendo aplicada pela Presidente e o açodamento de alguns líderes políticos e do
Poder Judiciário, como resposta às necessidades de uma reforma política
reclamada pelo povo nas ruas, é um risco político-institucional que pode
resultar em mudança do atual regime,
constitucionalmente democrático.
Esse repúdio aos partidos políticos, que são os
detentores dos direitos de cada cidadão votar e ser votado, como acontece em
qualquer sistema representativo, vem sendo orquestrado em todas as
manifestações de ruas, como se o subsistema eleitoral-partidário brasileiro,
instituição que vem evoluindo desde o Império, fosse responsável por todas as
mazelas do sistema político.
Creio que, por casualidade, o presidente do
Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, um democrata, ao criticar
recentemente os partidos políticos, tenha
fornecido o mote para que arquitetos da sociedade fechada dêem asas à
sua imaginação no ritmo das manifestações.
Sim, o Brasil tem um sistema político, e todas as
propostas isoladas ou conjuntas apresentadas até hoje no Congresso Nacional não
passam de arremedos, porque o sistema não se restringe ao subsistema
eleitoral-partidário. Compreende, ainda, a forma de estado, a forma de governo ,
o sistema e o regime de governo, a forma representativa, etc.
Querem encontrar no sistema representativo um
bode expiatório para os desvios éticos e
morais do país, sem ao menos esmiuçarem em leitura o Código Eleitoral em vigor,
que é produto da evolução
política, social e econômica do
Brasil, sob pretextos ainda pouco explícitos, além daquele bem visível, que é a
perpetuação no poder a qualquer custo.
A Presidente Dilma convoca líderes sindicalistas
e outras forças militantes do Partido dos Trabalhadores para uma cruzada em
prol de um plebiscito, sem maiores esclarecimentos à nação e aos seus
representantes no Congresso dos objetivos ou das questões que serão elaboradas.
Está pedindo um cheque em branco para que seu governo mude o que quiser, até
mesmo o regime de governo atual, que, constitucionalmente, é democrático.
Poderia a
Presidente e seus assessores incluírem
entre as perguntas se os brasileiros concordam com o emprego de medidas provisórias como
instrumentos de governabilidade. Essas medidas provisórias transformaram o
Poder Executivo no principal legislador, em detrimento das prerrogativas do
Congresso Nacional, sempre a reboque.
O plebiscito, mecanismo da democracia direta ou
participativa (juntamente com o referendo, o recall, o voto destituinte e a iniciativa popular), é sempre visto
pelos governantes em geral com desconfiança, porque pode servir de
reprovação ao governo, dependendo da consulta feita.
Muitos liberais temem que o plebiscito seja
manipulado pelo governo e resulte na falsa aprovação popular a medidas
antidemocráticas e muitas vezes contrárias aos próprios anseios, interesses,
ideias e reivindicações da sociedade.
Pelo seu caráter de anterioridade, o plebiscito
difere do referendo, cujo caráter é de posterioridade, ou seja, o povo diz se
aprova ou rejeita determinada medida adotada pelo governo. O plebiscito orienta
a medida que o governo deve tomar. Eis porque a questão a ser formulada
num plebiscito tem de ser muito clara, para que não dê margem a interpretações
dúbias, tanto sobre o que se indaga quanto sobre o que se responde.
No Brasil, o plebiscito foi adotado duas vezes: Em
1963, sobre a manutenção do Parlamentarismo, durante o governo João Goulart,
com o povo opinando pela volta ao Presidencialismo, e em 21 de abril de 1993,
em cumprimento a disposição transitória da Constituição de 1988, que previa a
consulta popular sobre a forma e o sistema de governo do Brasil, permanecendo a
forma republicana presidencialista.
Referendos foram realizados em 23 de outubro
de 2005, sobre a proibição de
comercialização de armas-de-fogo, com o povo manifestando-se contrário a essa
medida; em 31 de outubro de 2010, no Estado do Acre, quando os acreanos
decidiram optar pela adoção do horário antigo, duas horas a menos em relação ao
horário de Brasília; e em 11 de dezembro de 2011, no Estado do Pará, cujo povo
recusou a divisão dessa unidade federativa em três.
Voltarei a esse tema, oportunamente, depois que o
Governo definir quais serão as oito perguntas a constarem desse plebiscito. Em
princípio, reforma política via plebiscito ou referendo é puro golpismo.
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