domingo, 16 de junho de 2013

Sua Excelência, a eminência parda


Todo governo ou regime tem a sua eminência parda, uma figura que se destaca na luz ou nas sombras, manipulando os cordéis do poder de forma tão discreta, que, mesmo ocupando algum cargo visível, consegue fazer articulações invisíveis e gerar resultados concretos ao desejo do governante,deste recebendo a estima, o reconhecimento ou até mesmo o temor. 

A expressão é francesa –“éminence grise”- e data do século XVII, na França, quando frei François Lecrerc du Tremblay, o “padre José”, que usava hábito de cor parda, se tornou o braço direito do Cardeal-Duque de Richelieu, primeiro-ministro do Rei Luiz XIII. Não era pouco seu poder, considerando-se a astúcia de Richelieu, bem explícita em sua magistral obra “Testamento Político”.

De certa forma, a consagrada indagação da Ciência Política (“Quem governa?”) envolve não só a figura central visível do poder, o rei ou o presidente, mas também sua equipe, e, dentro desta, sempre, a eminência ou as eminências pardas, dependendo do grau de centralização ou descentralização das decisões.

No regime militar vigente no Brasil de 1964 a 1985, inicialmente, o economista Roberto Campos ganhou forte influência, mas depois veio Delfim Netto, espécie de “czar” da economia, mas a eminência parda política era o general Golbery do Couto e Silva, que, com o tempo, como criador do SNI, deixou de ser parda para se tornar referência para os analistas políticos nacionais e internacionais. Havia outros nomes:Alfredo Buzaid, Petrônio Portela,Costa Cavalcanti,Mário Andreazza,Jarbas Passarinho,Orlando Geisel,Leitão de Abreu,etc.

Durante a Nova República, Francisco Dornelles, ex-ministro e atual senador, que ajudou a montar a equipe de Tancredo Neves, mandou muito no Governo Sarney; Paulo César Farias – o PC-, no Governo Fernando Collor, e Henrique Hargreaves, no Governo Itamar Franco.

No Governo Fernando Henrique Cardoso, alguns intelectuais como Ruth Cardoso, sua esposa, Celso Lafer e Florestan Fernandes, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, foram influentes, mas FHC procurou imprimir sua marca pessoal de mando, explorando as richas entre os senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho. No Governo Lula, o ministro José Dirceu, condenado pelo seu envolvimento na articulação do “Mensalão”, mandava na política, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, na economia.

Quem é a eminência parda do atual governo Dilma Rousseff? Um observador mais apressado apontaria o ex-presidente Lula, que viaja , faz articulações e dá entrevistas aqui e no exterior, como se ainda fosse o mandatário. Mas, a presidenta da Petrobrás, Graça Foster, tem caminhado com desenvoltura, sem se curvar aos palpites do ex-presidente, e outras figuras, em especial de fora dos quadros petistas, ignoram as investidas de Lula.

O vice-presidente Michel Temer é o principal articulador político, pertencente ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro- PMDB, espinha dorsal da coalizão governamental. O ministro da Educação, Aluízio Mercadante, tenta neutralizar a influência peemedebista. Mas, pelo Partido dos Trabalhadores-PT-, na administração, se destaca o ministro Gilberto de Carvalho, quem vem do governo Lula; e, na economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Vale observar que as várias eminências pardas do Governo Dilma Rousseff indicam a tendência diversionista para se descaracterizar a figura eminente de primeiro plano, o que é peculiar num governo de coalizão, onde nenhum partido, em tese, não pode e nem deve levar tudo...

Evidentemente, há outros nomes influentes, por algum tempo ou em determinado lance decisório, que poderiam ser mencionados, tais como o ministro atual da Defesa, Celso Amorim, que era o parceiro inseparável nas viagens de Lula ao exterior; o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, seu antecessor, algodão entre cristais nas relações do governo Lula com o Poder Judiciário, e a atual ministra da Cultura, senadora Marta Suplicy, sempre reverenciada em qualquer ambiente ao qual comparece como ministra ou pessoa privada, dileta amiga de Lula.

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