Todo
governo ou regime tem a sua eminência parda, uma figura que se destaca na luz ou nas
sombras, manipulando os cordéis do poder de forma tão discreta, que, mesmo
ocupando algum cargo visível, consegue fazer articulações invisíveis e gerar
resultados concretos ao desejo do governante,deste recebendo a estima, o reconhecimento ou até mesmo o temor.
A
expressão é francesa –“éminence grise”- e data do século XVII, na França, quando
frei François Lecrerc du Tremblay, o “padre José”, que usava hábito de cor
parda, se tornou o braço direito do Cardeal-Duque de Richelieu, primeiro-ministro
do Rei Luiz XIII. Não era pouco seu poder, considerando-se a astúcia de
Richelieu, bem explícita em sua magistral obra “Testamento Político”.
De
certa forma, a consagrada indagação da Ciência Política (“Quem governa?”)
envolve não só a figura central visível do poder, o rei ou o presidente, mas
também sua equipe, e, dentro desta, sempre, a eminência ou as eminências
pardas, dependendo do grau de centralização ou descentralização das decisões.
No
regime militar vigente no Brasil de 1964 a 1985, inicialmente, o economista
Roberto Campos ganhou forte influência, mas depois veio Delfim Netto, espécie
de “czar” da economia, mas a eminência parda política era o general Golbery do
Couto e Silva, que, com o tempo, como criador do SNI, deixou de ser parda para
se tornar referência para os analistas políticos nacionais e internacionais. Havia outros nomes:Alfredo Buzaid, Petrônio Portela,Costa Cavalcanti,Mário Andreazza,Jarbas Passarinho,Orlando Geisel,Leitão de Abreu,etc.
Durante
a Nova República, Francisco Dornelles, ex-ministro e atual senador, que ajudou
a montar a equipe de Tancredo Neves, mandou muito no Governo Sarney; Paulo
César Farias – o PC-, no Governo Fernando Collor, e Henrique Hargreaves, no
Governo Itamar Franco.
No
Governo Fernando Henrique Cardoso, alguns intelectuais como Ruth Cardoso, sua
esposa, Celso Lafer e Florestan Fernandes, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan,
foram influentes, mas FHC procurou imprimir sua marca pessoal de mando, explorando as richas entre os senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho. No
Governo Lula, o ministro José Dirceu, condenado pelo seu envolvimento na
articulação do “Mensalão”, mandava na política, e Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central, na economia.
Quem
é a eminência parda do atual governo Dilma Rousseff? Um observador mais
apressado apontaria o ex-presidente Lula, que viaja , faz articulações e dá
entrevistas aqui e no exterior, como se ainda fosse o mandatário. Mas, a
presidenta da Petrobrás, Graça Foster, tem caminhado com desenvoltura, sem se
curvar aos palpites do ex-presidente, e outras figuras, em especial de fora dos
quadros petistas, ignoram as investidas de Lula.
O
vice-presidente Michel Temer é o principal articulador político, pertencente ao
Partido do Movimento Democrático Brasileiro- PMDB, espinha dorsal da coalizão
governamental. O ministro da Educação, Aluízio Mercadante, tenta neutralizar a
influência peemedebista. Mas, pelo Partido dos Trabalhadores-PT-, na
administração, se destaca o ministro Gilberto de Carvalho, quem vem do governo
Lula; e, na economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Vale
observar que as várias eminências pardas do Governo Dilma Rousseff indicam a
tendência diversionista para se descaracterizar a figura eminente de primeiro
plano, o que é peculiar num governo de coalizão, onde nenhum partido, em tese, não pode e nem deve
levar tudo...
Evidentemente,
há outros nomes influentes, por algum tempo ou em determinado lance decisório,
que poderiam ser mencionados, tais como o ministro atual da Defesa, Celso
Amorim, que era o parceiro inseparável nas viagens de Lula ao exterior; o
ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, seu antecessor, algodão entre cristais nas
relações do governo Lula com o Poder Judiciário, e a atual ministra da Cultura,
senadora Marta Suplicy, sempre reverenciada em qualquer ambiente ao qual
comparece como ministra ou pessoa privada, dileta amiga de Lula.
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