Dercio
Garcia Munhoz, Economista. (*)
As decisões governamentais na área da economia
incorrem na tentação pela busca de soluções agradáveis, que tragam dividendos políticos
imediatos, sem levar em conta as implicações, e o alto preço a pagar no
futuro, no momento da verdade.
O caso brasileiro atual é disso
exemplo fragrante, já que desde os primeiros anos do milênio, com a mudança de governo, os novos dirigentes
resolveram repetir a frustrada experiência tucana de 1994-98, iniciando um
longo período de valorização da moeda brasileira – o Real; para isso mantendo, num ilusório coquetel neoliberal,
além da liberdade de ingresso e saída no país dos capitais de curto prazo, e de
taxas de juros elevadas para serem atrativas, também um sistema de câmbio flexível, ao sabor das
pressões do mercado. Reconstruía-se, assim,
o conjunto de condições que faz as delicias do capital
especulativo. Com isso, entre 2003 e
2010, nos oito anos de um governo que surpreendia pelo divórcio entre a
retórica e a práxis – ingressaram no país, buscando ganhos de curto prazo, mais de 1,1 trilhão de dólares, num incessante
vai-e-vem mais próprios das meias-portas dos saloons do Velho Oeste.
Agindo livremente na manipulação
do mercado cambial, o objetivo do especulador era entrar e sair do país com
dólares negociados a uma mesma taxa de câmbio, o que lhe permitia ganhos em dólares, isentos de impostos, de 10% ou
12% ao ano – a depender da Selic. Quando,
com entradas maciças de dólares os
especuladores faziam recuar ainda mais a taxa de câmbio – uma queda do Real
em dez por cento, por exemplo – que o
Governo festejava com frases tais como “o
mundo acredita no Brasil” -
então os especuladores iam à loucura; com os ganhos saltando para taxas entre 20% ou 22% ao ano - ou apenas
quinze vezes o que obteriam no mesmo tempo nos maiores mercados financeiros mundiais. Foi assim que o Brasil se transformou no
grande centro de especulação financeira mundial
- uma Las Vegas Latina. Sem
riscos, porém. Como um pôquer de cartas marcadas.
O cassino brasileiro funcionaria a todo o vapor
por quase uma década – hoje menos atraente dada a desconfiança dos banqueiros –
tendo conseguido sobreviver com poucos solavancos mesmo à crise financeira
mundial de 2008. E naturalmente que um
país assim aberto e indefeso, com sua
formidável roleta fazendo fortunas aqui e alhures, passa a cultivar um amplo circulo
de “amigos”, interna e externamente. O que sempre garantiu, em contrapartida, aos
milagrosos dirigentes locais – como vem acontecendo desde o Plano Real – charmosos
tapetes
vermelhos tão logo saltassem nos aeroportos de Nova Iorque, Londres ou Davos. E como prova da gratidão do mercado sempre contaram os
milagreiros brasileiros, para si e para os sábios na gestão da economia e das
finanças, com uma barreira permanente de elogios na mídia
local e internacional, apontando o modelo
brasileiro como exemplar.
(*) Egresso do Banco do Brasil, foi Professor Titular da
UNB e ex-Presidente do Conselho Federal de Economia e do Conselho Superior da
Previdência Social.
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