Adriano Benayon *
Guerra e depressão
O móvel da oligarquia financeira para desencadear
guerras em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais
poder, subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam
conter essa expansão.
2. Na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, respectivamente
França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as
potências angloamericanas só se engajaram com intensidade, no
final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores desgastados.
3. As duas grandes conflagrações eclodiram após
longos períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em
face das consequências sociais e políticas da depressão.
4. No Século XXI, os conflitos armados grandemente
destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a
implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001.
5. Os principais alvos têm sido países islâmicos,
envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001 o Afeganistão está sob
agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e
Iêmen. Em 2011 a brutal agressão e intervenção da OTAN na Líbia. Durante
todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.
6. Em 2013, a agressão à Síria foi intensificada
com a invasão por mercenários e extremistas, grandemente armados, com
participação das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia
Saudita, e colaboração da Turquia e de outros membros da OTAN.
7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com
seus recursos e disposição e com apoio militar e político da
Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.
Ucrânia
8. O êxito, até o momento, dessa resistência, levou
a potência hegemônica retornar a ataques mais incisivos contra a
ex-superpotência, que busca reconstruir-se. Daí, o recente golpe de Estado
na Ucrânia.
9. Ademais, Putin fortaleceu os laços
econômicos e políticos da Rússia com a China e países da Ásia Central,
frustrando a estratégia angloamericana de manter divididas e vulneráveis as
potências capazes de alguma resistência a seu projeto de governo mundial
absoluto.
10. Claro que os EUA nunca deixaram de reforçar o
cerco à Rússia, desde a desmontagem da União Soviética, instalando bases de
mísseis em ex-aliados de Moscou, com destaque para a Polônia. Teleguiaram a
“revolução laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco no enfraquecimento desse
país de consideráveis dimensões e recursos naturais e população em grande
parte russa.
11. Ao verem contida a intervenção na Síria – e
presenciar o Irã muito pouco abalado pelas sanções e incessantes hostilizações
- os EUA trataram de atingir o flanco da própria Rússia.
12. Instaram a União Europeia (UE), sua virtual
satélite, a fazer ingressar nela a Ucrânia, visando a pô-la na OTAN, colocando
bases militares contra a Rússia virtualmente dentro desta.
13. Entretanto, o presidente da Ucrânia,
Yanukovych, constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem
discutir as draconianas condições impostas: adotar as medidas econômicas do
figurino do FMI: cortar em metade o valor das pensões, suprimir benefícios
sociais, demitir funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de
plutocratas, tudo para pagar dívidas com bancos ocidentais.
14. Essas são as medidas às quais estão amarrados
os pífios empréstimos que UE e EUA acabam de
conceder após o golpe, desencadeado a partir de conversa telefônica entre
a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador na
Ucrânia.
15. Utilizaram-se as redes sociais e outros meios
de arrebanhar massas descontentes e as levaram à praça Maidan, ignorando
elas que suas lastimáveis condições de vida vão piorar muito após o
golpe.
16. A polícia foi acusada de autora dos disparos
feitos por gangs neonazistas e outras extremistas, como foi constatado pela
chefe das relações exteriores da União Europeia e pelo ministro do exterior da
Estonia, conforme conversação telefônica entre ambos, cuja autenticidade foi
confirmada pelo ministro: http://rt.com/news/ashton-maidan-snipers-estonia-946/.
17. Isso é evidentemente omitido pela grande mídia,
que só publica o que interessa aos governos dos EUA, aliados e satélites, todos
subordinados à alta finança e ao big business.
18. Ninguém deveria desconhecer que ela
mente, 24 horas por dia, e ainda mais desde a destruição, por dentro, das
Torres Gêmeas em Nova York, golpe a partir do qual os EUA institucionalizaram
mais instrumentos totalitários de repressão.
19. Mas engana muita gente, mesmo após ter sido
desmascarada inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o Secretário de
Estado de Bush, Colin Power, mentido descaradamente sobre a existência de armas
de destruição de massa no Iraque, negada pelo próprio observador das
Nações Unidas.
20. É ao big business que agrada o golpe na
Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios com os oligarcas
corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira, principalmente
britânica.
21. De fato, anunciam-se novos acordos com as
petroleiras angloamericanas (Chevron etc.) para extrair xisto, pelo
processo altamente poluente fracking, bem como a cessão de terras ao
agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com intenso uso dos letais
transgênicos e agrotóxicos, nas grandes extensões férteis da Ucrânia.
22. O destino dos ucranianos, se confirmado o
ingresso na UE, não diferirá do que assola a Grécia, e se abaterá também sobre
os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios cedidos à Ucrânia
pelo bêbado Kruchev.
23. Putin está agindo com extrema cautela, tendo-se
limitado a apoiar o parlamento da Crimeia em seu desejo de unir-se à Rússia,
reforçando efetivos militares na península e no mar.
24. A China manifestou-se solidária à Rússia,
inclusive por estar investindo na Ucrânia, como faz em todo lugar
suscetível de exportar alimentos e outras matérias-primas.
25. A renda por habitante da Ucrânia equivale
a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três milhões de
ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais levará a
maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.
Brasil
26. O processo aqui em curso tem semelhanças com o
da Ucrânia: insatisfação com as condições de vida e com a corrupção;
ignorância das causas desses males.
27. Na nova ágora da internet e redes sociais,
circulam versões absurdas como a de que o governo petista tem por objetivo
implantar o comunismo.
28. Na realidade, esse governo, como seus
predecessores, depende do big business transnacional, cujo domínio intensifica
os problemas do País: concentração, desnacionalização e desindustrialização da
economia; dependência tecnológica.
29. Difundiu-se muito no Brasil vídeo em que uma
jovem ucraniana defende liberdade e democracia no errado contexto das
massas iludidas na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na realidade, uma peça
produzida por empresa de marketing político, sob os auspícios da agência
norte-americana “National Endowment for Democracy”.
30. Este e outros braços do império acionaram as
ONGs a seu serviço, a par dos nazistas, conforme a tradição da CIA, desde o
final da 2ª Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia são homicídios,
vandalismo e torturas, reiteradas agora com tiros sobre manifestantes
pró-Rússia.
31. O objetivo da oligarquia financeira
angloamericana no Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus recursos
de toda ordem, é intensificar a desnacionalização e demais instrumentos para
enfraquecê-lo.
32. Os meios de controle da informação - inclusive
espionagem eletrônica, hacking - combinam-se com a corrupção de todo o sistema
institucional. A presidente é acuada para aumentar o ritmo das
concessões.
33. Estão presentes as consequências das
falhas estruturais da economia brasileira, que venho, de há muito,
denunciando, as quais se poderão manifestar de forma aguda após julho, apesar
de haver eleições em outubro.
34. A crise brasileira tem face interna -
física e financeira - como o serviço da dívida: R$ 900 bilhões para 2014;
e face externa: déficit nas transações correntes com o exterior acumulando US$
188,1 bilhões em três anos (US$ 81,4 bilhões só em 2013).
35. Além disso, seus efeitos econômicos e sociais
podem ser agravados pelas repercussões do colapso financeiro no Hemisfério
Norte, próximo de ressurgir.
* - Adriano Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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