O
processo do “Mensalão”, o rumoroso julgamento que levou o Supremo Tribunal Federal
–STF- a condenar políticos e empresários que participaram da compra de votos
para apoio ao Governo Lula, no Congresso Nacional, no maior escândalo de
corrupção política no Brasil moderno, estabeleceu patamares mais elevados de
desvio ético no trato da coisa pública, de tal forma que outros processos e
condenados conhecidos se transformaram em referências modestas.
Processos
tais como o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, defenestrado do poder , em
1992,por um movimento público encabeçado por estudantes “carapintadas” e
políticos oposicionistas, a maioria do Partido dos Trabalhadores –PT- e do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro-PMDB-, as duas agremiações que
governam atualmente o Brasil, em regime de coalisão; do ex-governador e
ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, atualmente deputado federal, acusado de
desvios de recursos para suas contas no exterior; do ex-governador do Distrito
Federal e ex-senador, José Roberto Arruda, e do ex-governador do Distrito
Federal, Joaquim Roriz.
Collor
foi acusado de corrução por ter aceitado de presente um carro modelo “Elba”;
Arruda e Roriz têm processos por desvios de recursos públicos e compra de
votos. O deputado federal Paulo Maluf continua sendo acusado, mas mantem o
exercício de seu mandato parlamentar. Os quatros políticos têm em comum uma característica:
Continuam com eleitorado expressivo, segundo apontam pesquisas de opinião pública,
o que demonstra que no Brasil a memória popular é condescendente para atos de
ruptura dos códigos de conduta ética e moral. É mais ou menos uma prática
inaugurada pelo ex-governador paulista Adhemar de Barros, em décadas passadas: “Rouba,
mas faz...”.
Colunista
deste blog e meu amigo particular, o jornalista Vicente Limongi Netto é
assessor do ex- Presidente Fernando Collor, e assim comenta a recente
absolvição do ex-Presidente pelo STF,
curiosamente, hoje uma corte dominada pelo Partido dos Trabalhadores:
“O TEMPO É O SENHOR
DA RAZÃO
Fernando Collor
esperou 23 anos. Foi xingado, ultrajado e humilhado. Com galhardia contou até
mil e suportou calado todas as torpezas e leviandades. No dia 24 de abril, o
STF deu para Collor, pela segunda vez, uma preciosa certidão de correção
administrativa e honestidade pessoal e política. Collor botou para fora da
garganta o grito de vencedor entalado há tantos anos. Discursou no Senado e não
deixou barato. A seu ver, a absolvição do STF não só alivia 23 anos de
angústias como também permite reescrever a história do Brasil no período em
que, na Presidência da República, implantou medidas estruturantes, como
abertura comercial e quebra do monopólio. Sem elas, assegurou, seria impossível
a estabilização. "Estou absolvido de todas, absolutamente todas as
acusações. Estou inocentado de todas as delações. A ninguém é mais dado o
direito, salvo por reiterada má-fé, de dizer o contrário", salientou. O
ex-presidente e senador Fernando Collor faz uma pergunta: "Quem poderá me
devolver tudo aquilo que perdi, a começar pelo meu mandato de presidente?"
Para Collor, é importante também a reflexão da sociedade sobre a verdade dos
fatos e, em particular, de uma geração de jovens que somente ouviram inverdades
ou estudaram em livros tendenciosos. Evidente que o choro é livre. Ressentidos
e injustos existem desde os tempos da Ceia de Cristo”.
Com esse comentário de Vicente Limongi Netto, reproduzido por importantes
órgãos da imprensa brasileira, entre os quais o jornal “O Estado de S. Paulo”,
faço aqui uma indagação: “Inocentado pelo STF, o atual senador e ex-presidente
Fernando Collor tem chances de voltar à Presidência da República?” E o
ex-governador José Roberto Arruda? Poderá voltar à política?
Penso que sim. O potencial de votos e o carisma do senador Fernando
Collor de Mello é significativo, embora as novas gerações guardem dele
impressões negativas e o PT não tenha razões para facilitar sua vida política. Ele
teria que recomeçar sua campanha do marco zero, em termos de Brasil. Quanto ao
- ex-governador José Roberto Arruda, ainda arrosta com pesadas acusações e
provas contra sua pessoa, e seu esforço para reverter sua imagem teria que ser
hercúleo, o mesmo raciocínio se aplicando ao ex-governador Joaquim Roriz.
Mas, há um efeito estufa curioso nessa remissão de pecados políticos. Ela
desloca ou puxa para baixo o impacto negativo do “Mensalão”, nas eleições de
outubro próximo, reduzindo o foco de luz sobre os petistas que se encontram
cumprindo pena na penitenciária “Papuda”, de Brasília, entre os quais o ex-ministro
José Dirceu, um dos cabeças do governo Lula.
Em relação à opinião pública, a readmissão, no cenário da disputa
político-eleitoral, do Presidente Collor e dos ex-governadores Roberto Arruda e
Joaquim Roriz ajudaria a encobrir, nas eleições de outubro, não apenas a imagem
negativa do PT, mas também as acusações sistemáticas de corrupção contra o
Governo Lula e a Presidente Dilma Rousseff, que deseja se reeleger e que vem
sofrendo desgastes com denúncias de desmantelamento da Petrobrás, a principal
estatal brasileira do setor petrolífero.
A ética de resultados, aparentemente, parece comover mais os eleitores e
as instituições políticas brasileiras do que a ética pessoal. Assim sendo, a
restauração da moralidade torna-se mais difícil do que a locupletação geral, em
resposta à proposta de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “Restaure-se a
moralidade, ou locupletemo-nos todos”.
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