Para
leitores interessados em se informarem sobre a política no Brasil, em especial
leitores dos países da Ásia, da África e do Oriente Médio, onde este blog é
acessado, eis uma lista de nomes que representam a renovação de lideranças
processada nessas duas últimas décadas e que estarão na liça das disputas
presidenciais nos próximos dez anos:
Dilma
Rousseff, atual presidente da República, economista; Michel Temer, atual
vice-presidente da República, deputado federal e jurista; Fernando Collor de
Mello, ex-presidente da República (1990-1992), senador e jornalista; Aécio
Neves, senador, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex-governador do Estado
de Minas Gerais e economista; Ronaldo Caiado, deputado federal, líder rural e
médico; Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, ex-deputado federal
e médico; Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco e economista; Marina
Silva, ex-senadora, ambientalista, pedagoga e historiadora; Henrique Eduardo
Alves, atual presidente da Câmara dos Deputados, empresário e advogado; Renan
Calheiros, atual presidente do Senado Federal e empresário; Aloísio Mercadante,
senador, ministro-chefe do Gabinete Civil e economista; Tarso Genro, atual governador
do Estado do Rio Grande do Sul, ex-ministro da Justiça, advogado e jornalista;
e Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, atual prefeito de Salvador,
ex-deputado federal e advogado.
Os
ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e José Inácio Lula da
Silva representam o trânsito de uma geração política do pós Segunda Guerra
Mundial para o final da Guerra Fria (queda do Muro de Berlim), que, no Brasil,
teve por marcos o regime militar instaurado em 1964 e a instauração da Nova
República, em 1985. Lula ainda tem liderança e prestígio eleitoral, o que o
torna uma figura de interseção entre os dois conjuntos temporais, pois começou
sua carreira como líder sindicalista, combatendo o regime militar, e permanece
como esteio principal do Partido dos Trabalhadores - PT-, que governa em
coalisão com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-.
Mas,
como se processou essa renovação dos quadros, num Brasil que é considerado
domínio das oligarquias regionais e forças conservadoras liberais, apoiadas na
Igreja, nas Forças Armadas e no capitalismo internacional?
Essa
renovação se processou com base no surgimento de novas elites verticais( econômicas, intelectuais, burocráticas, carismáticas, etc..) e na reprodução
das elites horizontais ou tradicionais; as verticais com líderes alçados dentre as forças
populares, tais como Lula, Dilma, Michel Temer e Marina Silva; as horizontais
pela transmissão hereditária do poder, tal como Fernando Collor (neto de Lindolfo
Collor, ministro do Governo Vargas, e filho do senador Arnon de Mello); Aécio Neves,
neto do ex-presidente Tancredo Neves e filho do ex-deputado Aécio Cunha; Ronaldo
Caiado, neto de Antônio Ramos Caiado, o “Totó Caiado”, líder da mais tradicional
família política do Estado de Goiás, e também sobrinho do ex-senador Emival Caiado;
Geraldo Alckmin, sobrinho do ex-ministro José Geraldo Rodrigues de Alckmin,
ex-ministro do Supremo Tribunal Federal; Eduardo Campos, neto do ex-governador
do Estado de Pernambuco, Miguel Arraes; Henrique Eduardo Alves, filho do ex-deputado,
ex-ministro e ex-governador do Estado do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves;
Renan Calheiros, filho do ex-deputado federal Olavo Calheiros Novaes, do Estado
de Alagoas; Aloísio Mercadante, filho do ex-general-de-exército e ex-comandante
da Escola Superior de Guerra, Oswaldo Moniz Oliva; e Tarso Genro, filho de
Adelmo Simas Genro, ex-vereador e ex-vice-prefeito de Santa Maria e
ex-presidente de honra do Partido Socialista Brasileiro, no Estado do Rio
Grande do Sul; e Antônio Carlos Peixoto
de Magalhães Neto, neto do ex-governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos
Magalhães, e primo do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Luiz Eduardo
Magalhães.
Esses
nomes de políticos da nova geração apresentam potencial de
liderança e votos que os torna capazes de disputar, com primazia, os mais altos
cargos da “classe dirigente” do Brasil, pelo menos, nos próximos dez anos, mas há muitos
outros políticos herdeiros do nome e da tradição familiares que ainda poderão
despontar em primeiro plano, nos próximos anos, por conta da dinâmica política, social e econômica do mundo globalizado.
O
Brasil republicano sempre reciclou o poder entre as suas elites com precisão,
independentemente de haver ou não ruptura democrática provocada por golpes e
revoluções e em sintonia com a influência de forças externas. As elites
horizontais predominam absolutas até a década dos 30, quando começam a surgir as primeiras verticais em decorrência do início do processo de industrialização
do país, a formação do proletariado e a importação de novas ideologias no bojo das imigrações europeias e asiáticas.
Mas,
sempre se cultiva no Brasil o processo de reciclagem de forma lenta e gradual, entre os
componentes das elites horizontais, e, no tocante às elites verticais, busca-se,
preferencialmente, a composição com as suas bases sociais pela via da reforma
política, promovendo o consenso, a conciliação, e reduzindo o dissenso e o
conflito. Mesmo assim, a Revolução Constitucionalista de 32, a Intentona de 35,
O Estado Novo de Vargas e a Revolução de 1964 refletem choques entre as elites
horizontais e verticais, sinalizando que as camadas tectônicas do poder moderno de mando
no Brasil ainda estão longe de sua estratificação estável e intensamente
sujeitas a terremotos decorrentes dos embates entre as duas correntes.
As
contradições desses embates são imensas. Tomemos por exemplo os ex-presidentes
Fernando Collor e Lula da Silva. Em
disputa durante as eleições presidenciais, em 1989, Collor encarnava o
representante da classe burguesa, e Lula o da classe trabalhadora. Collor
venceu e, em 1992 ,foi defenestrado do governo sob forte influência do Partido
dos Trabalhadores, de Lula. Ainda hoje prevalece essa impressão sobre os dois
adversários políticos. Mas, o avô de Collor, ministro do Trabalho Lindolfo Collor,
do Governo Vargas, foi o promotor do maior avanço da legislação trabalhista
brasileira. A Lindolfo a classe proletária brasileira deve a sua redenção, e
não ao Partido dos Trabalhadores... Então, por esse prisma, Fernando Collor
seria, por herança familiar, mais credor da confiança da operária do que Lula,
ainda mais quando se analisa o descontentamento atual de vários partidos de
esquerda com o governo do PT.
Pode-se
argumentar que o Trabalhismo de hoje reúne ingredientes políticos e sociais
diferentes daqueles anos e que o movimento proletário, sob a ideologia
comunista, se empenha mais à conquista do poder político do que à melhoria em
si das condições sociais e econômicas do operariado. Questões como justiça social,
direitos igualitários, igualdade de oportunidades, etc. são preocupações das
duas correntes de elites, mas uma (a horizontal) quer reforma, e a outra
revolução.
É por esse caminho, que reúne num embate as duas tendências ideológicas sedimentadas nas suas elites, que o Brasil seguirá nas suas escolhas, num processo dialético cuja resultante (síntese) terá que se ajustar a todo instante aos ventos do cenário político internacional.
É por esse caminho, que reúne num embate as duas tendências ideológicas sedimentadas nas suas elites, que o Brasil seguirá nas suas escolhas, num processo dialético cuja resultante (síntese) terá que se ajustar a todo instante aos ventos do cenário político internacional.
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