quarta-feira, 2 de maio de 2012

Virtualidade, realidade e o "big-bang" político




Muito se fala em virtualidade e realidade da Política, quando se quer expressar o que aparenta ser ou o que de fato acontece, mas, entre essas duas interfaces, há diversas camadas, perceptíveis ou imagináveis somente por mentes e espíritos mais atilados e capacitados a processar toda gama de variáveis que envolvem as relações entre a informação e o poder.

A virtualidade e a realidade são propiciadas pela visibilidade, que o observador obtém das versões e dos fatos, enquanto que as demais camadas situam-se no terreno da invisibilidade, que exige do observador, para que este possa penetrá-las, formação e informação muito mais buriladas.

Tais camadas do campo invisível são os bastidores; os cenários prospectivos (interno e externo) baseados na estrutura e na conjuntura políticas; as características das instituições; as variáveis do sistema político em análise; o fluxo de comunicação política; os perfis das elites e o movimento das massas.

Começando pela virtualidade política, esta ganhou considerável dimensão a partir do advento da internet e das redes sociais. Milhões de internautas definem o universo do “aparente” e interagem com o mesmo no cotidiano, criando “fatos e versões” que consolidam um ideal político.

A realidade política, acessada por meio desse mesmo instrumental da internet, permite a construção do universo do “real”, com o qual milhões de internautas interagem criando fatos e versões que consolidam um realismo político.

No campo invisível, os bastidores constituem o universo fugaz e mutante das tentativas de articulações e criações do processo decisório, sendo, por si só, um laboratório heurístico, onde atuam atores das esferas estatal e societária e de grupos de interesses nacionais e supranacionais. Uma boa imagem representativa dos bastidores é o “iceberg”, que mostra seu topo, mas oculta sua massa principal, tornando-se, por esse capricho, o campo que mais curiosidade desperta nos repórteres e analistas políticos e mais sensível a especulações.

Os cenários prospectivos, projetados com base na seleção de eventos futuros, a partir da avaliação das conjunturas interna e externa e com aplicação da análise probabilística, permitem definir objetivos políticos e respectivas estratégias - o planejamento da ação política -, tornando-se excelentes recursos para a elaboração de programas e planos de governo. No Brasil, a Escola Superior de Guerra é pioneira nesse trabalho e repassou sua experiência para vários países da América Latina.

As instituições políticas ordenam e comandam o processo de conquista e manutenção do poder resultante das interligações e interações entre atores e órgãos políticos (variáveis). A Constituição, a tripartição de poderes, o processo legislativo, a comunicação política, a forma federativa, o sistema de governo, o regime de governo, o sistema representativo, o sistema eleitoral, o sistema partidário, etc., são algumas das principais instituições e variáveis do sistema político como um todo.

Os perfis das elites e o movimento das massas (e aqui emprego essa expressão plural para elite e massa, concordando cientificamente com as concepções de Gramsci e da Escola de Frankfurt, embora considere válidas as concepções mais tradicionais de Mosca e Pareto com tais expressões singularizadas, mais aplicáveis ao período anterior à “cultura de massa”) constituem o cerne da dominação política, seja numa perspectiva nacional, seja numa perspectiva global ou cosmopolita.

Identificar e qualificar as elites, pelo seu tipo de circulação (horizontal ou vertical), e interpretar e fixar o pensamento comum das mesmas (o pensamento dominante), em função do movimento das massas, é o meio de se estabelecer a ideologia dominante adequada a cada uma das quatro etapas do desenvolvimento da sociedade, sugeridas de forma quase algorítmica pela Política Comparada: a) Identificação das lideranças modernizante; b) Fixação das lideranças modernizantes; c) Disseminação da liderança modernizante, e d) Promoção da interação social.

Por último, cabe destacar a importância da comunicação política (o conjunto de informações circulantes no sistema político e condicionadoras das ofertas e demandas do sistema, como define Panebianco). Curtos-circuitos nesse processo podem gerar a entropia (o desarranjo interno) do sistema político e o conflito entre governante e governados.

Curiosa a interpretação que Semama dá à comunicação, não como veículo cultural, mas, sim, como a própria cultura em si, e o relacionamento entre poder e informação –observa- é confirmado pelo fato de que “a medida da entropia é expressa do mesmo modo na mecânica estatística e na informática, tendo-se descoberto que a medida do conteúdo de informações de uma mensagem, membro de um determinado conjunto, é igual ao logaritmo da sua probabilidade de ocorrência.” (“Linguagem e Poder”, UnB, 1981).

Por esse prisma, a complexidade e amplitude dos meios de comunicação desta sociedade global não constituem veículos, mas, a própria cultura global, o que se coaduna com a massificação política e polariza radicalmente os universos do visível e invisível da política, criando, a meu ver, condições para um verdadeiro “big-bang” político universal, com a “reformatação” negativa de várias instituições relacionadas moral e eticamente à liberdade humana. 

Um comentário:

  1. Caro Feichas,
    Quando você menciona o big bang como reformatação, você estaria apontando como possibilidade a falência do Estado Nacional como conhecemos hoje?
    Falência devido a) incapacidade de dar tratamento local a problemas globais; b) ineficácia e ineficiência administrativa;
    Não estamos caminhando para o Estado Globalizado, capaz de a) dar respostas globais a problemas globais e b) Ser administrativamente mais eficiente (ganho de escala)?
    Abraço

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