segunda-feira, 28 de julho de 2014

O Brasil como enigma político


Não perco tempo comentando em excesso os resultados de pesquisas de intenções de voto para as eleições de outubro, as quais, até aqui, têm mostrado a resiliência da Presidente Dilma Rousseff na dianteira, mesmo com projeções para a realização de segundo turno. Dilma tem 38% contra 22% de Aécio e 8% de Eduardo Campos. O assistencialismo oficial e a popularidade da Presidente parecem garantir essa sua vantagem, a menos que haja algum fato novo.

Acho mais producente comentar as  pesquisas a partir de setembro, quando o cenário estará mais clareado entre Dilma e seu desafiante Aécio Neves, o voto se tornará mais “útil” e os 32 partidos já estarão com suas alianças regionais e federais definidas para as eleições parlamentares.

 O fato marcante até aqui é a falta de uma opção verdadeiramente de mudanças, de ruptura com o atual estado de coisas na política brasileira, marcada pela debilidade das instituições jurídicas (visivelmente atreladas às esquerdas), a irresponsabilidade no trato da coisa pública, a corrupção política e restrições democráticas, com o crescente controle das redes sociais. Alguém duvida de que os black-blocks estão a serviço do Planalto  para desmoralizar qualquer mobilização de rua contra o governo?

Essa democracia mitigada desmobilizante incomoda os partidários  do debate e da diversidade ideológica, e tende a ser cada vez mais diminuída, à medida em que o quadro político internacional  registra  o recrudescimento do terror no Oriente Médio e no Leste Europeu, com as  escaramuças entre Israel e o grupo Hammas, as tensões no Iraque e na Síria e a luta separatista na Ucrânia, agravada pelo abate do avião da Malaysia Airlines com 298 passageiros pelas forças obedientes a Vladimir Putin, um dos líderes que selaram junto com Dilma a fundação dos BRICS em Fortaleza.

Li recente análise sobre a inércia da Europa Ocidental em relação aos conflitos que ameaçam a paz mundial, inércia que dificulta a eficácia dos esforços dos Estados Unidos para a estabilização política e que torna quase que patético o apelo do Papa Francisco em favor da paz. Na América Latina, há inquietantes sinais de ameaças à democracia por conta da situação econômica e social dos países “bolivarianos”, entre os quais a Argentina, a Venezuela, a Colômbia e a Bolívia. São persistentes as articulações e ações vinculadas ao Fórum das Américas para supressão das franquias democráticas no Brasil e alhures.

Samuel Huntington, o cientista político dos Estados Unidos de maior renome acadêmico, previu o choque das civilizações neste século, uma teoria segundo a qual as identidades culturais e religiosas dos povos serviriam de combustível para os conflitos mundiais que darão margem à reconstrução de nova ordem. Em 1993, surgiu com essa teoria e foi criticado por muitos analistas como exagerado. Mas, podemos verificar hoje que as atrocidades humanas estão pautadas por esse choque e manipuladas em todos os continentes por interesses políticos e econômicos.

Esse quadro mundial vai transformando o Brasil num protagonista potencialmente enigmático, à semelhança da Índia, que ninguém sabe para onde vai, nos estudos de política comparada, mas com algumas diferenças: O Brasil, civilização infantil, é cristão e presidencialista e flerta com o Socialismo. A Índia , civilização milenar,é plurirreligiosa, parlamentarista e cultiva seu regime de castas.

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