Adriano Benayon*
1.
Nova e profunda crise abate-se sobre o povo brasileiro, enquanto seus fabulosos
recursos minerais e a produção agropecuária são exportados a preço vil.
2.
Aumentam os lucros reais dos carteis no País, e os salários caem, com a alta
dos preços e a elevação das tarifas dos degradados serviços públicos. Os
empregos desaparecem, especialmente os qualificados.
3.
O povo, atado em novas armadilhas, é condenado à pobreza e ao subdesenvolvimento permanentes. As pessoas
sentem o baque, cada vez mais forte, pois os concentradores financeiros exigem
arrochos do governo, diante, inclusive, do desequilíbrio nas transações correntes
com o exterior, acima de US$ 90 bilhões/ano.
4.
Desorientado pela grande mídia, o público sofre e ignora que as desgraças,
agora mais nítidas, decorrem da estrutura de mercado formada ao longo de 60
anos, concentrada e desnacionalizada.
5.
Os próprios causadores disso aproveitam-se
do descontentamento para assestar mais um golpe sobre as vítimas, condicionadas a ver na corrupção o
maior problema do País. Elas não percebem que os desnacionalizadores comandam a
mega-corrupção, a sistêmica.
6.
Com o objetivo de apropriar-se, ao custo mais baixo possível, da exploração das
reservas de petróleo da Petrobrás - de 200 bilhões de barris, uma das três
maiores do mundo - o cartel
transnacional do petróleo dirige os ataques da mídia contra a estatal.
7.
O caminho passa por enfraquecer a Petrobrás e as empresas nacionais de
engenharia. Assim, fragilizam a economia, já combalida, e,
juntamente com ela, a atual presidente,
podendo derrubá-la em favor de alguém convictamente vinculado aos
concentradores estrangeiros.
8.
A enviesada campanha mediática
transparece nos editoriais do Globo, contumaz
promotor da desnacionalização - a
reclamar a revogação das leis que
asseguram à Petrobrás parte da exploração do Pré-Sal, e exigir contratos de
concessão.
9.
Os vazamentos de informações da “Lavajato” são ilegais e seletivos, abusados
pela mídia corruptíssima. Nas licitações
e encomendas da Petrobrás só estão sendo investigados ou trazidos à tona os
delitos cometidos na era PT.
10.
A grande mídia oculta, ademais, que os envolvidos ingressaram na Petrobrás pelas mãos do governo do PSDB, quando
já cometiam seus crimes.
11.
É imperioso cessar as nomeações políticas na Petrobrás, e isso exigirá um
sistema político no qual o dinheiro e as TVs comerciais deixem de ser os fatores
preponderantes das eleições.
12.
Enquanto isso não ocorre, a atual presidente teria de impor medidas de
emergência para recuperar a estatal (tarefa tecnicamente fácil) e só o poderia
fazer apoiada em expressivas manifestações populares. Ou seja: estas têm de ser conscientes e não
teleguiadas por golpistas a serviço do império.
13.
São também necessários os acordos de leniência com as empresas de engenharia,
sobre as quais se têm lançado os raios fulminantes da Operação “Lavajato”. As
ações dos falsos moralistas conduzem a: 1) a entrega do mercado brasileiro a
empreiteiras estrangeiras; 2) o desemprego em massa, já em curso.
14.
Afora esses resultados e de abalar indevidamente o crédito da Petrobrás, a
Lavajato, como tem sido conduzida, abusa de ilegalidades.
15.
É contra a Lei manter presos diretores das empresas de engenharia, para
forçá-los a confissões e delações. A delação premiada é condenável, pois dá
vantagens imorais a corruptos contumazes, e desnecessária: a Polícia Federal e
o MP têm meios técnicos para apurar os fatos, sem recorrer a esse expediente.
16.
Há que punir os diretores e gerentes, cuja culpa for provada, mas tirar as
empresas do mercado é um tiro no pé do País.
Ademais, os acordos em nada obstam a punição dos responsáveis, nem a
imposição de multas adequadas às empresas, além de fazê-las ressarcir os
sobrepreços.
17.
Em suma, nosso povo precisa entender que a maior das corrupções e fonte das
demais é a corrupção sistêmica, intrínseca ao modelo desnacionalizante e
concentrador.
18.
Como mostra Paulo Cesar Lima, a Petrobrás tinha tudo para entrar numa era de
grandes resultados financeiros, não fosse a operação Lavajato. Então, é o modo
como esta se realiza que a impede de colher os frutos suas magníficas
descobertas de reservas.
19.
Ele assinala que os custos de extração do pré-sal são inferiores a US$ 20 por barril. Ora, o
valor da produção supera US$ 50, mesmo
com os preços, neste momento, deprimidos pela pressão da agressiva geopolítica
dos EUA. Lima aponta também: “de
2005 a 2014, o preço médio de realização da gasolina nas refinarias da
Petrobras foi de R$ 1,085; no porto de Nova Iorque, R$ 1,207.”
20.
A Petrobrás ainda importa mais de 20% do petróleo e derivados consumidos no
Brasil. Com a forte queda dos preços mundiais, ela não mais arca com os
prejuízos que contribuíram para
causar-lhe perdas de R$ 60 bilhões, segundo Silvio Sinedino da AEPET, forçada,
durante anos, pelo governo a reajustar derivados abaixo da inflação geral.
21.
Tudo isso demonstra a inverdade de apresentar a Petrobrás como problema, quando
ela é a principal joia da coroa. Seu aparente enfraquecimento é artificial e
armado por inimigos do País.
22.
A Agência de risco Moody’s calcula as dívidas da Petrobrás em US$ 137 bilhões
(US$ 110 bilhões com credores
privados). R$ 40 bilhões seriam devidos
ao BNDES. A dívida para 2015 (US$ 14 bilhões) é facilmente administrável.
23.
Ora, além de pouco expressivas em relação ao patrimônio - subavaliado pelo
“mercado” - as dívidas pouco significam
independentemente de prazos e juros. Ambos caem substancialmente, se o crédito
da empresa se recuperar da degradação, advinda da ação combinada do cartel
mundial, da grande mídia e autoridades movidas por conceitos enganosos.
24. A Petrobrás tem tido receitas anuais de R$
300 bilhões. Ademais, embora descapitalizada pela política de preços,
determinada pelo governo, a estatal adquiriu grande quantidade de blocos, além
de investir pesado na exploração. Com isso, só no pré-sal, já produz acima de 800 barris diários.
25.
Ela investe 100 bilhões de reais por ano, opera 326 navios, 35.000 quilômetros
de dutos, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de petróleo. Fez
ressurgir a indústria naval, com aumento de 2 mil empregados para 85 mil.
26.
Para que a Petrobrás seja reconhecida como mais que viável só precisa pôr ordem em sua administração, inclusive
expurgando os imperiais infiltrados desde os anos 90. E basta o Tesouro, como principal acionista,
sinalizar que fará, se necessário, novos aportes de capital, que lhe renderão
incalculáveis ganhos a curto, médio e longo prazos.
27.
É isso que tem de fazer o governo, se não quiser cometer suicídio e
simplesmente entregar o País inteiro. Quanto mais ceder à chantagem mais se
debilitará.
28.
A falsa crise torna-se real, à medida que o governo se deixa acuar, e a
Petrobrás desiste de rentáveis projetos produtivos. Ridiculamente, proibida de captar recursos no mercado
financeiro, por falta de publicação do balanço auditado do 3º semestre
de 2014, a empresa tem evitado contratações e reduzido os investimentos em
projetos contratados.
29.
Em suma, a passagem da miséria para a riqueza, e a da humilhação para a
dignidade, depende apenas da percepção dos fatos e de coragem.
30.
Explica Geraldo Samor que as perdas
devidas às propinas ocorrem nos últimos
19 anos, desde os desmontes de FHC, quando nomeou diretores da Petrobrás P.R.
Costa (PRC), Duque, Barusco,etc., desde 1996, ligados a políticos. Eles receberam valores ilícitos (3%), entre
1996 e 2003, em parte repassados a partidos.
31.
Algum dinheiro captado por PRC já foi repatriado de bancos suíços, e outros
o estariam sendo pela ação da Justiça do Paraná. Nesse Estado foram operadas pelo BANESTADO, já nos
anos 90, as escandalosas contas CC5
instituídas pelo BACEN, na gestão Gustavo Loyola, FHC.
32.
Recorda Samor que a CPI do BANESTADO investigou desvios de R$ 150 bilhões de
reais, por 61 políticos e 30 colaboradores internos. A CPI teve muita
dificuldade para prosseguir entre 2001 e 2003, até a prisão do doleiro Alberto
Youssef pelo delegado Protógenes, relaxada em 2001 por decurso de prazo e
morosidade no Judiciário.
33.
Permanece funcionando a rede de proteção criada por FHC, para garantir a
lavagem do dinheiro de propinas a políticos coniventes com as privatizações: de
empresas de energia; petroquímicas
pertencentes ao Grupo Petrobrás; telecomunicações; siderurgia; mineração.
34.
Completando o lastimável cenário, o COPOM/BACEN elevou, em 04.03.2015, de novo,
a taxa de juros dos títulos do Tesouro (SELIC), agora 12,75% aa. A taxa
efetiva é, na média, 3 pontos ainda maior.
Moderadíssima queda de 5 pontos faria o Tesouro economizar R$ 150
bilhões/ano (três vezes o que a Petrobrás deve em 2015).
35.
Se a política não for urgentemente revertida, o País estará em depressão econômica, com sua grande população
- na grande maioria já muito pobre - e
desprovido de infra-estruturas.
Inviável, pois, a estabilidade política: somente, radicalização da falência de qualquer ordem
pública e democrática.
36.
Enquanto não surge o amadurecimento do povo, só se poderiam conter pesadas perdas no curto prazo, com uma, até
agora, inexistente condução política
hábil e firme, por parte do Executivo.
* - Adriano Benayon
é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
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