Jornalista Francisco das Chagas Leite
Filho
OXI,
na Grécia, significa muito mais do que o advérbio de negação. O “NÃO” deles
exprime um sentimento de orgulho e dignidade, que se espelha num exemplo de
bravura de seu governo, em 1941, durante a segunda guerra, diante de um
ultimato de Mussolini. Depois de entender-se com Hitler, o senhor da guerra (o
Führer) e do mundo na época, o Dulce intimou o primeiro ministro e general
Ioannis Metaxas a render-se num prazo de três horas.
Metaxas
e todo o planeta sabiam que as tropas italianas estavam acantonadas na
fronteira com a vizinha Albânia, prontas a atacar. Sucinto, o premiê enviou-lhe
a resposta num telegrama expressa numa única palavra: OXI. Na guerra que se
seguiu, a Grécia, comandada por Metaxas e com forças nitidamente inferiores às
do inimigo, aplica, com a ajuda do povo, uma solene e desmoralizante derrota ao
Dulce. A partir dali, o exercito fascista italiano virou motivo de chacotas,
que persiste até hoje. É por isso que todo ano, os gregos comemoram o “Dia do
Não” (OXI), todo 28 de outubro, com celebrações populares em todo o país.
Foi
com este sentimento e expressando o ultraje grego sofrido nos últimos cinco
anos de opressão da Troika, FMI, Banco Cenrtral Europeu e União Europeia, que o
atual premiê, o jovem Aléxis Tsipras, de 40 anos, exortou a população a dizer
outro sonoro OXI ao que seria um novo pacote econômico. Tal pacote imporia
outras pilhagens às já malbaratadas finanças nacionais, cujo PIB caiu 25% por
causa das medidas anteriores adotadas desde 2010.
Líder
da Coalizão Syriza, que em grego significa Esquerda Radical, num esforço para
diferenciar-se da desmoralizada esquerda europeia, que hoje se transformou no
braço direito do FMI e do neoliberalismo, Tsípras afrontou o medo e o desânimo
que o aparato midiático universal, além do grego, obviamente, tentou injetar na
população: as grandes redes de TV e de internet passaram a anunciar que se o
OXI ganhasse o país ficaria sem gasolina, sem comida e sem crédito, porque a
Europa a excluiria da zona do Euro. Mentira para boi dormir que não impressionou
os gregos: 61% disseram OXI as propostas, que eles sabiam muito bem tratar-se
de imposições, da Europara para subjugar o governo grego.
Como
o governo Tsipras está agora reforçado com o apoio popular advindo do
referendo, a Europa, que teme a debandada da Espanha, através do Partido
Podemos, e de um efeito contágio que ainda poderia levar a rebeldia à Itália,
Irlanda, Portugal e talvez a própria França, com o “socialista” François
Hollande e tudo, vai ter, necessariamente, de fazer concessões importantes à
Grécia. Estas concessões deverão dar alívio ao país para crescer, a exemplo do
que os credores europeus e americanos tiveram de fazer com o governo Kirchner,
da Argentina, em 2005: aceitaram um perdão da dívida de 75%, em troca do
pagamento assegurado dos 25% restantes.
O
importante a assinalar, aqui, é não apenas a destemor, mas sobretudo a
estratégia de estado maior que adotou Tsipras, um engenheiro civil de
profissão. Para vencer o temeroso aparato econômico-midiático, jogado com todo
o seu peso sobre o referendo, através do apoio decidido não só da União
Europeia como dos Estados Unidos, a superpotência mundial, Tsípras teve de
usar, nesta batalha eleitoral, táticas tão dissuasivas como as de seu remoto
antecessor Metaxas na guerra literal. Recorde-se que ele anunciou a medida num
pronunciamento ocorrido depois da zero hora de 26 de junho, quando a Grécia e a
Europa ainda estava dormindo e poucas horas depois de ter recebido uma nova
chantagem da Grécia, numa reunião a que compareceu, pessoalmente, em Bruxelas,
sede da UE.
O
prazo de realização da consulta foi também curtíssimo: apenas seis dias úteis,
já que se consumaria neste domingo cinco de julho.
Sabedor
da onda de boatos e ameaças que desataria sua decisão, os quais poderiam
desembocar numa corrida bancária e no desabastecimento, o premiê demonstrou ser
um líder em completo controle da política, da administração e da política
externa. Primeiro, determinou o feriado bancário indeterminado, depois limitou
os saques diários nos caixas eletrônicos em 60 euros (lembre-se que na
Argentina do corralito, o limite era uma retirada semanal de 250 pesos, moeda
já então desvalorizada em mais de 50% frente ao dólar, além do sequestro de
todas contas correntes e de poupança, o que não aconteceu na Grécia de
Tsípras).
Para
contrabalançar as limitações financeiras da população, o governo também
autorizou o transporte público gratuito e a abertura normal do comércio. Com
isso, ele evitou que a mídia semeasse o pânico e foi aos poucos obtendo o apoio
da população, que não saiu depredando e saqueando lojas e bancos, como ocorreu
na Argentina do corralito, em 2001. Nos primeiros dias, já se tinha nítida
noção da vitória do OXI, apesar da manipulação clássica dos institutos de
opinião, os quais, para potenciar sua política de incitar o medo, recorreu sua
velha tática de estuprar a matemática. Três dias antes do referendo, chegaram a
dar uma vitória de 1,8% do NAI (sim) sobre o OXI, enquanto as quatro cadeias de
TV anunciavam uma pesquisa de boca de urna de que havia uma “leve”, o que
implicava empate técnico, preponderância do OXI. Tudo em vão, tudo mentira.
Prevaleceu o OXI, com, até o término desse post, às 17:28 horas 61%, contra 39%
do NAI.
OXI,
na Grécia, significa muito mais do que o advérbio de negação. O “NÃO” deles
exprime um sentimento de orgulho e dignidade, que se espelha num exemplo de
bravura de seu governo, em 1941, durante a segunda guerra, diante de um
ultimato de Mussolini. Depois de entender-se com Hitler, o senhor da guerra (o
Führer) e do mundo na época, o Dulce intimou o primeiro ministro e general
Ioannis Metaxas a render-se num prazo de três horas.
Metaxas
e todo o planeta sabiam que as tropas italianas estavam acantonadas na
fronteira com a vizinha Albânia, prontas a atacar. Sucinto, o premiê enviou-lhe
a resposta num telegrama expressa numa única palavra: OXI. Na guerra que se
seguiu, a Grécia, comandada por Metaxas e com forças nitidamente inferiores às
do inimigo, aplica, com a ajuda do povo, uma solene e desmoralizante derrota ao
Dulce. A partir dali, o exercito fascista italiano virou motivo de chacotas,
que persiste até hoje. É por isso que todo ano, os gregos comemoram o “Dia do
Não” (OXI), todo 28 de outubro, com celebrações populares em todo o país.
Foi
com este sentimento e expressando o ultraje grego sofrido nos últimos cinco
anos de opressão da Troika, FMI, Banco Cenrtral Europeu e União Europeia, que o
atual premiê, o jovem Aléxis Tsipras, de 40 anos, exortou a população a dizer
outro sonoro OXI ao que seria um novo pacote econômico. Tal pacote imporia
outras pilhagens às já malbaratadas finanças nacionais, cujo PIB caiu 25% por
causa das medidas anteriores adotadas desde 2010.
Líder
da Coalizão Syriza, que em grego significa Esquerda Radical, num esforço para
diferenciar-se da desmoralizada esquerda europeia, que hoje se transformou no
braço direito do FMI e do neoliberalismo, Tsípras afrontou o medo e o desânimo
que o aparato midiático universal, além do grego, obviamente, tentou injetar na
população: as grandes redes de TV e de internet passaram a anunciar que se o
OXI ganhasse o país ficaria sem gasolina, sem comida e sem crédito, porque a
Europa a excluiria da zona do Euro. Mentira para boi dormir que não impressionou
os gregos: 61% disseram OXI as propostas, que eles sabiam muito bem tratar-se
de imposições, da Europara para subjugar o governo grego.
Como
o governo Tsipras está agora reforçado com o apoio popular advindo do
referendo, a Europa, que teme a debandada da Espanha, através do Partido
Podemos, e de um efeito contágio que ainda poderia levar a rebeldia à Itália,
Irlanda, Portugal e talvez a própria França, com o “socialista” François
Hollande e tudo, vai ter, necessariamente, de fazer concessões importantes à
Grécia. Estas concessões deverão dar alívio ao país para crescer, a exemplo do
que os credores europeus e americanos tiveram de fazer com o governo Kirchner,
da Argentina, em 2005: aceitaram um perdão da dívida de 75%, em troca do
pagamento assegurado dos 25% restantes.
O
importante a assinalar, aqui, é não apenas a destemor, mas sobretudo a
estratégia de estado maior que adotou Tsipras, um engenheiro civil de
profissão. Para vencer o temeroso aparato econômico-midiático, jogado com todo
o seu peso sobre o referendo, através do apoio decidido não só da União
Europeia como dos Estados Unidos, a superpotência mundial, Tsípras teve de
usar, nesta batalha eleitoral, táticas tão dissuasivas como as de seu remoto
antecessor Metaxas na guerra literal. Recorde-se que ele anunciou a medida num
pronunciamento ocorrido depois da zero hora de 26 de junho, quando a Grécia e a
Europa ainda estava dormindo e poucas horas depois de ter recebido uma nova
chantagem da Grécia, numa reunião a que compareceu, pessoalmente, em Bruxelas,
sede da UE.
O
prazo de realização da consulta foi também curtíssimo: apenas seis dias úteis,
já que se consumaria neste domingo cinco de julho.
Sabedor
da onda de boatos e ameaças que desataria sua decisão, os quais poderiam
desembocar numa corrida bancária e no desabastecimento, o premiê demonstrou ser
um líder em completo controle da política, da administração e da política
externa. Primeiro, determinou o feriado bancário indeterminado, depois limitou
os saques diários nos caixas eletrônicos em 60 euros (lembre-se que na
Argentina do corralito, o limite era uma retirada semanal de 250 pesos, moeda
já então desvalorizada em mais de 50% frente ao dólar, além do sequestro de
todas contas correntes e de poupança, o que não aconteceu na Grécia de
Tsípras).
Para
contrabalançar as limitações financeiras da população, o governo também
autorizou o transporte público gratuito e a abertura normal do comércio. Com
isso, ele evitou que a mídia semeasse o pânico e foi aos poucos obtendo o apoio
da população, que não saiu depredando e saqueando lojas e bancos, como ocorreu
na Argentina do corralito, em 2001. Nos primeiros dias, já se tinha nítida
noção da vitória do OXI, apesar da manipulação clássica dos institutos de
opinião, os quais, para potenciar sua política de incitar o medo, recorreu sua
velha tática de estuprar a matemática. Três dias antes do referendo, chegaram a
dar uma vitória de 1,8% do NAI (sim) sobre o OXI, enquanto as quatro cadeias de
TV anunciavam uma pesquisa de boca de urna de que havia uma “leve”, o que
implicava empate técnico, preponderância do OXI. Tudo em vão, tudo mentira.
Prevaleceu o OXI, com, até o término desse post, às 17:28 horas 61%, contra 39%
do NAI.
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