Os subterrâneos da política escondem
coisas que a sociedade não vê. Isso se aplica não somente à Política como arena
eleitoral e partidária do sistema representativo, mas, ainda à Política como
esfera de atuação do Estado para concepção e implementação das políticas
públicas.
A Presidente Dilma Rousseff foi
aos Estados Unidos, recebeu as honras de Chefe de Governo e Chefe de Estado do
Presidente Obama, assinou documentos de cooperação bilateral e pronunciou “boutade” como aquela que qualifica a
mandioca como conquista brasileira.Pode ser que a boutade da mandioca lançada pela Presidente Dilma signifique muito mais do que aparenta... Os gaúchos têm um ditado:"Se a água da lagoa se mexe, é porque a traíra é grande."
E Washington, nada boba, tratou a
visitante como se ela não apresentasse atualmente índice tão alto (cerca de
65%) de rejeição popular ao seu governo, conforme os institutos de pesquisa.
E por que a Presidenta Dilma
Rousseff ainda não caiu? Não caiu porque existe em política o efeito inercial
de alta e queda da popularidade do governante, pois a comunicação política –conjunto
de mensagens que circulam pelo sistema
político condicionando as ofertas e demandas do sistema – ainda não comprometeu
a governabilidade, cuja equação é legitimidade
+ eficácia. A eficácia de Dilma é
baixa e compromete cada vez mais sua legitimidade.
A comunicação política, que gera
a entropia e perda de governabilidade, quando os curtos-circuitos se tornam
inevitáveis, ainda mantem Dilma no poder por causa do parlamentarismo branco
que se instalou no Congresso Nacional, onde o presidente do Senado Federal, senador
Renan Calheiros, e o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha,
atuam como principais protagonistas do poder político, garantindo os fluídos da
decisão política aos seus patamares mínimos de consentimento das massas.
O ex-presidente Lula ainda tem
força eleitoral e capacidade de aplacar a ira de boa parte da sociedade, sendo
o maior eleitor do Partido dos Trabalhadores. Essa força é que segura o avanço
do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-, ao qual pertence o
vice-presidente da República e articulador parlamentar do Planalto Michel
Temer.
Em suma, o processo legislativo continua
funcionando aos trancos e barrancos, ainda cumprindo seu papel de eixo do equilíbrio
político-institucional. Nos Estados Unidos, esse frágil equilíbrio é
importante e é de seu interesse, no momento, que não seja rompido em nome de uma mudança de êxito incerto que só perturbaria os últimos meses dos democratas na Casa Branca. Eis porque os Estados Unidos receberam a “ex-guerrilheira” Dilma Rousseff
sem torcer o nariz, ainda mais depois que Washington suspendeu seus embargos a
Cuba.
Seria o fim do conflito
ideológico nas Américas? Evidente que
não. As relações entre os Estados Unidos
e países como Argentina, Chile e Venezuela continuam em regime de “low profile”,
não tendo surgido nenhum projeto de impacto para marcar uma nova fase de
relações bilaterais com os mesmos.
Pouco se comentou o preço que
Washington cobrará para apoiar o governo de Dilma, evitando a ruptura
político-institucional. Mas, o portifólio brasileiro é variado, e vai dos
campos de petróleo do pré-sal ao envolvimento do Brasil com os BRICs, em
especial com a China, que tem feito vultosos investimentos no Brasil– esse um
fator de real preocupação para os Estados Unidos. E os democrata preferem que Dilma não saia até 2017, quando termina o mandato de Obama.
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