Por
Francisco das Chagas Leite Filho
Os
jornalões trombeteiam nova pesquisa encomendada por uma dessas confederações
patronais sobre a popularidade da presidenta Dilma Rousseff. Será que, dessa
vez, vão rebaixá-la a zero? Claro que não. A sanha persecutória é para
sangrá-la lenta e penosamente. E do zero, não há como baixar mais.
Vão tirar um
ou dois pontos, na incansável tentativa de fustigá-la, alimentando o noticiário
negativo diuturno contra o governo.
Seja
como for, apesar de seus erros crassos nas projeções (o último foi na
Argentina, quando tentou abater o candidato de Cristina Kirchner, Daniel
Scioli), os institutos de pesquisas continuam deitando falação, servindo de
instrumentos do poder econômico para minar as instituições e as propostas
progressistas de poder.
A
estratégia é conhecida. Primeiro, eles inflam candidatos cevados nos
laboratórios midiáticos, tipo Marina, Aécio, Serra, ao longo das campanhas
eleitorais, para fraudar a vontade do eleitor. Veja-se o caso de Haddad, cuja
candidatura a prefeito de São Paulo, 2012, surgida com grande grau de
competitividade, era sempre empurrado para baixo com 4%, enquanto o candidato
empombado dos meios de comunicação, José Serra, disparava como virtual
vencedor. O resultado da eleição foi uma derrota fragorosa do então
todo-poderoso Serra.
Depois, derrotados como foram por Dilma, em 2014, os
institutos lançam pesquisas fajutas para minar e desmoralizar seu governo. As
últimas sondagens do Datafolha e do Ibope, apontam a popularidade da presidenta
como estando em 8% e 9%, respectivamente. Por que ninguém diz que FHC teve 8%,
em 1999, como lembra Marcos Coimbra, colunista da Carta Capital e presidente do
Vox Populi, hoje funcionando como uma espécie de agência alternativa?
Eu,
com a modéstia vivência de vir denunciando os grandes institutos de pesquisa
desde as manipulações que fizeram contra a candidatura de Leonel Brizola, em
1989, tive uma experiência pessoal em constatar o embuste dessas pesquisas.
Quando cheguei a Buenos Aires, em fins de 2011, os ibopes argentinos (cujos
dados são via de regra semelhantes, porque trabalham como um cartel), apontavam
o prestígio da presidenta Cristina Kirchner como estando abaixo de 19%. Um ano
e pouco depois Cristina ganhava a reeleição, com 54,11%, deixando na rabeira seus
adversários, os quais juntos, mal chegavam à metade de seus votos.
Na última
reeleição de Hugo Chávez, da Venezuela, em 2012, esses institutos chegaram ao
desplante de anunciar a vitória do candidato Henrique Capriles quando
apresentaram suas pesquisas de boca de urna. Novamente, os resultados oficiais
desmontaram a farsa: Chávez ganhou com 54,42% dos votos (7.444.082), contra
44,97% (6.151.544) de Carpiles.
A
verdade é que os institutos de pesquisa manipulam grosseiramente suas
sondagens, as quais, matematicamente, podem acertar, mas como são distorcidas
para atender a interesses de quem lhes paga ou os controla, sempre dão com os
burros n’agua. A mesma tática de assédio aos governos progressistas ocorre com
as chamadas agências de medidoras do risco país, outro braço do sistema
econômico, para, junto com a mídia, implodir governos indesejáveis e levantar
regimes dóceis ao capitalismo selvagem e seu séquito de desemprego, arrocho
salarial e dilapidação da máquina pública.
Agora,
por exemplo, se fez um estardalhaço com o relatório da Standard & Poor’s,
que rebaixou o desempenho do atual governo, do grau BBB (bom pagador) para o
grau BB (mais ou menos bom pagador). Tampouco ninguém se lembrou que o governo
pró-midiático FHC foi rebaixado, em 1999, não de BBB para BB, mas de BB para B+
(mal pagador).
Vivemos
uma época de mistificação das mais torpes e que levou o escritor uruguaio
Eduardo Galeano, recentemente falecido, a constatar que, para entender as
coisas, é preciso ver tudo ao revés. Decididamente, as pesquisas estão aí para
potenciar a cadeia do pessimismo e do medo, tão predatório quanto
inconsequente.
A felicidade é que, ultimamente, eles estão fraquejando em
atingir seu alvo, que é a ruptura do processo constitucional que elegeu
democraticamente a atual presidenta da República (a prova está na robustez de
regimes populares como a Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua).
Em crise com a própria decadência econômica e o cerco implacável da internet,
para não falar questionamentos cada vez mais amplos em torno do maltrato à
informação, as pesquisas e a mídia também, as Standard & Poor’s enfrentam
um esvaziamento progressivo em seu antigo poder sobre as mentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário