Adriano
Benayon *
Defino
o capitalismo como um sistema econômico e político no qual capitais privados
vão sendo cada vez mais concentrados nas mãos de poucos oligarcas
dominantes. Isso lhes permite conquistar
não só as grandes empresas financeiras e produtivas, mas também o Estado.
2.
Isso acontece sob regimes abertamente fascistas e também sob regimes
aparentemente democráticos, em que o dinheiro e a mídia, a serviço dos
oligarcas, controlam o sistema político e o resultado das eleições.
3.
O capitalismo nos países centrais, mercê notadamente de guerras que envolveram
os aspirantes à hegemonia, tornou-se, ao longo dos últimos 350 anos, um sistema
de poder mundial, sob a hegemonia do capitalismo britânico, que depois
consolidou sua associação com o norte-americano, formando o império
angloamericano.
4.
Atualmente, restam duas potências não subordinadas ao império, China e Rússia,
capazes de propiciar equilíbrio na balança do poder mundial. Sem esse
equilíbrio, não há como país algum, no mundo, desenvolver-se.
5.
Veja-se a anomia prevalente no cenário mundial, do início dos anos 1990 até há
pouco, período em que o império angloamericano cometeu colossais genocídios: na Iugoslávia, seguindo-se Iraque, Afeganistão, novamente
Iraque, Líbia, para citar só alguns. Agora, em pauta, a Síria.
6.
O auge da tirania imperial corresponde no Brasil aos governos Collor e FHC. Na
Argentina, ao de Menem, e mais exemplos vergonhosos mundo afora.
7.
O enfraquecimento e dissolução da União Soviética haviam deixado o planeta à
mercê do império, secundado por seus satélites.
8.
Mas a China vem ganhando poder em todos os campos, e a Rússia reafirma-se como
potência nuclear e balística de grande porte.
9.
Isso lhes dá autonomia nas decisões políticas e econômicas, e limita um pouco a
tirania exercida pelo império angloamericano em âmbito global.
10.
Se se tivessem mantido abertos à influência do
império, não teriam alcançado o status de potências mundiais. Para
tanto, precisaram de regime centralizado e fechado
11.
As histórias da Coreia do Sul e de Taiwan ilustram a mesma constatação: para se
desenvolverem, tiveram governos militares
nacionalistas, devido a circunstâncias especiais: a presença do comunismo na China e na Coreia
do Norte, com apoio do Exército Vermelho da China de Mao Dze Dong. Este havia
empurrado os partidários de Chiang Kai Chek para Taiwan (Formosa), onde se
instalaram sob a proteção da esquadra norte-americana.
12.
Em suma, os EUA precisavam deixar fortalecer-se aqueles dois países, empobrecidos
pela exploração colonial e pela ocupação japonesa, além de devastados por
guerras, antes e durante a 2ª Guerra Mundial. Do contrário, seus povos seriam
reunidos a seus compatriotas sob governos comunistas.
13.
Em nossa história, como na da Argentina,
houve progressos para o desenvolvimento, exatamente sob regimes
autoritários, no período entre-guerras da 1ª metade do Século XX e durante a 2ª
Guerra Mundial.
14.
O senador Severo Gomes, desaparecido no mar, em 1992, comentava que a arrancada
para o desenvolvimento da Argentina e do Brasil fora possível graças ao
relativo isolamento comercial propiciado pela 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e
pela depressão dos anos 1930, seguida da 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
15.
A melhora das estruturas econômica e social só se pode realizar sob condições
de poder central forte, como, no Brasil, as dos anos subsequentes à Revolução
de 1930 e no Estado Novo (1937-1945), mercê da consciência nacionalista do
Exército e da visão esclarecida e
habilidade do presidente Vargas.
16.
Como tenho exposto, Vargas foi injusta e incessantemente acoimado de ditador
por agentes do império, horrorizado com a perspectiva de o País atingir o
desenvolvimento econômico e social.
17.
Por isso não cessavam de injuriar o presidente os adeptos do império
angloamericano, fosse fascinados pela democracia de molde ocidental, fosse a soldo daquele império.
18.
Tive, com frequência, ocasião de trocar ideias com Severo Gomes, empresário
e antigo ministro da Indústria e Comércio
(MIC) no governo do general Geisel.
Também, com outros grandes brasileiros: o general Andrada Serpa, o
físico Bautista Vidal (secretário de Tecnologia Industrial do MIC com Severo
Gomes e criador do Programa do Álcool, Energia da Biomassa), e o Dr. Enéas
Carneiro.
19.
Todos tinham consciência plena de que o desenvolvimento só é possível com
autonomia nacional e que um dos requisitos para esta existir é a autonomia industrial e tecnológica,
inclusive com domínio da energia nuclear
aplicada à defesa.
20.
O que precede significa que, para o Brasil, é vital ter estratégia que:
1)
contemple estarem as potências hegemônicas intervindo permanentemente em nosso
País;
2)
acompanhe a balança do poder em âmbito global, avaliando a medida em que o império se veja obrigado a
concentrar recursos e atenção em outras regiões.
21.
Dado o nosso recuo econômico, financeiro e tecnológico – crescente nos últimos
decênios - a chance de êxito que possa ter o projeto de sobrevivência do País
depende de unir o máximo possível das forças nacionais.
22.
Estas têm sido agudamente divididas em direita e esquerda, ao longo dos últimos
85 anos. O marco foi a Revolução de 1930, a qual abriu a perspectiva de desenvolvimento do País.
23.
Em seguida, o império angloamericano fomentou novos separatismos e passou a
investir mais intensamente em cooptar e corromper locais, notadamente na mídia,
como Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, dono dos Diários Associados, a
maior cadeia jornalística da época.
24.
Já no mandato de Vargas assumido em 1951, indagado Chatô, por que atacava o
presidente e abria total espaço na TV a Carlos Lacerda, seu virulento e
audacioso adversário, respondeu: “se ele desistisse de criar a Petrobrás, eu
passaria apoiá-lo e lhe daria espaço em minha rede de comunicação”.
25.
Outro foi o notório Roberto Marinho, dono de O Globo desde 1931. Esse, desde
1964, recebeu favores oficiais e fartos recursos norte-americanos para
tornar-se dominante na comunicação social.
26.
Mais tarde, o império declarou, através de Henry Kissinger, que não podia
tolerar o surgimento de uma potência no Hemisfério Sul. Assim, foram cavados
profundos fossos ideológicos entre brasileiros e n outros modos de intervenção.
27.
Em 1932, Londres fomentou a falsamente denominada Revolução Constitucionalista,
em São Paulo, que se poderia ter transformado em guerra separatista do Estado
onde a industrialização despontava promissora.
28.
A constitucionalização real veio em 1934, preparada por Vargas desde antes
daquela teleguiada “revolução”. A
insurreição comunista, em 1935, tempo de grande polarização esquerda/direita,
reflexo do cenário europeu antecedente à 2ª Guerra Mundial.
29.
Era muito pequeno o número de operários organizados, e a geopolítica dava
chances nulas de êxito aos comunistas brasileiros: poder naval do império
britânico absoluto no Atlântico Sul, e proximidade dos EUA.
30.
Sendo incipiente o desenvolvimento do poder militar da União Soviética (URSS),
não havia como esta apoiar o levante comunista no Brasil. Ademais, Stalin dava
prioridade à infraestrutura industrial da URSS. Não apostava na revolução
internacional, ao contrário de Trotsky, alijado do poder.
31.
Entre os comandados de Prestes, infiltraram-se agentes do Intelligence Service,
o M16 britânico, e os planos dos ataques eram previamente conhecidos das forças
legalistas.
32.
O resultado da insurreição de 1935 foi exacerbar a polarização ideológica, de
interesse exclusivo do império anglo-americano.
33.
Pior, sua memória tem servido à irracionalidade que faz reprimir, atribuindo-se
lhes ser comunistas, os que se opõem ao império angloamericano ou não fecham os
olhos aos crimes deste.
34.
Seguiu-se o golpe de 1937, que instituiu o Estado Novo, repressor de comunistas
e outros. A geopolítica e a influência da finança angloamericana determinaram a
participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial: bases no Nordeste para as FFAA dos
EUA e envio da Força Expedicionária à Itália, vinculada a comando
norte-americano
35.
Entretanto, o império não hesitou em patrocinar o golpe de 1945 e as
intervenções subsequentes, que prosseguem até
hoje, e vêm logrando seus
objetivos desde agosto de 1954:
a)
desnacionalizar e a desindustrializar o Brasil, impedindo o desenvolvimento de
tecnologias controladas por empresas nacionais, tanto privadas como estatais;
b)
enfraquecer as Forças Armadas e a capacidade estratégica do País, indústrias
básicas, infraestrutura e o domínio da energia nuclear;
c)
desinformar e abaixar o nível de educação dos brasileiros, investindo na
anticultura e na demolição dos valores éticos indispensáveis à evolução de
nação próspera e equilibrada;
36.
Esse processo tem sido realizado não só durante governos claramente
subordinados aos interesses financeiros angloamericanos (Café Filho, JK,
Castello Branco, Collor e FHC).
37.
Também, durante os demais, que, no essencial, cederam às pressões imperiais,
não obstante terem tido, setorialmente, patriotas voltados para o
desenvolvimento nacional.
38.
Destaque-se, ademais, que eleições dependentes de dinheiro grosso e grande
mídia levaram a desastres de origem parlamentar, inclusive a presente Constituição
e emendas.
* - Adriano Benayon
é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
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