quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Militares atentos aos auspícios políticos


Convoquem-se áugures, como na Grécia e Roma antigas, para interpretarem os sinais que apareceram no firmamento político do Brasil, nos últimos quinze dias, e que passaram quase despercebidos pela imprensa e pelos analistas políticos.

Primeiro Sinal: O general-de-exército da reserva Joaquim Silva e Luna foi nomeado, no dia 26 de outubro, para a secretaria- geral do Ministério da Defesa, cujo titular é o deputado Aldo Rebelo, estrela do Partido Comunista do Brasil. O cargo era ocupado por Eva Maria Cella Dal Chiavon, que foi demitida em setembro, quando houve a troca do ministro da Defesa.

Eva, bolivariana fanática, foi pivô do desgaste de Wagner junto às Forças Armadas e da sua substituição na Defesa, por ter induzido a Presidenta Dilma Rousseff a assinar, na ausência de Wagner, que viajava ao exterior, decreto retirando dos comandantes militares a competência para promover oficiais superiores e estabelecer os currículos dos cursos militares.
Um general-de-exército, mesmo na reserva, assumindo o segundo cargo em importância no Ministério da Defesa pode significar que o próximo ministro da Defesa será um militar, o que mudaria o protagonismo dos auspícios do processo de decisão política.

Segundo Sinal: No dia 29 de outubro, foi noticiado que o comandante do Exército, general-de-exército Eduardo Villas Bôas, decidiu exonerar o general-de-exército Antonio Hamilton Martins Mourão, do cargo de comandante militar do Sul, um dos mais estratégicos, porque Mourão criticou os políticos e os governos e conclamou seus colegas de farda para “o despertar de uma luta patriótica”. Do comando de tropas, Mourão foi nomeado para o cargo burocrático de Secretário de Economia e Finanças do Exército em Brasília. 

A exoneração de um general quatro estrelas, com assento no Alto Comando, é ato raro e causa impacto na área militar em geral. A última fora registrada durante o Governo João Figueiredo, quando o general-de-exército Antônio Carlos de Andrada Serpa, que então exercia a chefia do Departamento Geral de Pessoal do Exército, foi exonerado por tecer críticas à desnacionalização da economia brasileira e denunciar o que considerava uma infiltração comunista.

Terceiro Sinal: O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, visitou ontem o 1º Regimento de Cavalaria de Guarda Dragões da Independência,- 1ª RCG-, unidade sediada em Brasília e que vai comemorar 208 anos, em 2016. Na foto abaixo, obtida no site do Comando do Exército (http://www.eb.mil.br/ ),parte do desfile das tropas do RCG:
 

Ali foi recebido com escolta de honra a cavalo acompanhado da sua esposa, pelo Comandante do Exército, General-de -Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas; pelo Chefe do Estado-Maior do Exército (EME), General- de-Exército Sergio Westphalen Etchegoyen; pelo Chefe do Departamento-Geral do Pessoal, General-de-Exército Francisco Carlos Modesto; e pelo Comandante do Regimento, Tenente-Coronel Marcelo Teodoro de Siqueira.
 
Lewandowski, que também acumula a função de Presidente do Conselho Nacional de Justiça, viveu uma manhã diferente. De alguma maneira, ele voltou no tempo, mais precisamente a 1967, quando ingressou no Exército Brasileiro, por meio do Curso Preparatório de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR/SP), e serviu, como Segundo-Tenente, no 17º Regimento de Cavalaria, de Pirassununga.

Em seguida, o grupo assistiu uma demonstração na pista de treinamento do Esquadrão de Choque a Cavalo. Enfrentando explosivos, fogo e obstáculos, os cavalos demonstraram grande preparação em situações extremas. Antes de sair, o Ministro fez questão de cumprimentar o tenente que comandou a apresentação. “Para mim, a cavalaria foi um marco em minha vida e essa visita foi de grande emoção. Ainda guardo comigo os importantes valores que aprendi com o Exército, de respeito aos valores da Pátria, de disciplina e sentimento de servir ao País”, afirmou o Presidente do STF.
Foi a visita do chefe do Poder Judiciário a uma unidade militar, e a mídia não parece ter se impressionado com esse fato extremamente significativo, num momento em que diversos segmentos sociais manifestam sua confiança nas Forças Armadas em sintonia com a sua missão constitucional: A defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Em recente entrevista, o ex-ministro do STF, Célio Borja, afirmou que o único poder atualmente fora de conflito é o Judiciário, enquanto outro ministro do STF, Marco Aurélio Mello, vem pregando, através de entrevistas na mídia, a renúncia coletiva da Presidenta Dilma Rousseff e do Vice-Presidente Michel Temer, e do  presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, os três  pertencentes à sequência da cadeia sucessória e engolfados diretamente na insatisfação popular. O presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, quarto na linha sucessória, sofre as restrições do humor popular que fustigam o Poder Legislativo.
Numa semana em que a oposição e os defensores do impeachment de Dilma tentam paralisar o País através de uma greve geral dos caminhoneiros, a visita de Lewandowski a um quartel, onde exalta os valores castrenses, pode significar tanto um pré-aval do Poder Judiciário  às Forças Armadas para a ação que se fizer necessária para a salvaguarda  da ordem, quanto uma espécie de garantia de que o Judiciário não será leniente com os criminosos que infestam o País.
Os comandos militares aperfeiçoaram seu sistema de comunicação social e de informação para o público interno, publicando diariamente resenhas sobre os principais temas nacionais, resenhas estas elaboradas mediante critérios rigorosamente jornalísticos. Os militares acompanham, nos mínimos detalhes, os fatos e análises publicados na mídia impressa e eletrônica e nas redes sociais, solidificando seu senso crítico sobre a conjuntura nacional e internacional. Se convocados, por iniciativa de algum poder, estarão prontos para a ação.
 

 

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