Em meio a enxurrada de denúncias, depoimentos,
delações e prisões na área política e empresarial, que criam clima de
expectativas de mudança do poder, com limpeza moral e ética da política, o
Brasil se prepara para assistir neste domingo manifestações em, pelo menos, 12
capitais, em favor do impeachment da Presidente Dilma
Rousseff, mas a ala de contrários ao que
denominam “golpe”, compondo a Rede da Legalidade, também promete ocupar as ruas
para o embate.
Trata-se de jogo-de-braço democrático e raro
no Brasil moderno, alimentado especialmente pelas redes sociais, onde fervilham
os adeptos do impeachment de Dilma
usando como principal combustível a corrupção organizada imperante na política
atual e o descalabro econômico em que se encontra o País, com inflação em torno de 9,32%, taxa de desemprego chegando a 8,3%, déficit primário de 11,5 bilhões de dólares e
um conflito entre os poderes Legislativo e Executivo que ameaça o próprio
funcionamento das instituições.
O Palácio do Planalto tenta
reagir junto ao Supremo Tribunal Federal -STF – no sentido de que anule o
acolhimento do pedido de impeachment
pelo presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha, do PMDB, enquanto
o presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, também do PMDB, avisa
que o Senado não estará automaticamente vinculado a eventual decisão da Câmara
de aprovar a abertura do processo. É mais lenha nessa fogueira, que não para de
arder e que se tornou mais flamejante
após a divulgação da carta em que o vice-presidente Michel Temer marcou sua
insatisfação com os rumos tomados pela Presidenta Dilma.
O ministro do STF, Luiz Edson
Fachin, afirmou que a Corte pretende decidir na próxima quarta-feira sobre ação apresentada pelo PC do B pedindo que o STF defina quais os crimes de responsabilidade,
em acordo com a Constituição Federal, constam no pedido de impeachment contra a Presidente apresentado pelos juristas Hélio
Bicudo e Miguel Reali Júnior. Fachin
quer que o processo de impeachment não tenha
irregularidades que justifiquem mais à frente sua anulação.
Outras bombas explodem nos
quarteirões da política fora de Brasília, tornando o clima potencialmente
procelário no País. A mulher do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo
e importante arquivo sobre atos de corrupção na Petrobrás e outras empresas, Maika
do Amaral Gomes, manifestou seu desejo de convencer o marido a fazer delação
premiada, pois ela não considera justo quer Delcídio pague sozinho por erros cometidos
pelo PT e governo. Por outro lado, a Polícia Federal convocou o ex-presidente
Lula para depor na Operação Zelotes, que apura denúncias sobre esquema de venda de medidas provisórias que beneficiam o
setor automotivo. O empresário Luiz Cláudio Lula da Silva, filho caçula de
Lula, teria se beneficiado com pagamento de 2,5 milhões de reais recebido da
empresa lobista Marcondes & Mautoni.
Todos esses fatos e outras
denúncias que explodem em sintonia com as
escaramuças físicas na Comissão de Ética
da Câmara dos Deputados, onde o presidente Eduardo Cunha manobra pragmática e
maquiavelicamente para se manter no cargo, atiçando adversários e aliados, são
reproduzidos com tamanha intensidade nas redes sociais, que o Brasil parece ter sido tomado pelo samba do crioulo doido. Quem afirmar
quer sabe o que está por acontecer está mentindo. Nem a Igreja e as Forças
Armadas, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo –FIESP-, que faz
uma espécie de governo paralelo do Brasil, sabem como terminará essa guerra pelo poder, pois o Processo
Legislativo, o principal equilibrador político-institucional, se encontra à
beira da exaustão.
Um exemplo dessa exaustão: O
próprio Senado Federal acaba de aprovar a Resolução 17/2015, que permite aos
estados e municípios a emissão de debêntures relativa a créditos da dívida
ativa, em flagrante desacordo com a Constituição Federal.
Na prática, tais papéis, que
contam com a garantia do poder público e são remunerados, possuem a mesma
natureza de títulos da dívida pública. Assim, o crédito referente à dívida
ativa se transforma em obrigação refletida em dívida pública, com grandes
ganhos para firmas e bancos que fazem a intermediação de tais papéis e enormes
prejuízos para os estados e municípios.
A matéria foi aprovada, em apenas
três semanas, por meio de projeto de resolução número 50/2015, datado de 20/10/2015,
assinado pelos senadores José Serra e Romário. Foi aprovado pela Comissão de
Assuntos Econômicos e pelo Plenário do Senado. Algo tão grave quanto as
pedaladas fiscais da Presidente Dilma Rousseff.
O desgaste do Brasil é imenso,
com a corrupção impregnada em todos os setores do estado; até mesmo no futebol,
cujos dirigentes maiores são acusados de corrupção. Nesse tribunal coletivo, em
breve devem ser definidos quais serão os algozes, e quais serão os réus. A
política brasileira deve promover a renovação de suas lideranças, mantendo o
percentual de veteranos necessários para uma boa transição.
Michel Temer, nesse processo, é
veterano e continuará sendo o vesica piscis, a pedra angular, o unificador, por sua habilidade e competência e
pela unção que recebe de quase todos os centros de poder do País, apesar das
críticas que vem recebendo por ter escrito aquela carta. Mas ele é a garantia
de que as instituições não deixarão de funcionar.
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