FERNANDO COLLOR – senador (PTC-AL)
“O eleitor enviou o recado de que o Brasil de
hoje clama mais por políticas realistas e planejadas do que por ações
ideológicas e improvisadas. Educação e infraestrutura eficazes, enxugamento do
Estado, planejamento e desburocratização, previsibilidade das regras e respeito
aos contratos; equilíbrio econômico e fiscal, descentralização e simplificação
tributária, além de transparência política e respeito às instituições são
remédios mais do que conhecidos para a enfermidade brasileira.”
Este
primeiro parágrafo compõe um artigo que me foi solicitado pelo jornal Folha de
S. Paulo, cuja veiculação ocorreu em outubro de 2014, dias antes do segundo
turno eleitoral. É dramaticamente atual. Há
tempos alertei para a falta de diálogo do Executivo com o Congresso Nacional.
Sempre procurei manter com o governo uma posição de interlocução institucional.
Não só diretamente com a presidente da República – raríssimas vezes, é verdade,
e não por minha vontade –, mas também com os diferentes ministros da Casa
Civil.
Tentei
levar minha experiência como ex-presidente e a percepção, como senador em
exercício, da necessidade de uma maior efetividade nas ações políticas e
institucionais com o Poder Legislativo, em contraposição a uma menor atuação
meramente publicitária junto à população. Desde 2012 venho chamando a atenção
para o esfacelamento institucional do País, para os conflitos entre os seus
poderes, o empoderamento de órgãos auxiliares e o paradoxo da legitimidade versus credibilidade nos poderes da
União. O tempo e o presente quadro de degradação do País me deram razão.
Ficamos
carentes não só de política econômica, mas também de economia política. O
resultado de poucos anos de má gestão, devemos reconhecer, é toda uma década
perdida. As pessoas se aperceberam e as ruas se manifestaram. A crise
espraiou-se. A política esvaiu-se e a economia tornou-se caótica. Levaremos
tempo para resgatar tudo de positivo, em todos os segmentos, que foi alcançado
pelo País desde a sua redemocratização. Mais ainda, levaremos tempo, talvez uma
geração inteira, para recuperação deste certeiro golpe na população brasileira.
Seja qual
for o resultado do atual processo de impeachment,
precisamos começar a pensar o futuro. O governo, qualquer que seja, terá que se
reinventar e o Estado brasileiro, reconstruído. A população não mais concordará
com improviso, não mais aceitará amadorismo e, menos ainda, o fisiologismo que
humilha a classe política no Brasil. Precisamos readquirir o encanto com a
missão pública, bem como resgatar o básico da liturgia dos cargos, da
respeitabilidade dos palácios e da moderação das autoridades. Precisamos de um
novo modelo econômico e de um novo Estado. Precisamos, enfim, de uma nova política.
Eis a razão
pela qual apresentei ao Senado Federal, após entendimento com os integrantes do
Bloco Moderador, a proposta “Brasil: Diretrizes para um Plano de Reconstrução”,
cuja íntegra já pode ser acessada no endereço fernandocollor.com.br. A fonte inspiradora do documento é o Projeto
de Reconstrução Nacional que apresentei ao País em 1991, por ocasião da
passagem do primeiro ano do meu governo. Trata-se de um elenco atualizado de
diagnósticos, princípios e medidas a serem discutidos, aperfeiçoados e
implantados, de forma a permitir que o País retome o caminho do desenvolvimento
econômico e social.
Restrinjo-me aqui a apresentar as linhas
mestras desse plano, como subsídio à classe política e a um futuro governo,
seja ele qual for. Destaco o primeiro item: A Reforma Política, com sistema
parlamentar de governo. Aos que
alegam que o Brasil não pode adotar o parlamentarismo por não possuir partidos
fortes, é preciso dizer que, na realidade, o Brasil não possui partidos fortes
por não ser parlamentarista. O segundo item: o Papel do Estado, a quem caberá
recriar as condições macroeconômicas e prover, em trabalho conjugado com a
iniciativa privada, as infraestruturas econômica, tecnológica e educacional
necessárias à reestruturação competitiva das empresas.
Destaco
também as Prioridades para a Reconstrução Nacional, com a reestruturação
competitiva da economia, a observância da cidadania e dos direitos fundamentais
e a inserção do Brasil no cenário internacional, porque não há projeto nacional
viável sem vinculação eficaz com o mundo. Esta eficácia depende, sobretudo, da
credibilidade do País, o que torna a diplomacia instrumento indispensável para
materializar as aspirações nacionais. Com a proposta apresentada, espero estar
colaborando com os rumos do País, a partir do desfecho político a ser tomado em
breve pelo Senado Federal, seja ele, repito, qual for.
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