terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Pílulas do Vicente Limongi Netto


Ministério patético
Chega a ser patético o noticiário em torno dos novos ministros da presidente Dilma. Políticos tratam do assunto como se estivessem escalando times de futebol para disputar uma "pelada", ou, então, escolhendo pizza na lanchonete. É um verdadeiro deboche com a população, que deveria e merecia ser a mais ouvida e beneficiada com as escolhas.
Os jornais informam que determinado ministro precisa ser mantido, porque pertence "a cota do vice-presidente Michel Temer". A televisão revela que o fulano será escolhido porque  é exigência do partido tal.  Colunistas garantem que beltrano vai permanecer no cargo porque o partido dele tem bancada forte.
A mídia também faz especulações em torno de políticos derrotados nas urnas, mas que poderão ser agraciados. Motivo: pertencem á base do governo ou são amigos do peito do Palácio do Planalto. Coitadinhos, não podem ficar na chuva. Ou seja, quem tem padrinho forte não morre pagão.
Por fim, permanecem duas perguntas, dentro deste presidencialismo safado e viciado:  quando, finalmente, anunciarão ministros que trabalharão para solucionar os  imensos problemas que afligem os brasileiros? Ou, então, quando os ministérios passarão a ser escolhidos e conhecidos como legitimas cotas do cidadão?
Deputado “Aparício”
Gritando desesperado da tribuna, pior do que cachorro com raiva, o obscuro deputado Mendonça Filho, finalmente conseguiu seus 15 segundos de fama. À custa, evidente, de quem realmente trabalha com responsabilidade e tem trajetória politica vitoriosa. No caso,o senador e presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan Calheiros.
É sempre assim: parlamentares medíocres como o sujeitinho Mendonça Filho, incompetentes, com poucos neurônios e, portanto, com frágil argumentação, só  têm uma saída: Vociferar para chamar a atenção dos holofotes fáceis.
Só que Renan Calheiros tem o couro duro. Calejado, não foge da rinha, nem do bom combate. O melhor que o beócio Mendonça Filho tem a fazer é colocar o rabo imundo entre as pernas e procurar a turminha dele de desocupados. Não tem lastro para discutir com Calheiros.
Barbosa esnoba Câmara
Joaquim Barbosa esnobou a Câmara Federal: ganhou medalha do Mérito Legislativo mas não foi receber. Bem feito. Boa lição para os deputados bajuladores: quem muito se abaixa o fundo aparece. Os parlamentares  banalizaram a mais importante condecoração da Casa,   oferecendo medalhas para qualquer um.  
Modernização da SUFRAMA
Visando preparar a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) para atender aos desafios da prorrogação dos incentivos fiscais da região por mais 50 anos, o governo federal anunciou que será realizada uma modernização da autarquia até o final do primeiro semestre de 2015.
O anúncio foi feito pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ricardo Schaefer, durante reunião do Grupo de Trabalho que visa discutir melhorias remuneratórias para os servidores do órgão. A reunião contou com a presença do superintendente em exercício da SUFRAMA, Gustavo Igrejas, de representantes do Sindicato dos funcionários da autarquia (Sindframa) e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
O encaminhamento dado foi em resposta à proposta de criação de carreira dos servidores da SUFRAMA, apresentada pelo Sindframa.
De acordo com o representante do MDIC, a modernização da autarquia é uma diretriz da nova gestão do governo federal, cuja intenção é repensar a instituição para atender os desafios da prorrogação da Zona Franca de Manaus (ZFM). “Nós temos uma diretriz de governo: precisamos modernizar a SUFRAMA. Prorrogar o modelo não é suficiente. Precisamos garantir que essa instituição, tão importante para a economia do País, possa garantir os próximos 50 anos”, disse Schaefer.
“Santo” Thomaz Bastos
Artigo medonho, repleto de puxasaquismo explícito, de quatro advogados, na Folha de São Paulo do dia 25 passado, sobre Márcio Thomaz Bastos.  O estupendo quarteto define Thomaz Bastos como "bondoso". Ora bolas, convenhamos, o famoso ex-ministro pode ter sido tudo, menos bondoso. Ficou rico defendendo malfeitores de todos os quilates. Seres desprezíveis da pior espécie. 
Cliente pobre, humilde, clamando por socorro, jamais teve vez com o impoluto Thomaz Bastos. Não sei até quando jornais e as inefáveis redes sociais darão espaços a depoimentos cretinos e hipócritas favoráveis a Márcio Thomaz Bastos. Só faltam pedir sua canonização ao Vaticano.  Fortes indícios de um Brasil que adora cultuar o cinismo e a bajulação.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mais trabalho e menos golpismo


Pescadores de águas turvas sentem fortes comichões sintomáticos em sua inquietante ansiedade por um golpe de estado no Brasil, ainda que não saibam de quem e para que. Tem sido assim, nesses tempos de redes sociais mobilizadas no mundo inteiro e, de modo especial, no Brasil, que tem o quarto maior contingente de internautas.

É a cultura política brasileira, e de resto da América Latina, enraizada na tradição cultural autoritária ibérica, que cultiva a alternância de poder mediante o golpismo antidemocrático, vocação que levou Simon Bolivar a afirmar, em carta ao governador de Guayaquil, que pregar a democracia na América Latina semelha-se ao esforço de “arar no mar”. Para Bolívar, “o “George Washington  da  América Espanhola”, a região é um viveiro de ditadores.

Pelas redes sociais, reforçadas pela imprensa escrita, pululam propostas de golpe civil, golpe militar, impeachment de Dilma, manifestos militares, etc., mas não se vê uma justificativa plausível para tais ações antidemocráticas e desestabilizadoras. Não se apresenta um objetivo planejado e alternativo para o que consideram desgoverno do PT (é bom que se diga que o PMDB talvez seja o principal responsável pelas mazelas denunciadas, pois é a pedra de sustentação dos governos que sucederam ao regime militar instaurado em 1964, configurando a denominada “Nova República”).

Golpe por quem e para que? São perguntas-chaves, pois se propaga um suposto projeto de socialização/comunização/cubanização/bolivarização do Brasil, como se o Partido dos Trabalhadores tivesse esse poder e fosse apoiado nesse tipo de projeto pela sociedade e pelas demais forças políticas e seus partidos, entre as quais os majoritários PMDB e o PSDB. O PT, já oligarquizado, não tem essa força. Nenhum partido , atualmente,tem
A corrupção generalizada e a insegurança pública devem ser combatidas com ações de políticas  bem planejadas e executadas  de acordo com critérios éticos e morais  e padrões políticos, científicos, tecnológicos , econômicos, educacionais e culturais, que mobilizem as instituições sociais como um todo consciente  e uniforme. O potencial da comunicação deve ser direcionado para os fins colimados.
Os pescadores de águas turvas clamam por nova intervenção militar, sem ao menos esclarecerem em favor de que lado essa intervenção, pois os militares não são atrelados, axiologicamente,  a nenhum tipo de ideologia  ou doutrina política. As Forças Armadas cumprem seus deveres constitucionais, quais sejam zelar pela defesa da Pátria, pela garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa destes, da lei e da ordem. A menos que haja um clamor social inconfundível e condições claras de ruptura da instabilidade político-institucional pela anarquia, elas se manterão atreladas à sua missão constitucional. 
Essa desestabilização política, mediante alternância de poder com golpe, interessa a muitas forças ocultas e também não-ocultas dos centros de poder internacionais, ávidos pelas riquezas do solo e subsolo e do mar  brasileiro, em especial os minérios estratégicos, o petróleo e o patrimônio genético da flora e fauna .

Desde que o Brasil emergiu como potência econômica, um dos celeiros do mundo, ocorrem pressões no sentido de semear o divisionismo territorial, o separatismo na federação, a cizânia nas Forças Armadas e o conflito social interno. Liberdade, ainda que sem democracia, é o lema estimulado sorrateiramente pelas elites internas em sintonia com os interesses de grupos  internacionais, desde o período monárquico.

Não vejo outro caminho, senão o da alternância pelo voto, para a democracia e a liberdade brasileiras. Com muito trabalho, suor e fé no País. A frase “não desistiremos do Brasil”, proferida repetidas vezes pela Oposição, é uma declaração de entrega do País, de desistência, de resignação, de covardia de quem joga com os interesses externos e quer desarmar o ânimo dos brasileiros verdadeiramente patriotas.
Ao trabalho, à produção, que enobrecem o homem e enriquecem a Nação!

Golpe, modelo e dívida

 
 
Adriano Benayon *
 
O Brasil vive momento grave, com a grande mídia, pedindo golpe de Estado para derrubar a presidenta recém-reeleita.
 
2. Os golpes em nosso País são recorrentes, e já houve muitos além dos  mais conhecidos, que são os  de caráter predominantemente militar: 1937, 1945, 1954, 1961 e 1964.
 
3. O jornalista Luiz Adolfo Pinheiro intitulou seu bom livro, “A República dos Golpes”, publicado em 1993, que abrange somente os anos de Jânio Quadros a Sarney.
 
4. Não só no Brasil historicamente, mas cada vez mais no mundo atual, os instrumentos principais dos golpes inspirados pelas potências imperiais têm sido instituições civis, como o legislativo e o judiciário.
 
5. Foi no âmbito da polícia civil que se articulou a conspiração concluída na área militar, que depôs o presidente Vargas em 1954.
 
6.  A famigerada, desde o Estado Novo, Delegacia de Ordem Política e Social – DOPS, chefiada pelo simpatizante nazista, Cecil Borer, foi que armou o atentado da rua Tonelero, envolvendo a guarda pessoal do presidente e a ela atribuindo o crime.
 
7.  O alvo era o próprio major Vaz, para acender a revolta Aeronáutica e na opinião pública, e não, Carlos Lacerda, o encarniçado adversário de Vargas, com o simulado e inexistente tiro em seu pé.
 
8. Por que a DOPS? No auge da Guerra Fria, os nazistas e simpatizantes foram recrutados em massa pelos serviços secretos das potências angloamericanas, para reprimir os “comunistas”, rótulo ao qual buscavam associar todos os que, como os nacionalistas, desagradassem àquelas potências.
 
9. Voltemos a 2014: no período eleitoral, delegados da polícia federal, a que se atribui serem simpáticos ao PSDB,  vazaram informações do inquérito (operação Lavajato), em que investigam irregularidades em contratos entre a Petrobrás e  grandes empreiteiras de obras de infra-estrutura.
 
10. Há poucos dias, acabam de prender executivos dessas empreiteiras, as quais, além de atingidas pelo escândalo, com repercussões sobre futuras contratações, serão provavelmente condenadas ao pagamento de pesadas multas.
 
11. Desavisados moralistas exultam com essa suposta demonstração  de que as instituições do País estejam  combatendo eficientemente a corrupção. O PT louva a presidenta por ter sancionado nova lei, que permite agir também contra os corruptores.
 
12. O povo ilude-se e acredita que seja isso mesmo que está em causa. Desconhece a natureza do jogo  prevalecente nas altas esferas do poder, notadamente as do poder mundial. Para isso concorre o tsunami de ignorância gerado pelos investimentos que nela faz a oligarquia concentradora transnacional, há um século.
 
13.  A mega-corrupção exercida por essa oligarquia coopta colaboradores em todas as estruturas econômicas e institucionais e,     ironicamente, usa, a seu serviço, a corrupção derivada, a de menor porte, aumentada inclusive em decorrência do investimento na anticultura e na destruição dos valores éticos.
 
14. É essa, a derivada a que aparece,  quando sua exposição serve aos objetivos da estratégia imperial, produzindo grande comoção em amplos segmentos da população e desviando o foco dos reais problemas e de suas fontes geradoras.
 
15. Sem acesso às informações sobre como a oligarquia financeira  envolve os poderes constituídos do Estado, infiltrados por seus interesses,  o povo concentra seu ódio sobre os corruptos expostos pela corruptíssima grande mídia. Deveria desconfiar de que, se são expostos, é porque são os que estão causando menor dano ao País.
 
16. Por que as grandes empreiteiras estão sob o fogo da repressão? Elas constituem o principal núcleo de poder econômico no País que ainda não foi controlado pelo capital estrangeiro. São exportadoras de serviços, ocupam pessoal qualificado e se tornaram conglomerados, que investem até mesmo em tecnologia de uso militar.
 
17. Ademais, o escândalo que domina as atenções envolve também a principal estatal do País, ou seja, uma das poucas empresas gigantes sob controle nacional, apesar de infiltrada por quadros ligados às transnacionais do setor e a bancos da oligarquia financeira angloamericana.
 
17. Para fechar, convém ter presente a penetração de ideias e a cooptação por parte de entidades estrangeiras na Polícia Federal, notória desde que a Delegacia Antitóxicos recebe ajuda de sua congênere norte-americana.
 
18.  Não se deveria tampouco ignorar a política das numerosas agências de inteligência dos EUA de atrair as simpatias de quadros das instituições-chave do País, como a Polícia Federal.
19. O foco na corrupção, ignorando a fonte da mega-corrupção, é  instrumento do poder oligárquico mundial.  Em geral, estão alinhados com este, os que mais gritam contra a corrupção.
20. Um dos fatos fundamentais obliterados é que, no âmbito dos carteis financeiros e econômicos, a ética pode ser tema de discurso, mas não faz parte do objetivo central, o poder, nem do objetivo imediato, o lucro, independentemente de como seja obtido.
21. Expor as reais razões do escândalo  das relações entre grandes empreiteiras e a Petrobrás não é dizer que nelas houve corrupção. Isso, porém, está sendo usado para favorecer grupos transnacionais, tradicionais comitentes de n tipos de corrupção.
22. Entre eles, os permitidos pelas leis e políticas impostas aos países, tais como tolerar as práticas monopolistas e demais formas de abuso do poder econômico.
23. Não menos danoso para o Brasil é ferir de morte as empresas privadas e públicas em que se mantém os últimos bastiões de autonomia tecnológica no País, alvo que é do “apartheid tecnológico”, decorrente de  os carteis transnacionais dominarem o mercado, reforçado por acordos internacionais, como o TRIPS  no âmbito da OMC.
24. Os promotores da desestabilização da presidenta da República e do golpe em curso são de dois tipos:
a)  os colaboradores do sistema imperial, que nos impõe, desde 1954, o modelo de dependência financeira e tecnológica, e utilizam hipocritamente o pretexto da moralidade para desnacionalizar e desindustrializar ainda mais a economia;
b) os enganados pelo alienado discurso moralista e são arregimentados para solidarizar-se com a repressão destinada a eliminar as empreiteiras e acabar de desnacionalizar a Petrobrás.
25. Isso não significa que não se deva expurgar a estatal de seus quadros corruptos. Se isso for feito, como se deve, vai-se notar que a maior parte deles é ligada a grupos e a interesses das transnacionais estrangeiras, lá colocados.
26. Isso ocorreu principalmente no governo antipátria de FHC, e a maior parte dos corruptos permaneceu na Petrobrás e na ANP, nos governos petistas, conciliadores em relação àqueles grupos. Esse é o caso, inclusive, do pivô do escândalo, o delator premiado.
27. Enquanto a operação Lavajato ocupa o centro das atenções, e avança em direção favorável ao objetivo de enfraquecer o já fragilizado poder econômico nacional, são esquecidas as causas fundamentais dessa fraqueza.
28. Estas se situam no binômio modelo pró-imperial-envidamento público. A propósito, o Brasil está com déficit recorde no balanço de transações correntes com o exterior: US$ 85 bilhões por ano. 
29. Essa sempre foi a causa do crescimento da dívida externa, desde que JK (1956-1960) aplicou a política entreguista do golpe udenista-militar de 1954, que cumulou de favores os carteis transnacionais para monopolizarem os mercados industriais do País.
30.  A dívida externa ascendeu a U$ 541,42 bilhões, em agosto último (R$ 1,4 trilhão, ao câmbio atual). A dívida pública interna, a R$ 3,067 trilhão.
31. O serviço da dívida (juros e amortizações) consome 42% das despesas da União, e realimenta-se  com as taxas de juros absurdamente altas e que, por isso, não podem ser pagas só com recursos dos tributos.
32. A parte do serviço da dívida que o Tesouro paga com as receitas corresponde ao “superávit primário”.  Elaborei uma tabela, no programa Excel, lançando  o montante da dívida pública interna em 1994,  e  taxa de juros de 3% aa.
33. Por que 3% aa.? Essa taxa supera a de  muitos países, e não há base para a ideia, sempre impingida ao público, de que se têm de combater a inflação com juros elevados. 
34. No Brasil, os preços são altíssimos, porque os carteis impõem os que desejam, mais ainda que em outros países. Fosse outra a política, a inflação seria moderada, e não ficaria ao sabor de farsas, como a do Plano Real.
35. Além dos juros 3% aa., inseri na tabela os montantes do superávit primário, para resgatar dívida,  implicando que não haveria novas emissões de títulos para isso.
36. Resultado: mesmo sem  superávit primário de 1995 a 1997, pois ele só ocorreu em 1994 e de 1998 a 2001,  a União já teria eliminado a dívida interna, e sobrariam R$ 22 bilhões, em 2001.
37. Ora, com as absurdas taxas de juros comandadas pelo cartel dos bancos e cumpridas pelo BACEN, e, apesar de superávits primários totalizando, de 2002 a 2013, em valores correntes, R$ 1,082 trilhão, a dívida interna cresceu para quase R$ 3 trilhões.
 * - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.