Refletindo sobre uma interpretação do Positivismo, de Augusto Comte, por É. Bréhier, em sua “História da Filosofia” (Editora Mestre Joel, 1977), indago se o grande filósofo de Montpellier se mantém atual, com todas as transformações do mundo ocorridas desde a publicação do seu “Discurso sobre o Espírito Positivo” (1848).
Ao propor a aplicação da ciência positiva - aquela pesquisada e aplicada com o método da observação concreta do fenômeno, somente em suas conseqüências, e não em suas causas, sem uso de recursos da metafísica e teologia – para o aprimoramento da sociedade, visando-se, em última instância, ao desenvolvimento da Humanidade, Comte lançou um repto aos transcendentalistas e idealistas.
Quando produziu seus textos e elaborou a “Lei dos Três Estados” do homem na Terra (teológico, metafísico e positivo), preconizando a Religião da Humanidade, Comte não sabia, evidentemente, que o homem faria expedições fora do planeta, pisando o solo lunar e espiando de perto os planetas, com suas poderosas naves telescópicas.
O desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, aplicado à ordem e ao progresso social, foi bem intuído por Comte, mas, como ficaram os conceitos de amor e moral essenciais à regeneração social e à substituição de Deus pela Humanidade? Sem a metafísica e o idealismo, teria o homem chegado ao Cosmos, contrariando o filósofo? Ainda mais se considerando que a física quântica, hoje, sintetiza tudo que existe, inclusive o amor e o átomo, em fenômeno puramente energético.
É inegável que Comte é um dos filósofos mais influentes de todos os tempos, e, no Brasil, sua atualidade é concreta, a começar pela inserção do dístico “Ordem e Progresso” na Bandeira Nacional e seu prestígio junto às Forças Armadas, onde o nome de Benjamin Constant Botelho de Magalhães, positivista, um dos fundadores da república e ex-ministro –da- Guerra, continua em destaque especial no Almanaque do exército.
Na cultura, na política e na educação, é ainda é considerável a influência positivista, se destacando como positivistas Euclides da Cunha, o marechal Rondon, Lindolfo Collor, Júlio de Castilhos, etc. A Igreja Positivista do Brasil, fundada em 1881, pouco depois da fundação, por Miguel Lemos (filho de um oficial da Marinha), da Sociedade Positivista do Brasil (1876), continua com várias capelas abertas no País, cultuando “o Amor por princípio, a Ordem por Base e o Progresso por fim”.
Mas, o que prepondera, nessa minha reflexão, é a curiosidade de saber a razão de ter Comte exaltado a primazia da matéria sobre o espírito em sua obra, mas adotar o título “Discurso sobre o Espírito Positivo”. Ele usa a evolução do espírito humano como referência em sua análise filosófica da história. Portanto, admite a existência do espírito (algo que ele não tem “positivamente” como provar). Poderia ter adotado o título, mais coerente, de “Discurso sobre a Matéria Positiva”.
Outro aspecto importante desse filósofo, que pode ser raiz de algumas rusgas atuais entre a influência do PT ortodoxo no poder e uma considerável ala positivista das Forças Armadas. Comte achava uma grande aberração o Socialismo e outras doutrinas que preconizam o fim do que considera “constantes sociais”: Religião, regime da propriedade, constituição da família e forma de governo com equilíbrio entre poder espiritual e material e tripartição de poderes (república).
Como “inventor” da expressão “Sociologia”, antes denominada fisiologia social, Augusto Comte poderia ter hoje alguma relação com o PSDB do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, discípulo do sociólogo Florestan Fernandes, mas ambos são socialistas e weberianos. Também não se aplica o positivismo rigorosamente a nenhum outro partido brasileiro da atualidade. Com muita indulgência, talvez ao Partido Progressista (PP), ex-Arena, PDS e PPR, ao Partido de Reedificação da Ordem Nacional –PRONA- e ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS).
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