Este blog não tem preconceito contra nenhum tema vinculado à política, independentemente de aspectos ideológicos, razão pela qual considero interessante a análise da “democracia corintiana” em si, a propósito do falecimento de Sócrates, seu idealizador em 1982, no clube de futebol Corinthians, de São Paulo, que acaba de conquistar o título de campeão nacional.
Médico por formação acadêmica,nascido no Pará, genial jogador de futebol e intelectual orgânico da classe futebolística, na verdadeira concepção gramsciniana, Sócrates liderou um movimento de autogestão democrática no Corinthians, em 1982, ao lado de jogadores como Vladimir (sindicalista), Zenon e Casagrande (atual comentarista esportivo).
Tudo era decidido na base do voto, desde a contratação de jogadores e técnicos, demissões, locais de concentração, e esse voto era igualitário entre dirigentes, funcionários e jogadores. O resultado é que esse modelo levou o Corinthians, que vinha de campanhas ruins, a dois títulos do campeonato paulista, além de restaurar as finanças do clube.
Em 1984, com as mudanças no futebol do mundo inteiro e a exportação desmedida de jogadores para o exterior, que resultaram em vertiginosa queda na qualidade do futebol não só do Brasil, mas dos demais países sul-americanos (Argentina e Uruguai em destaque), o modelo da “democracia corintiana” se exauriu.
Alguns críticos dizem que a "democracia corintiana" fracassou.São os mesmos que vituperam contra a democracia como regime de governo em qualquer país.Há modelos históricos cujo valor maior não consiste no prazo de validade, mas no simbolismo que carregam e que perdura como experiência válida, ainda mais na política, onde,contraditoriamente, não se admitem experiências sem impunidade.
Alguns críticos dizem que a "democracia corintiana" fracassou.São os mesmos que vituperam contra a democracia como regime de governo em qualquer país.Há modelos históricos cujo valor maior não consiste no prazo de validade, mas no simbolismo que carregam e que perdura como experiência válida, ainda mais na política, onde,contraditoriamente, não se admitem experiências sem impunidade.
Acho importante focalizar a experiência corintiana com base numa entrevista de Sócrates poucos dias antes de sua morte, quando ele afirmou que não acompanhava muito a vida do clube, mas, em nenhum momento, se desprendeu da sintonia com o seu principal patrimônio, os milhões de torcedores corintianos. “Ser corintiano –disse- é um estado de espírito”.
Sócrates construiu na política mais do que muitos políticos profissionais, e poderia ser classificado perfeitamente como um teórico da política, pois a teoria em si é reveladora, e Sócrates contribuiu muito para revelar ao Brasil a oportunidade de restauração da força popular pelo voto.
Demonstrava, em diversas entrevistas, que era intrinsecamente apaixonado pelas massas e não gostava de ser enquadrado como um homem de esquerda. Tanto que seu treinador preferido era o extremo conservador Telê Santana, da Seleção Brasileira, e mantinha excelentes relações com a republicana cidade de Ribeirão Preto, reduto das oligarquias dominadoras de um dos maiores pólos de produção de açúcar e álcool do País.
Quem freqüenta o “Pingüim”, um dos locais preferidos de Sócrates e até hoje templo do chope em Ribeirão Preto, pode colher junto aos garçons inúmeras e pitorescas estórias do “Magrão”. São turistas de boa capacidade aquisitiva e cidadãos da elite da cidade que reverenciam o local.
Não só pelo futebol que praticou, mas pelo seu idealismo político, Sócrates se tornou a figura mais conhecida e unânime de Ribeirão Preto (que o revelou) e uma das maiores da nova geração brasileira. Ele construiu com a cabeça e os pés seu discurso existencial.
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