O comando do PSDB anda empenhado em “nacionalizar” o
partido, ou seja, criar um discurso uniforme em todos os quadrantes do País,
nessas eleições municipais, segundo reiteradas manifestações do presidente do partido,
deputado Sérgio Guerra, admitindo que, nesse item, o Partido dos Trabalhadores
é mais competente.
Com essa estratégia eleitoral, segundo o dirigente, qualquer que
venha a ser, o candidato do PSDB nas eleições presidenciais conseguiria melhor
resultado nas urnas em todo o País, deixando de ter eleitorados regionalizados.
Daí a plena concordância do senador Aécio Neves com essa proposta, debatida
recentemente durante encontro dos tucanos em Brasília...
Acredito que o PSDB adota uma premissa falsa: A de que o PT
é um partido de discurso uniforme, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte,
do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, e que é possível uma uniformização da
linguagem partidária num país com as dimensões territoriais e a diversidade
cultural do Brasil.
Cada região exige uma peculiar adequação discursiva, e esta
requer modulações da linguagem partidária conforme as culturas políticas
locais, coisa que nenhum partido no Brasil conseguiu até hoje – fato que
explica a pouca importância que o eleitorado brasileiro dá aos programas e à
fidelidade partidários, a proliferação de alianças eleitorais e a maciça base
de apoio do governo no Congresso Nacional, com frágil oposição.
Mas, então, como se processa a funcionalidade do sistema
eleitoral-partidário, com tantos partidos? Basicamente, em torno de nomes, e
não de legendas, com clivagens características das oligarquias regionais.
Assim é que um político astuto, como José Sarney, que
liderou o partido do governo, a Arena, durante o regime militar, com oposição
do PMDB, conseguiu mais tarde se aliar a esse partido e se eleger na chapa com Tancredo Neves, assumindo a
presidência depois e transformando-se, hoje, não apenas num dos principais
esteios do PMDB, mas,também, dos próprio governos de Lula e Dilma.
UDN, PSD, Arena e PMDB nunca tiveram um discurso que
extrapolasse aos seus redutos regionais e uma ideologia que os justificasse
nacionalmente. A fidelidade partidária torna-se difícil até mesmo nas votações
parlamentares, porque os interesses do eleitorado que movem um parlamentar do
Nordeste são diferentes dos interesses dos eleitorados da Amazônia, do Sudeste e do Centro-Oeste.
Um exemplo: Em diversas ocasiões, parlamentares de um mesmo
partido do Sudeste queriam acabar com a Eletronorte, mas seu líder enfrentava a
oposição interna de correligionários daquela região, que tinham familiares,
amigos e eleitores dependentes da empresa. O mesmo comportamento se repetia em
torno de reivindicações da Zona Franca de Manaus.
Outro exemplo: Na polêmica questão do Código Florestal,
parlamentares sintonizados com os ambientalistas, nas regiões sem grandes
reservas florestais e nos grandes centros urbanos, se defrontam com colegas do
mesmo partido que integram a bancada ruralista. Marina Silva foi bem votada
pelo Partido Verde, mas não conseguiu “nacionalizar” o discurso partidário,
vendo-se obrigada a abandonar a legenda.Estados produtores de petróleo não aceitam dividir igualitariamente com seus pares federativos recursos dos "royalties" oriundos da exploração.
O próprio PT, que nasceu do sindicalismo no ABC, não dispõe
hoje do mesmo prestígio eleitoral naquela região paulista, e o modelo de gestão
adotado pelos petistas é o formulado originariamente pelo PT do Rio Grande do
Sul, estado que fora outrora esteio da Arena/PDS, ao lado de Minas Gerais. Lula
é fenômeno nacional, mas presidiu o País num esquema de coalizão liderado pelo
PT, que permanece com Dilma, cria do PDT de Brizola.
Poder-se-ía elaborar um livro de exemplos do prestígio pessoal
descolado do discurso partidário para comprovar a impossibilidade de uniformização
nacional do discurso partidário.
Todos os programas partidários são escritos com o objetivo
de captar eleitores em todas as regiões, e não poderia ser de outra forma,
porque os partidos visam ao poder nacional. A tal “nacionalização” comportamental pretendida pelo
PSDB e aparentemente existente com o PT,segundo pensa o deputado Sérgio Guerra, é impossível no mosaico
político-cultural brasileiro, ainda que os diretórios regionais façam um
esforço hercúleo nesse sentido.
Na política de massa, o que funciona mesmo é o carisma, a
linguagem pessoal e o poder de empatia de cada candidato com o eleitorado,
embora a estruturação partidária, como alavanca, seja fundamental para a disputa do poder
local,regional e nacional.
Acredito, sim, na construção, pelo partido, de uma estrutura
de educação política capaz de proporcionar aos seus candidatos e eleitores uma
visão realista e funcional da gestão política e administrativa do País. Uma
preparação em torno de um ideário
universal, adaptável à diversidade cultural nacional.
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