quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Nacionalização" partidária no Brasil é inviável


O comando do PSDB anda empenhado em “nacionalizar” o partido, ou seja, criar um discurso uniforme em todos os quadrantes do País, nessas eleições municipais, segundo reiteradas manifestações do presidente do partido, deputado Sérgio Guerra, admitindo que, nesse item, o Partido dos Trabalhadores é mais competente.

Com essa estratégia eleitoral, segundo o dirigente, qualquer que venha a ser, o candidato do PSDB nas eleições presidenciais conseguiria melhor resultado nas urnas em todo o País, deixando de ter eleitorados regionalizados. Daí a plena concordância do senador Aécio Neves com essa proposta, debatida recentemente durante encontro dos tucanos em Brasília...

Acredito que o PSDB adota uma premissa falsa: A de que o PT é um partido de discurso uniforme, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, e que é possível uma uniformização da linguagem partidária num país com as dimensões territoriais e a diversidade cultural do Brasil.

Cada região exige uma peculiar adequação discursiva, e esta requer modulações da linguagem partidária conforme as culturas políticas locais, coisa que nenhum partido no Brasil conseguiu até hoje – fato que explica a pouca importância que o eleitorado brasileiro dá aos programas e à fidelidade partidários, a proliferação de alianças eleitorais e a maciça base de apoio do governo no Congresso Nacional, com frágil oposição.

Mas, então, como se processa a funcionalidade do sistema eleitoral-partidário, com tantos partidos? Basicamente, em torno de nomes, e não de legendas, com clivagens características das oligarquias regionais.

Assim é que um político astuto, como José Sarney, que liderou o partido do governo, a Arena, durante o regime militar, com oposição do PMDB, conseguiu mais tarde se  aliar a esse partido e se eleger na chapa com Tancredo Neves, assumindo a presidência depois e transformando-se, hoje, não apenas num dos principais esteios do PMDB, mas,também,  dos próprio governos de Lula e Dilma.

UDN, PSD, Arena e PMDB nunca tiveram um discurso que extrapolasse aos seus redutos regionais e uma ideologia que os justificasse nacionalmente. A fidelidade partidária torna-se difícil até mesmo nas votações parlamentares, porque os interesses do eleitorado que movem um parlamentar do Nordeste são diferentes dos interesses dos eleitorados da Amazônia, do Sudeste e do Centro-Oeste.

Um exemplo: Em diversas ocasiões, parlamentares de um mesmo partido do Sudeste queriam acabar com a Eletronorte, mas seu líder enfrentava a oposição interna de correligionários daquela região, que tinham familiares, amigos e eleitores dependentes da empresa. O mesmo comportamento se repetia em torno de reivindicações da Zona Franca de Manaus.

Outro exemplo: Na polêmica questão do Código Florestal, parlamentares sintonizados com os ambientalistas, nas regiões sem grandes reservas florestais e nos grandes centros urbanos, se defrontam com colegas do mesmo partido que integram a bancada ruralista. Marina Silva foi bem votada pelo Partido Verde, mas não conseguiu “nacionalizar” o discurso partidário, vendo-se obrigada a abandonar a legenda.Estados produtores de petróleo não aceitam dividir igualitariamente com seus pares federativos recursos dos  "royalties" oriundos da exploração.

O próprio PT, que nasceu do sindicalismo no ABC, não dispõe hoje do mesmo prestígio eleitoral naquela região paulista, e o modelo de gestão adotado pelos petistas é o formulado originariamente pelo PT do Rio Grande do Sul, estado que fora outrora esteio da Arena/PDS, ao lado de Minas Gerais. Lula é fenômeno nacional, mas presidiu o País num esquema de coalizão liderado pelo PT, que permanece com Dilma, cria do PDT de Brizola.

Poder-se-ía elaborar um livro de exemplos do prestígio pessoal descolado do discurso partidário para comprovar a impossibilidade de uniformização nacional do discurso partidário.

Todos os programas partidários são escritos com o objetivo de captar eleitores em todas as regiões, e não poderia ser de outra forma, porque os partidos visam ao poder nacional. A tal “nacionalização” comportamental pretendida pelo PSDB e aparentemente existente com o PT,segundo pensa o deputado Sérgio Guerra, é impossível no mosaico político-cultural brasileiro, ainda que os diretórios regionais façam um esforço hercúleo nesse sentido.

Na política de massa, o que funciona mesmo é o carisma, a linguagem pessoal e o poder de empatia de cada candidato com o eleitorado, embora a estruturação partidária, como alavanca, seja fundamental para a disputa do poder local,regional e nacional.

Acredito, sim, na construção, pelo partido, de uma estrutura de educação política capaz de proporcionar aos seus candidatos e eleitores uma visão realista e funcional da gestão política e administrativa do País. Uma preparação em torno  de um ideário universal, adaptável à diversidade cultural nacional.


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