A realização de eleições na Líbia é o corolário mais
promissor para a democracia da denominada “primavera árabe”, pois sinaliza uma
nova era de liberdade para os países que ocupam, na terminologia da ciência
política, o “modelo despótico oriental” de regime, composto de monarquias e
ditaduras.
Após 60 anos nas trevas, sob a tirania de Muammar Kadafi,
a Líbia se recompõe como espécie de sinalizadora para os países que
experimentam os ventos da liberdade soprados pela comunicação virtual da
internet, estimulando os anseios da população jovem por mudanças sociais.
A Aliança das Forças Nacionais, que representa cerca de 40
partidos, obtém ampla vitória para os liberais, que desencadearam a revolta contra
Kadafi, em 2011, contra o Partido Justiça e Desenvolvimento, ligado à Irmandade
Muçulmana.
Pouco importa se houve tiros, outros incidentes e até
assassinatos nessa experiência líbia, que levou 60% do povo às urnas, segundo estatística
levantada pelos correspondentes que fizeram a cobertura do evento, com base no
que viram e no que foi informado pelos órgãos do novo governo.
Estatísticas sempre são questionáveis na política, inclusive
no Brasil, que adota as urnas eletrônicas e cujo modelo eleitoral, já exportado
para alguns países vizinhos, é considerado um dos mais evoluídos do mundo, pela
rapidez na apuração.
Fraudes sempre
ocorrem, porque o sistema não funciona independentemente dos fatores culturais e ambientais que o configuram, como, por exemplo, a contagem de votos em grotões ou regiões
inóspitas, onde se situam os “currais eleitorais” e o “voto de cabresto”,
resquícios do coronelismo ainda imperantes em várias regiões brasileiras,
penetradas somente com canoa ou cavalo (Amazônia, Pantanal, grotões mineiros,
cerrados do Centro-Oeste e caatingas nordestinas).
A sociologia do voto é outra nos países árabes-islâmicos, no
Oriente Médio e Norte da África, regiões do “Magrebe” que, com algumas
exceções, têm terreno plano e desértico, com cidades concentrando boa parte da
população, o que facilita o controle eleitoral.
A “primavera árabe” ainda é a esperança de recomposição das
nações historicamente submetidas ao colonialismo europeu e cujas populações se
situam na linha da pobreza. No caso da Líbia, assim chamada após a conquista
aos turcos de Trípoli e Cirenaica, pela Itália, entre 1896 e 1914, as eleições
soam como um grito de renascimento, que deve despertar os demais países em
transição da ditadura para a democracia.
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