O
Brasil recorre a Cingapura para planejar o futuro de Brasília até o horizonte
de 2060. Notícia que poderia ser surrealista, mas que é real, depois de ter o
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, assinado, naquela cidade, no
último dia 29, contrato para que a Jurong Consultants faça o planejamento estratégico
do Distrito Federal para os próximos 50 anos – o denominado “Projeto Brasília
2060”, que custará cerca de 4,5 milhões de dólares e será iniciado
imediatamente.
A
notícia deixou estupefatos os arquitetos, engenheiros, urbanistas, professores
e vários estudiosos de Brasília, desde os primórdios de sua fundação, quando o
marechal José Pessoa realizava estudos para a transferência da capital, conforme
relata a cronista Conceição Freitas, do “Correio Braziliense” (edição de 7 de
outubro). Ainda informa que já há uma petição pública para obter na Justiça o cancelamento
da consultoria, enquanto cresce o movimento, encabeçado pelo presidente do
Instituto dos Arquitetos de Brasília – IAB-, Paulo Paranhos, de repúdio ao que considera mais um tipo de colonialismo.
Colonialismo
à parte, esse contrato prevê que a equipe da Jurong Consultants realizará
estudos visando à criação de uma espinha dorsal que integrará quatro grandes
eixos da Capital: A cidade-aeroportuária; o polo logístico; o centro financeiro
internacional e a ampliação do Polo JK. O planejamento final será entregue em
abril de 2014.
Globalização
é isto: Integração de mercados em todos os setores da economia – agropecuário,
industrial e de serviços. Com seu status de “Patrimônio da Humanidade”, Brasília
receberá o aporte científico, tecnológico e administrativo de um grupo
destacado de Cingapura, a “Meca” asiática dos grandes negócios.
O
planejamento estratégico no Brasil, introduzido a partir da criação da Escola
Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, em 1949, transformou-se num poderoso instrumento
de desenvolvimento nacional, disseminando-se não apenas no âmbito
governamental, mas, também, no setor privado. O País conta hoje com o que há de
melhor em planejamento, e esta tem sido uma das alternativas para redução de
sua dependência externa.
A
Presidente Dilma, creio que alertada por especialistas de larga visão em
planejamento, criou a Empresa de Planejamento e Logística, que, certamente,
proverá o Brasil de infraestrutura de transportes e logística adequada às
necessidades de um país que ainda tem grandes deficiências no seu sistema de escoamento
da produção para abastecimento interno e exportação e de integração social pela
circulação de pessoas. Maiores qualidade e competividade serão exigidas das
empresas que operam nesse setor.
Tenho
dúvidas sobre a prevalência do planejamento a ser feito pela empresa de
Cingapura sobre os modelos já elaborados por grupos nacionais. Creio que as
duas vertentes serão cotejadas e fundidas numa só visão estratégica. Nesse
aspecto, o trabalho da Jurong Consultants terá muita utilidade, pois, conforme
a máxima do Direito, “o que abunda não prejudica...”.
É
conhecido o problema da violência urbana na região do denominado Entorno do Distrito
Federal, região fronteiriça com os Estados de Goiás e Minas Gerais e onde a
pobreza reflete a superação do planejamento original pelo crescimento
desordenado.
Com
cerca de 2,5 milhões de habitantes, o Distrito Federal exerce influência sobre
298 municípios do Centro-Oeste
brasileiro e uma população de 9,6 milhões de habitantes, tornando-se, segundo o
IBGE, uma metrópole nacional, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Mas,
ficam no ar algumas perguntas? Tanto dinheiro para esse contrato? Não seria mais
interessante uma licitação entre empresas de consultoria nacionais (segundo
dados da Catho, há 1.885 empresas de consultoria geral no Brasil). Qual
interesse político (captação de recursos para as eleições de 2014?) se oculta
nesse contrato?
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