Revista
“Forbes” publicou, recentemente, a relação dos cinco políticos brasileiros mais
ricos: Lírio Albino Parisotto (1,9 bilhão
de dólares), suplente do senador Eduardo Braga, do Estado do Amazonas e
investidor no mercado de ações; Blairo Borges Maggi (960 milhões de
dólares),senador pelo Mato Grosso e maior produtor de soja do mundo; Marcelo Beltrão
de Almeida (200 milhões de dólares), ex-vereador , candidato ao Senado em 2015
pelo Estado do Paraná e construtor civil; Otaviano Olavo Pivetta (100 milhões
de dólares),prefeito de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, e produtor de
grãos; e Paulo Salim Maluf (33 milhões de dólares), ex-governador de São Paulo,
deputado federal e acionista da Eucatex, fornecedora de materiais de
construção.
Há
um dado curioso na matéria publicada pela “Forbes”: As informações sobre o
patrimônio dessas personalidades, colhidas junto ao Tribunal Superior Eleitoral
Brasileiro-TSE-, revelam que elas já eram ricas antes de ingressarem na
política, detalhe que suscita boas reflexões sobre a relação entre o poder
financeiro e a política no Brasil.
É
elementar que não se faz política sem dinheiro. O voto, para o exercício de um
mandato eletivo, é a moeda corrente da política, mas ele custa caro. Para se
ter uma idéia, o custo de uma campanha para vereador, deputado estadual,
deputado federal e senador, em valores oficialmente declarados, varia de 600
mil reais a 15 milhões de reais, dependendo da região eleitoral e da fama do
candidato. Para governador, os gastos podem variar de 30 milhões a 200 milhões
de reais, e para presidente da república podem se aproximar de 500 milhões de
reais.
São
valores declarados pelos candidatos como arrecadações e doações de campanha
obtidos junto aos partidos políticos e
organizações empresariais, mas, evidentemente, essa questão hoje suscita prolongados
debates sobre a existência de caixa dois e outros recursos menos transparentes
oriundos até mesmo de organizações criminosas.
A
onda de denúncias sobre a corrupção na política brasileira, frequente nas redes
sociais da internet, cria a imagem da política como seara de corruptos e
oportunidades de enriquecimentos ilícitos, o que nos remete à teoria sobre a
corrupção de Samuel Huntington, um dos conhecidos polítólogos norte-americanos,
que deu consultoria aos governos Geisel e Figueiredo nos processo de descompressão,
distensão e abertura política do regime militar.
Huntington
afirma, em várias conferências, que a corrupção nos países em desenvolvimento
decorre da falta de espaço de sobrevivência para o empresariado nativo diante das
pressões do capital internacional. A concorrência dos grupos externos é tão
grande, que o empresário nacional busca a política como meio de sobrevivência,
ao contrário do empresário de um país desenvolvido, como os Estados Unidos, que
já tem dinheiro e busca a política como ideal complementar de sua carreira. Em
resumo, o empresário brasileiro vê a política como um meio de enriquecimento,
enquanto o empresário dos Estados Unidos, muitas vezes com o sacrifício de seu
próprio bolso, vê a política como um fim.
Quando
se analisa a notícia da “Forbes”, essa teoria um tanto simplista e ingênua de Huntington desaba, pois nenhum
dos milionários brasileiros mencionados serviu-se da política como trampolim para o seu enriquecimento, embora não se possa garantir que não tenham
amealhado mais patrimônio após ingressarem na política. Homens astutos, que sabem ganhar dinheiro na iniciativa privada, ganham com mais rapidez na política, que, pela sua natureza reprodutiva de poder, é por si mesma, o mais eficaz "bem de produção".
Há
várias fontes de poder político, mas eu destacaria, para esta análise, o
patrimônio e a tradição, nem sempre conjugados. Várias oligarquias exercem influência
política no Brasil e não se situam no topo da pirâmide patrimonial. Geralmente,
possuem grande poder econômico nas cidades e no campo, e transmitem por várias
gerações seu gene dominante (os Alves, os Caiado, os Collor, os Neves, os
Sarney, os Magalhães, etc.).
Há
grupos, de ascensão vertical, com grande poder financeiro, sem tradição nenhuma
de mando, mas que, hoje, possuem capacidade de eleger bancadas parlamentares,
governadores e até presidentes. Esse poder financeiro transformou parte do poder
político no “balcão de negócios” a que se refere Ruy Barbosa, mas, na prática
parlamentar, as duas correntes, da tradição e do patrimônio, fluem como rios
paralelos cujas águas não se misturam.
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