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Carlos Alberto Pinto Silva
(Ensaio
extraído do site www.reservaer.com.br)
Quais são
exatamente as possibilidades de conflito na área de Defesa na América do Sul,
se as nações estão perdendo seu “monopólio do emprego da violência” com as
chamadas novas ameaças? Que tipo de integração ou arranjo regional pode fazer
frente a nações de fora da região ou a um grupo hostil não Estado?
Os geoeconomistas,
e outras pessoas desatentas à realidade do relacionamento entre Estados,
argumentam que os países se desenvolvem e os conflitos na área de Defesa
diminuem, numa região, quando as nações se integram e se tornam dependentes uma
das outras, principalmente no comércio e na economia.
É certo que a
interdependência cria laços entre as nações, mas o que se observa é o fato que
com o correr do tempo, o relacionamento torna-se mais difícil e complexo.
A interdependência
(Integração) das nações de uma região faz crescer riscos de consequências
imprevisíveis. A ignorância frente a uma enorme complexidade de interesses diferentes
debilita os vínculos entre objetivos e ações previstas em estratégias comuns, e
incrementa as soluções conjunturais, nem sempre as mais acertadas e de agrado
de todos.
A integração da
América do Sul não deve simplesmente ser considerada como uma questão de
racionalidade econômica, de política exterior, ou de Defesa; deve envolver a
cultura, o estágio de desenvolvimento dos países, a religião, a etnia e
conflitos emocionais (Nacionalismo, imperialismo, e etc.), e, dentro deste
quadro, deve ser considera uma estratégia politicamente desafiadora e de
difícil implantação.
Os países
sul-americanos enfrentam, ainda, conflitos internos relacionados à posse da
terra, pobreza urbana e rural, agronegócio, tribos indígenas, etnicidade e meio
ambiente, tudo isso agravado pela atuação de minorias, pelo racismo e
narcoterrorismo, dificultando, mais ainda, a integração e a defesa de
interesses comuns. As relações entre países tendem a depender cada vez mais de
suas sociedades e menos de seus governos.
Na América do Sul,
a diferença do estágio de desenvolvimento entre os países (agrícola, industrial
com base na energia, industrial com conhecimento tecnológico, e industrial se
iniciando na era da informação), as questões fronteiriças, a instabilidade
política, o curto tempo para negociação e consultas, e a eficácia ou não das
organizações e instituições regionais, fazem se multiplicar os erros de
cálculos estratégicos e tornam muito duvidosas as suposições sobre as quais se
baseia a teoria de “zona de paz”.
As necessidades
divergentes para o desenvolvimento dos países sul-americanos se refletem em
concepções radicalmente diferentes do seu interesse nacional, que com o tempo
poderiam originar agudas tensões no relacionamento regional.
É palpável que os
fatos no mundo atual se produzem cada vez com mais rapidez, acelerando as
mudanças nas atividades políticas e nas atuações necessárias a Defesa, e
tornando a velocidade de decisão e ação fatores primordiais. É visível, ainda,
que os países sul- americanos têm velocidade diferente conforme seu estágio de
desenvolvimento. As diferenças na consciência do tempo nestes países afetam as
decisões e as reflexões estratégicas, principalmente as relativas à Defesa.
Seja por meio de ideologia, religião, propaganda, seja por outros meios, consciente ou inconsciente, as elites administram a vontade nacional, ponto de partida para a implementação de uma estratégia vitoriosa de desenvolvimento e de defesa. A integração da América do Sul, vontade dos governos dos Estados da região, tem que ter o consenso das sociedades envolvidas. Nenhuma estratégia de Desenvolvimento e de Defesa pode se autossustentar sem uma sociedade e uma cultura nacional (Vontade nacional) que a hospede e abrigue.
Seja por meio de ideologia, religião, propaganda, seja por outros meios, consciente ou inconsciente, as elites administram a vontade nacional, ponto de partida para a implementação de uma estratégia vitoriosa de desenvolvimento e de defesa. A integração da América do Sul, vontade dos governos dos Estados da região, tem que ter o consenso das sociedades envolvidas. Nenhuma estratégia de Desenvolvimento e de Defesa pode se autossustentar sem uma sociedade e uma cultura nacional (Vontade nacional) que a hospede e abrigue.
Ao se pensar em
equilíbrio de poder na América do Sul (outro fator necessário à integração),
caso seja algo possível de se obter, é importante considerar a diferença
gritante do poder dos Estados e, também, prestar atenção em outros atores do
jogo do poder como: à força das ONGs; das corporações; dos sindicatos; dos
grupos sociais; e das religiões. A capacidade de uma região ou um país se
desenvolver, se defender, e criar riquezas é, acima de tudo, um acúmulo de
possibilidades. A dúvida é como aplicar a ideia na América do Sul com países de
interesses próprios e possibilidades tão discrepantes.
A condição do
Brasil de país mais “rico” da América do Sul tem levado outros atores do seu
entorno estratégico à tentativa de sempre tirar vantagens no relacionamento
bilateral, ou no âmbito de organismos multilaterais, dificultando para o
governo o relacionamento e as ações conjuntas necessárias à integração. Talvez
esse seja o preço que o Brasil tenha que pagar pela liderança regional.
Quer as elites
sul-americanas gostem ou não, o Brasil precisa de recursos, mercados, energia,
oportunidades, ideias, informações de todo o globo, e não apenas de seus
vizinhos da América do Sul, pois, sua agenda política e estratégica é global.
Com integração ou
não na América do Sul, o fato é que o alcance espacial estratégico do Brasil
extrapola a região, e vem passando por uma grande transformação, e o Brasil,
neste mundo multipolar, tem importância estratégica como ator global.
Sendo o Brasil o
único país da América do Sul que tem capacidade para agir como ator global,
deve ter uma política externa mais pragmática e menos ideológica e assumir seu
novo papel como sexta economia mundial.
Há questões a
serem respondidas: O Brasil, nesse mundo multipolar, deve atuar como ator
global ou regional? É melhor para o Brasil, neste mundo globalizado, negociar
como país ou representando a América do Sul? Qual o valor da integração sul
americana e a necessidade ou falta de necessidade dela para que o Brasil
conduza sua política externa visando à defesa dos seus interesses seja na área
do desenvolvimento ou da defesa?
Qual o “rastro”
econômico, tecnológico e estratégico que o Brasil deixa quando, por exemplo,
uns de seus produtos, os aviões da Embraer, são vistos voando nos Estados
Unidos, na Europa, e na Ásia?
América do Sul
vive um período de paz, desenvolvimento e diversidades. Isso não quer dizer que
os problemas não existam. Basta uma pequena análise da conjuntura para se
avaliar a América do Sul uma região dividida, com o desenvolvimento brasileiro,
o chavismo venezuelano, a mística indígena boliviana, o esquerdismo de Rafael
Correa, o populismo argentino, o esquerdismo uruguaio, e a suspenção do
Paraguai do Mercosul.
O Brasil tem sido
de uma paciência chinesa na relação bilateral com os países Sul- americanos na
tentativa de salvar o projeto de integração da região, mas a América do Sul
continua cheia de diferenças, dificultando sua integração e a busca da
convergência nas áreas políticas, econômicas e de defesa.
A integração
regional pode ser necessária no entendimento de alguns, mas não basta e às
vezes atrapalha a defesa dos interesses do Brasil como ator global. O projeto
de “Brasil país do futuro” não deve ser o de líder regional, mas o de potencia
global, como são Rússia, Índia e China (BRICS).
* O autor é General de Exército da reserva;
ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do
Comando de Operações Terrestres, e Membro da Academia de Defesa.
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