sexta-feira, 31 de outubro de 2014

As cinco vertentes de oposição a Dilma Rousseff


Fala-se que o Brasil saiu dividido dessas últimas eleições presidenciais, com a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff. Mostram-se mapas coloridos ressaltando as votações de Dilma e Aécio em cada região, para caracterizar que a sociologia do voto favoreceu Dilma nas regiões onde são distribuídas as diversas bolsas assistencialistas do Governo (Nordeste/Norte), embora se saiba que os votos do Nordeste e Norte somados para Dilma foram 24.569.880, enquanto que os votos do Sudeste para a petista somaram 26.627.802.

Esse argumento do divisionismo interessa aos perdedores, à oposição interna, que pretende forrar o caminho de Dilma, nesses próximos quatro anos, com cascas-de-banana. Mas eu pergunto: Qual oposição?

A Presidenta Dilma Rousseff tem, pelo menos, cinco vertentes oposicionistas bem nítidas, antes de assumir seu mandato em janeiro: O Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB-, de Aécio Neves, e demais partidos coligados na última campanha; uma ala solerte do Partido dos Trabalhadores - PT-, uma ala declarada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-, o Democratas e demais partidos pequenos de centro-direita no Congresso Nacional, e parte da sociedade, milhões de pessoas que votaram contra a permanência do PT no governo, aí inclusos  empresários e órgãos de comunicação impressa e eletrônica que fizeram oposição a Dilma.

Mas, observe-se que as Forças Armadas, a Igreja Católica, os sindicatos, as grandes Organizações Não-Governamentais, as transnacionais de grande porte (em especial as do petróleo, com algumas exceções das que apostaram em Aécio), os governos dos países do G-7, etc., enfim, os atores de grande peso no cenário político internacional e que exercem influência nas decisões políticas nacionais, nas votações do Parlamento brasileiro, permaneceram quase que mudas, não obstante alguns “ruídos” provocados pelo mercado pró-Aécio e Marina.

A equação da governabilidade é simples: G= legitimidade + eficácia. Ou seja, Dilma ganhou legitimidade nas urnas, mas necessita de obter agora eficácia governamental. Duas medidas se impõem de imediato para que a Presidenta Dilma Rousseff consiga debelar esses focos de oposição interna setorizados, que constituem um arquipélago de ameaças ao seu mandato, ou ao menos para que consiga estabelecer garantia razoável da sua governabilidade: Combater a inflação e recuperar o crescimento econômico.

Dilma precisa nomear um ministro da Fazenda, um “primeiro-ministro”, capaz de acalmar o mercado, com sólido apoio no Congresso Nacional, o que requer ainda um coordenador político experiente e com trânsito suprapartidário. Sem garantir a homeostase de sua administração, corre o risco de enfrentar sérias turbulências e levar o Brasil ao desequilíbrio político-institucional.

Quando anuncia reforma política como prioridade, Dilma foge do figurino marxista, que considera a economia prioritária, mas, no fundo, essa reforma, que ainda permanece obscura, muito mais quando se propõe um plebiscito para sua definição, funciona como biombo para os problemas econômicos.

O PT é hoje um partido “oligarquializado”. Começou como partido de massas e chegou à condição de partido dominado por alguns dirigentes, entre os quais o ex-presidente Lula, que faz sol e chuva dentro da legenda, sem oposição aberta. É o velho problema apontado por Robert Michels em seu clássico “Sociologia dos Partidos Políticos” (1914). Os que, silenciosamente, dentro do partido, são contra a volta de Lula, porque têm sua ambição pessoal, fazem oposição velada a Dilma, que teve no ex-presidente um grande cabo eleitoral.

O PMDB de Michel Temer, Vice-Presidente da República, reeleito com Dilma, não é o mesmo do deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, reconduzido à liderança na Câmara dos Deputados e aspirante à Presidência da Casa, ainda que tenha que atropelar a bancada majoritária do PT. O PMDB é o garantidor da coalizão com o PT para governar o País, mas seus rebeldes no Congresso podem aderir taticamente à oposição do PSDB e outros partidos, nas votações de maior interesse do Governo.

As redes sociais, extremamente agitadas pelo processo eleitoral, já mostraram que são mercuriais e que não absorveram a derrota de Aécio Neves. O antipetismo se tornou endêmico na internet. Diariamente, as redes sugerem movimentos de oposição e Impeachment à Presidenta Dilma, como numa espécie de reedição daquele movimento dos estudantes “carapintadas” contra o Presidente Collor. O combustível principal é a corrupção dentro da Petrobrás, que Dilma deve apurar o mais rápido possível.

Um problema aparentemente setorizado, desgastante para o PSDB, do governador Geraldo Alkmin, e o PT do prefeito Fernando Haddad, a escassez de água em São Paulo, gera estilhaços no próprio Governo Federal, minando a governabilidade, à medida que o clima de estresse paulistano interfere no humor nacional, irradiando para todo o País a sensação de impotência diante de óbices conjunturais. Que o governo federal apresse seu apoio ao governo paulista, acima dos interesses partidários.

Não é a dimensão da ventania, da tempestade em si, que ameaça o barco ou o avião, mas, sim, a habilidade do timoneiro e do piloto em contornar o desafio. O Brasil é um país gigante e não concede a nenhum governante o direito de governá-lo como se estivesse em zona de conforto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário