Fala-se que o Brasil saiu
dividido dessas últimas eleições presidenciais, com a reeleição da Presidenta
Dilma Rousseff. Mostram-se mapas coloridos ressaltando as votações de Dilma e
Aécio em cada região, para caracterizar que a sociologia do voto favoreceu
Dilma nas regiões onde são distribuídas as diversas bolsas assistencialistas do
Governo (Nordeste/Norte), embora se saiba que os votos do Nordeste e Norte
somados para Dilma foram 24.569.880, enquanto que os votos do Sudeste para a
petista somaram 26.627.802.
Esse argumento do divisionismo
interessa aos perdedores, à oposição interna, que pretende forrar o caminho de
Dilma, nesses próximos quatro anos, com cascas-de-banana. Mas eu pergunto: Qual
oposição?
A Presidenta Dilma Rousseff tem,
pelo menos, cinco vertentes oposicionistas bem nítidas, antes de assumir seu mandato
em janeiro: O Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB-, de Aécio Neves,
e demais partidos coligados na última campanha; uma ala solerte do Partido dos Trabalhadores
- PT-, uma ala declarada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-,
o Democratas e demais partidos pequenos de centro-direita no Congresso Nacional,
e parte da sociedade, milhões de pessoas que votaram contra a permanência do PT
no governo, aí inclusos empresários e órgãos
de comunicação impressa e eletrônica que fizeram oposição a Dilma.
Mas, observe-se que as Forças
Armadas, a Igreja Católica, os sindicatos, as grandes Organizações
Não-Governamentais, as transnacionais de grande porte (em especial as do
petróleo, com algumas exceções das que apostaram em Aécio), os governos dos
países do G-7, etc., enfim, os atores de grande peso no cenário político
internacional e que exercem influência nas decisões políticas nacionais, nas
votações do Parlamento brasileiro, permaneceram quase que mudas, não obstante alguns
“ruídos” provocados pelo mercado pró-Aécio e Marina.
A equação da governabilidade é
simples: G= legitimidade + eficácia.
Ou seja, Dilma ganhou legitimidade nas urnas, mas necessita de obter agora
eficácia governamental. Duas medidas se impõem de imediato para que a
Presidenta Dilma Rousseff consiga debelar esses focos de oposição interna setorizados,
que constituem um arquipélago de ameaças ao seu mandato, ou ao menos para que
consiga estabelecer garantia razoável da sua governabilidade: Combater a
inflação e recuperar o crescimento econômico.
Dilma precisa nomear um ministro
da Fazenda, um “primeiro-ministro”, capaz de acalmar o mercado, com sólido
apoio no Congresso Nacional, o que requer ainda um coordenador político
experiente e com trânsito suprapartidário. Sem garantir a homeostase de sua
administração, corre o risco de enfrentar sérias turbulências e levar o Brasil
ao desequilíbrio político-institucional.
Quando anuncia reforma política
como prioridade, Dilma foge do figurino marxista, que considera a economia prioritária,
mas, no fundo, essa reforma, que ainda permanece obscura, muito mais quando se
propõe um plebiscito para sua definição, funciona como biombo para os problemas
econômicos.
O PT é hoje um partido “oligarquializado”.
Começou como partido de massas e chegou à condição de partido dominado por
alguns dirigentes, entre os quais o ex-presidente Lula, que faz sol e chuva
dentro da legenda, sem oposição aberta. É o velho problema apontado por Robert Michels
em seu clássico “Sociologia dos Partidos Políticos” (1914).
Os que, silenciosamente, dentro do partido, são contra a volta de Lula, porque
têm sua ambição pessoal, fazem oposição velada a Dilma, que teve no
ex-presidente um grande cabo eleitoral.
O PMDB de Michel Temer,
Vice-Presidente da República, reeleito com Dilma, não é o mesmo do deputado
Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, reconduzido à liderança na Câmara dos
Deputados e aspirante à Presidência da Casa, ainda que tenha que atropelar a
bancada majoritária do PT. O PMDB é o garantidor da coalizão com o PT para
governar o País, mas seus rebeldes no Congresso podem aderir taticamente à
oposição do PSDB e outros partidos, nas votações de maior interesse do Governo.
As redes sociais, extremamente
agitadas pelo processo eleitoral, já mostraram que são mercuriais e que não
absorveram a derrota de Aécio Neves. O antipetismo se tornou endêmico na
internet. Diariamente, as redes sugerem movimentos de oposição e Impeachment à Presidenta Dilma, como
numa espécie de reedição daquele movimento dos estudantes “carapintadas” contra
o Presidente Collor. O combustível principal é a corrupção dentro da Petrobrás,
que Dilma deve apurar o mais rápido possível.
Um problema aparentemente
setorizado, desgastante para o PSDB, do governador Geraldo Alkmin, e o PT do
prefeito Fernando Haddad, a escassez de água em São Paulo, gera estilhaços no
próprio Governo Federal, minando a governabilidade, à medida que o clima de estresse
paulistano interfere no humor nacional, irradiando para todo o País a sensação
de impotência diante de óbices conjunturais. Que o governo federal apresse seu
apoio ao governo paulista, acima dos interesses partidários.
Não é a dimensão da ventania, da
tempestade em si, que ameaça o barco ou o avião, mas, sim, a habilidade do
timoneiro e do piloto em contornar o desafio. O Brasil é um país gigante e não
concede a nenhum governante o direito de governá-lo como se estivesse em zona
de conforto.
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