O relatório final da Comissão Nacional
da Verdade, que menciona 377 nomes de militares e civis como responsáveis, direta
ou indiretamente, pela morte de 191 pessoas e o desaparecimento de 243 oponentes
ao regime militar instaurado em 1964, pode ser comparado a uma granada da qual se tirou o
pino de segurança e se encontra prestes a explodir mandando estilhaços para todos os lados. Com esta granada sem pino de segurança, tudo pode acontecer, ou nada acontecer, mas vale recordar a declaração do general celta Breno, comandante dos gauleses, depois de capturar e saquear Roma, em 347 A.C.:"Vae Victis!"(Ai dos Vencidos!).
O relatório inclui os ex-presidentes
Castelo Branco, Costa e Silva, a junta militar composta pelo general Lyra
Tavares, almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Souza e Melo, Emílio Médici,
Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Comenta-se que o próprio governo
está preparado para uma forte reação contra o documento, por parte dos setores
mais conservadores, civis e militares, remanescentes do regime militar, mas, a verdade
é que nunca se sabe quais são a extensão e profundidade do impacto de tal
denúncia, quando o próprio Clube Militar divulga documento-resposta com a
relação de 120 militares que perderam a vida vitimados pelos grupos armados
terroristas; a própria presidente Dilma Rousseff pertenceu a um desses grupos -o
Vanguarda Armada Revolucionária –Var-Palmares. Para o presidente do Clube
Militar, general Gilberto Rodrigues Pimentel, o relatório é “peça requentada
porque só confirma bandeiras preexistentes da esquerda brasileira”.
O comandante da Marinha,
almirante Júlio Soares de Moura Neto, até este momento, foi o único dos três chefes
militares a se pronunciar e disse que a Comissão cumpriu seu papel, mas a
reação da presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Victoria
Grabois, foi de insatisfação com o
documento da Comissão da Verdade; e ela acha
o governo Dilma Rousseff acomodado e pede a abertura dos arquivos do período
militar, a exemplo de sua colega de São Paulo, Rose Nogueira. O Clube Naval
publicou documento, assinado pelo seu presidente, vice-almirante reformado
Paulo Frederico Soriano Dobbin, em desagravo aos militares da força citados
pela comissão, entre os quais almirantes Álvaro Resende Rocha, Maximiano
Eduardo da Silva Fonseca e Alfredo Karam.
Reproduzo aqui artigo de autoria
do general-de-exército reformado Rômulo Bini Pereira,ex-chefe do Estado-Maior
da Defesa, publicado no jornal “O Estado de S.Paulo”, edição do último dia 10:
“O PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO”
Em 1987 o Congresso
Constituinte deu início aos trabalhos legislativos que culminaram na elaboração
da nova Constituição Brasileira, promulgada em 05 de outubro de 1988. Por mais
de quinze meses, intensos debates foram realizados pelos congressistas, não sendo,
entretanto, observada qualquer referência ou simples menção quanto à Lei da
Anistia (Lei 6683, de 28 de agosto de 1979). As lideranças políticas da época
consideraram que, além de ser uma via para a reconciliação nacional, a lei era
um compromisso político acordado, no passado, pelos seus antecessores, e que
efetivamente cumpria a sua missão, encerrando um ciclo de luta fratricida. O
STF, em 2010, diante do mesmo consenso político de que ela seria ampla, geral e
irrestrita, validou a Lei da Anistia, mantendo-a sem alteração no seu conteúdo.
Em novembro de 2011, a
presidenta Dilma sancionou a Lei 1258, instituindo a Comissão da Verdade (CNV)
“a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a
reconciliação nacional”. Novamente nenhuma referência ou menção sobre a Lei da
Anistia foi observada em seus artigos. Após três anos de trabalhos e elevados
custos, o que se pode deduzir de seu relatório final é que a memória é unilateral, a verdade
aparece pela metade e a reconciliação está a cada dia mais distante e difícil.
A imparcialidade preconizada pela lei não foi atendida e o maniqueísmo está
presente a propalar que existe o “lado bom”, o seu; e o “lado mau”, o outro. E,
ainda, — sem surpresas para quem
acompanha o tema — o relatório propõe
que A Lei Da anistia seja reformulada responsabilizando criminalmente os
agentes do Estado, um escopo obsessivo das esquerdas brasileiras. A
bilateralidade da lei seria, então, revogada.
Já que foi reeleita, a
presidenta Dilma poderia esforçar-se exatamente como fez no primeiro mandato,
no sentido de também ser criada outra comissão com idênticos parâmetros da Lei
1258, atendendo, no mínimo, o princípio universal de Justiça: o contraditório.
Estaria dando uma demonstração de seu espírito democrático ao mundo, em
particular a nós brasileiros. Esta nova lei poderia se denominar Segunda
Comissão Nacional da Verdade, com a sigla SCNV, tão a gosto de muitos
intelectuais, e teria o mesmo caráter pluralista e os mesmos recursos dados à
CNV. Seria constituída por militares e civis comprometidos com os ideais
democráticos. A título de cooperação, seis “recomendações” poderão ser úteis
nos trabalhos que serão conduzidos pela SCNV. A saber:
1 - Que seja
definitivamente esclarecida ao povo brasileiro que tipo de democracia as
organizações terroristas almejavam: uma de caráter ocidental ou uma do
proletariado, esta à semelhança dos antigos regimes russo, chinês, ou albanês,
ou então dos atuais regimes cubano e bolivarianos.
2 - Que sejam
registrados os países que apoiaram a luta armada em nosso país com recursos
financeiros e cursos de guerrilha a partir de 1960, e a relação dos que se
especializaram nas ações terroristas.
3 - Que sejam apontadas
as lideranças de esquerda (vivas e mortas) que, irresponsavelmente, empregaram
jovens idealistas despreparados para
tais ações de guerrilha, urbana ou rural.
4 - Que sejam
detalhados todos os crimes perpetrados por essas organizações de esquerda —
mais de duzentos — antes e depois do Ato Institucional no 5, tais como atentados,
sequestros com mortes, assassinatos bárbaros de inocentes e de militares
estrangeiros, justiciamentos, roubos a bancos, instituições e casas de
governantes, bem como o nome completo e o codinome dos que realizaram tais
crimes.
5 - Que sejam apurados
somente fatos e não versões. A atual comissão se especializou em criar versões
que tiveram enorme repercussão em toda mídia. Envenenaram um presidente,
assassinaram outro, acusaram um general de ter sido subornado, criaram
organizações militares especializadas em torturas, fornos crematórios, casas de
terror, acidentes com artistas, e até a utilização de répteis peçonhentos em
interrogatórios, sem contar os testemunhos de pessoas inidôneas e
psicologicamente doentias.
6 - Finalmente, a nova
comissão deverá rever os milhares de indenizações e salários pagos aos
perseguidos pelo regime militar. Um verdadeiro festival de benesses onde o lema
das esquerdas foi seguido à risca: "Se for preso ou interrogado, diga que
foi torturado". E o total pago já atinge a cifra dos bilhões, tudo na
conta do cidadão brasileiro. Uma vantajosa venda de ideais e um lucrativo
investimento que deverá ser dado a conhecer à sociedade brasileira.
Caso seja aceita esta
sugestão, o seu conceito junto aos três Chefes militares e admiração que estes
lhe devotam terão significativo aumento.
A SCNV deverá apresentar seu
relatório em curto prazo. Ele se tornará uma peça fundamental para que o povo
brasileiro seja esclarecido das razões que o segmento militar foi levado a
defender o Estado brasileiro. Seria a verdade do outro lado. A comparação dos
dois relatórios revelará como a Lei da Anistia foi sábia. Ela viabilizou uma
transição conciliadora e pacífica entre os dois lados confrontantes, por mais
de trinta anos.
Nos momentos críticos
pelos quais passa a nação, com uma economia fragilizada, escândalos de
corrupção diários e um país dividido eleitoralmente, a CNV veio agravar a atual
crise brasileira, quebrando qualquer possibilidade de conciliação. É de se
perguntar como seus integrantes — ditos intelectuais, mas extasiados pelas
ideologias de esquerda e pela notoriedade —
não perceberam que suas ações poderiam fomentar ainda mais o clima de
desunião presente no país. Agora, se desejavam o agravamento desta crise com consequências
imprevisíveis, a conclusão é clara: estariam pondo em prática o que preconizam
os intelectuais gramcistas do Foro de São Paulo.’
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