Aylê-Salassié F. Quintão*
Juscelino Kubitscheck, médico, acreditava na auto-estima elevada para ajudar o País a se unir e a crescer. Prometeu que conseguiria “50 anos de crescimento em 5” . O economista Mário Henrique Simonsen, enquanto ministro da Fazenda e professor da Fundação Getúlio Vargas, assegurava, nos momentos difíceis de controle da inflação, que ela era psicológica, e minimizava “Inflação do chuchu!”.
Seguindo caminho similar, Lula, que não é nem médico , nem economista, juntou a política com a economia e oferece uma solucionática para a crise brasileira, recomendando que, como “nunca antes neste país” , o governo continue a vender a ideia messiânica do desenvolvimento, ignorando a precarização tecnológica, a queda da produção e as altas taxas de desemprego
Seguindo caminho similar, Lula, que não é nem médico , nem economista, juntou a política com a economia e oferece uma solucionática para a crise brasileira, recomendando que, como “nunca antes neste país” , o governo continue a vender a ideia messiânica do desenvolvimento, ignorando a precarização tecnológica, a queda da produção e as altas taxas de desemprego
Esse panorama de ilusões sempre permeou a esperançosa conivência na sociedade brasileira, dando ao cidadão uma cara de bobo. E como tem gente que ganha dinheiro com isso, legal e ilegamente! Simonsen deixou o governo com uma inflação superior a 50%. JK, com seu Plano de Metas, uma dívida que deu origem a iliquidável dependência brasileira do mercado financeiro internacional. E Lula, com fórmula própria, derrubou índices de qualidade, de produtividade e de renda na economia alcançados em anos de sacrifícios acumulados, servindo-se de paradigma para quem não gosta do trabalho .
As carências regionais e municipais foram legadas ao abandono pelos sonhos políticos e pessoais dos correligionários, sem pedigree de estadista nem conhecimento de gestão pública. Suas virtudes concentravam no “cumpanheirismo”. A par disso, a Constituição e as leis correlatas continuaram a assegurar direitos individualmente adquiridos nas instâncias superiores da lei e dos tribunais, fragilizando institutos e instituições, e flexibilizando ainda mais as análises jurídicas e as jurisprudências . De tempos para cá, a Nação passou a pagar, sem perceber, de alguma forma, preços muito altos pela aventura dos dirigentes no Poder.
Nos últimos anos, de fato, nenhuma grande iniciativa econômica priorizou efetivamente o trabalho e a produção fora dos projetos corporativos. Valorizou-se o político e o empreguismo fácil para a perpetuação das categorias organizadas – vanguarda revolucionária -, como forma de amparar as conquistas. Introduziu-se um modelo de redistribuição da riqueza, não necessariamente a dos mais ricos, mas a do setor produtivo e dos assalariados médios. Instituiu-se uma política macro de consumo amplo, financiada pelos cofres do Estado, como se houvesse aí uma redistribuição de renda, numa interpretação autista sobre os sonhos do brasileiro. Embora o modelo tenha vindo da China , chegou-se até em aventar, por aqui, entre pares, um nome brasileiro para o prêmio Nobel .
Nessa toada, apareceu, pela primeira vez na história, um Orçamento Público deficitário, com 90% das despesas contingenciadas. Os 10% restantes que seriam para os investimentos não tem como corrigir as fragilidades estruturais da sociedade, porque, compulsoriamente, quando emergirem, deverão ser usados para pagar dívidas e rombos de gestões econômicas pouco ortodoxas com o dinheiro público, cobertas, até agora, pelo prejuízo das estatais, por precatórios, ameaças de uma CPMF , deixando na mira até a poupança .
Enfim, o modelo de consumo amplo e irrestrito, financiado pelas contas públicas , sem a contrapartida da produção, exauriu aqui e fraqueja na China . As empresas já não produzem o suficiente, o trabalho não reproduz a riqueza e o PIB decresce. A gestão pública promete estimular a atividade produtiva, mas age como um “cafetão” cerceando e intimidando os empresários e políticos e inibindo a informalidade individual.
Não há apelo, incentivo ou subsídio fiscal capaz de detonar um surto de otimismo na indústria e na agricultura . Perdeu-se a capacidade de fazer mágica e o pior de se acreditar nela. Os instrumentos para lá de heterodoxos se esgotaram, e junto a sua eficácia .
Há alguns anos o País está paralisado pela venda de indulgências salvacionistas para financiar projetos de Poder , sem quaisquer preocupação com o caos. Sustentam-se apenas naquilo que se convencionou chamar de jus sperniandi , formas protelatórias geradas pela máquina .
Tem um milhão de assinaturas na internet pedindo a prisão dos magos conselheiros e governantes. Para a frustração da Nação, o momento não propicia políticos sérios e corajosos, cientistas sociais isentos e economistas competentes para avaliar e propor uma saída.
Tudo está entregue a ideologias fragmentárias, sem quaisquer preocupações com a desordem e a confusão mesmo. Parece até ser isso um objetivo. No mínimo, “se por aqui o povo tem o governo que merece” é porque “abaixo do Equador tudo é possível”.
*Jornalista e professor. Doutor em História Cultural. Consultor da Catalytica Empreendimentos e Inovação Social
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