Eu penso que Argentina aceitou, durante
12 anos, o desgoverno dos Kirchner, e fico a refletir como é possível que
41,4milhões de argentinos tenham se deixado enganar, durante tanto tempo, por
duas figuras de questionável capacidade diretiva e pálida liderança política.
Estamos falando dos peronistas,
gente que tem em Juan Domingo Perón um exemplo de governante carismático,
totalmente oposto a Nestor e Cristina Kirchner, que chegaram à Casa Rosada em
2003.
Começo a duvidar de que os
governos dos atuais estados contemporâneos tenham mesmo algum papel importante
na vida dos seus povos, além de simular, pelo sistema da representação
política, a realização dos seus anseios, das suas necessidades e das suas
reivindicações.
Será que Maurício Macri, de
família argentina abastada e eleito novo Presidente, vai ser diferente dos seus
dois antecessores, ainda mais com o vizinho Brasil vivendo grande crise
política e econômica?
Houve um tempo na Grécia em que
até os tiranos e reis eram preferidos pelo povo aos patrícios/aristocratas, mas
com o tempo eles foram perdendo sua
eficácia política e o povo, sem mais ter a quem recorrer, resolveu tomar o
poder e governar pela democracia, apesar dos riscos desta se degenerar em
populismo e demagogia. Mas, vejo na Argentina um país imprevisível.
Lendo o blog do ex-ministro das
Relações Exteriores do Brasil, embaixador Luiz Felipe Lampréia, que ocupou a
pasta no Governo Collor, mais estarrecido fico. O ex-ministro escreve:
“Desde 2003, o país foi governado pelo casal
Kirchner e sua herança é maldita. Cristina, no poder desde 2007, deixa a
Argentina em frangalhos, depois de meter a mão nas reservas do Banco Central, manipular
o equivalente argentino do IBGE, acossar a imprensa independente e aviltar o
poder judiciário. As cifras econômicas do seu legado são péssimas: o
crescimento está em zero nos dois últimos anos, o peso artificialmente
valorizado, o déficit publico chega 6% do PIB, a inflação situa-se em 25%.
A Argentina está em moratória e, portanto, sem crédito internacional, e
seus principais produtos de exportação perderam muito valor e hoje, para fazer
face a esta situação, figura como a campeã mundial do protecionismo (atingindo
gravemente os interesses brasileiros).Raramente um governante terá causado
tanto dano a seu próprio povo.
Macri vai ter que tentar reverter este quadro dramático. Cada um dos
dois tem sua receita, mas, superar a terra arrasada que Cristina Kirchner
deixa, será como escalar o Himalaia.”
O embaixador sabe o que diz. Não
gosto de escrever com base em minhas impressões pessoais, que não possam ser bem fundamentadas, mas acredito que a Argentina
acompanhará o Brasil, descendo ou subindo, pelo princípio dos vasos
comunicantes, lembrando o que me dizia um diplomata, embaixador e ex-ministro
argentino, Oscar Camilion, aqui em Brasília: “Os dois países estão ligados como vasos comunicantes."
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