terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Incursões artísticas na política: Havel,Neimar e Roberto Carlos


A cultura, o lazer e o entretenimento são poderosos instrumentos de projeção do poder nacional, elementos básicos de qualquer projeto de propaganda política e ideológica, sem as quais nenhum governante obtém o consentimento dos governados (ou das massas).

O homem político de Robert Dahl não é necessariamente o político profissional, alguém imbuído da vontade de conquistar e manter o poder; pode ser, em sua origem, um artista, um artesão, um escritor, um circense, unindo o seu talento profissional ao objetivo político em si.

É o caso do ex-presidente da Tchecoslováquia (1989-1992) Václav Havel, dramaturgo e escritor, recém-falecido, que liderou a “Revolução de Veludo”, que desmantelou o regime comunista no seu país, após a queda do Muro de Berlim, levando à divisão da Tchecoslováquia em Eslováquia e República Tcheca e vindo a presidir essa última (1993-2003).

Lembro-me de ter ouvido pessoalmente e lido de Roberto Campos, quando parlamentar, ardoroso admirador de Václav Havel, ser este figura instigante e certa para o governo de seu país naquele momento de desmantelamento do império soviético, de fragmentação das nações do Leste Europeu e busca, pelas mesmas, de fortalecimento da opção pela economia de mercado.

O exemplo de Havel me inspira a falar de dois ícones brasileiros, um mais recente, Neimar, jogador de futebol, e outro mais antigo, o “rei” Roberto Carlos. Dois extraordinários artistas, do futebol e da música.

Depois do fiasco mal explicado do Santos, que jogou como um time com complexo de inferioridade contra a equipe do Barcelona, na disputa do título mundial de futebol, Neimar teria declarado que os brasileiros tiveram uma aula de futebol do professor Messi e seus companheiros.

Nesse caso do Santos, houve a projeção negativa do poder nacional, com desgaste para a imagem do Brasil, que é pentacampeão do mundo e só tem a ensinar, e não a aprender, com os espanhóis. E o futebol, junto com a música, é o maior promotor do Brasil perante o mundo.

O show de Roberto Carlos, diretamente de Jerusalém, transmitido pela TV Globo, no último dia 25, pode ser considerado como o maior evento de projeção do poder nacional de 2011. Foi um espetáculo artístico-cultural (e até religioso) de repercussão no mundo inteiro.

O mundo árabe, conturbado pela “primavera árabe”; israelenses e palestinos, em frequentes e infindáveis escaramuças; a Europa em depressão econômica e os Estados Unidos, engolfados em volumosa dívida, viram um ícone do Brasil, agora a sexta economia do mundo, um mercado atraente para os investidores, cantar para o mundo diretamente do berço do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. É um fato de suma importância no “mercado político”.

A cultura é componente da expressão psicossocial do poder nacional, com pertinência em relação às demais expressões política e econômica. Tanto pode somar quanto subtrair...


Um comentário:

  1. Caro Feichas: sobre a projeção de poder pela cultura, vejo agora excelentes oportunidades internacionais para o Brasil, por intermédio da UNESCO e da FAO. A Presidenta Dilma Rousseff, ao visitar a terra do seu pai, declarou que a cooperação do seu governo com a Europa se faria por intermédio da Bulgária. Ao mesmo tempo, a atual Diretora-Geral da UNESCO é uma ex-Chanceler búlgara e um dos pontos fortes das nossas possibilidades é a cooperação técnica encaminhada diretamente aos países pobres, ou triangulada com organismos internacionais ou países mais ricos. Poderemos ajudar muitas nações com a tecnologia da EMBRAPA para a produção de alimentos, por exemplo, e na FAO está agora o brasileiro José Graziano, que não quer manter a antiga política paliativa que produzia poucos resultados reais e palpáveis. Esses dois aspectos juntos são extremamente promissores, além do muito que poderemos fazer, em cultura propriamente dita, com os países lusófonos que também integram a UNESCO.Minha primeira experiência na carreira diplomática foi um estágio de dois meses na UNESCO, mas confesso que naquela época nem pensei que em três décadas mais estaríamos tão bem situados para ajudar a melhorar este mundo azul. Frederico Abbott Galvão

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