Wilson Périco ( Presidente do Centro das
Indústrias do Amazonas)
O apoio decisivo
do governo Dilma, expresso na aprovação parcial dos 12% para Zona Franca de
Manaus, na última votação da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal,
dentro do projeto de unificação do ICMS, provocou a mobilização dos Estados
contra o modelo.
A retaliação veio a galope, multiplicou-se em manchetes e
análises nos principais jornais do país, foi às ruas em passeata e provocou a
ida dos secretários de Fazenda de todo o país, incluindo antigos aliados, em
romaria ao gabinete do presidente do Congresso Nacional.
E certamente não vai
parar, depois desses dias de idas e vindas da aprovação da MP dos Portos. As
manobras de bastidores seguirão frenéticas e as pressões contra a ZFM se farão
sentir em todas e próximas discussões de uma pauta que inclui a prorrogação e a
ampliação dos incentivos para a Região Metropolitana de Manaus.
Em todo esse
imbróglio e tiroteio, temos mantido um silêncio obsequioso, que permite diversas
especulações e interpretações de sentido, com implicações que podem transformar
as distorções disseminadas em dogmas inquestionáveis.
Quem cala consente, diz a
sabedoria popular. E boato, quando bem espalhado, pode correr o risco de se
transformar em fato. Assim procedendo estamos aceitando, passivamente, que seja
jogada toda a opinião pública nacional contra o modelo Zona Franca de Manaus.
Silenciar é concordar as críticas e compactuar com ineficácia do modelo na
defesa do patrimônio florestal e que, de fato, usamos dezenas de bilhões de
reais da renúncia para gerar 100 mil míseros empregos entre outras
obscenidades.
Sobra confusão
e falta brasilidade –
Na avaliação
dos secretários estaduais de Fazenda de todo o país, o texto aprovado não acaba
com a guerra fiscal, nem equaciona a complexidade do sistema tributário, razão
e motor principal que provocaram a necessidade da Reforma Fiscal, tão
historicamente procurada e sistematicamente evitada pela recusa generalizada de
se buscar o interesse maior da brasilidade nas discussões.
O titular da Fazenda do
Maranhão, o estado proporcionalmente mais aquinhoada nas transferências
constitucionais de recursos, pontifica que o texto aumenta a complexidade
fiscal, pois mantém sistema de desigualdade de alíquotas, desmerecendo os
esforços de combate às desigualdades regionais.
O representante do Pará é
taxativo: O objetivo de racionalizar o ICMS não será alcançado pois o texto
produziu uma estrutura mais complexa do que a atual e de controle mais difícil.
Na contramão do pessimismo, o secretário do Paraná ponderou que a guerra fiscal
deverá diminuir porque o fundo de desenvolvimento regional que está sendo
discutido em paralelo às mudanças do ICMS prevê que não haverá repasses para
Estados que pratiquem guerra fiscal.
E por aí a querela, em direção a lugar
algum. Ninguém ponderou o alerta insistentemente repetido pelo relator do
projeto da reforma do ICMS, segundo o qual 87% das transações comerciais no
país se enquadrarão na faixa de 4%, o que na prática representa um avanço na
direção da unificação de alíquotas. Sobra, pois, confusão e falta brasilidade.
Prerrogativas
Constitucionais –
Nesta semana, num
manifesto à Nação, pilotado pela ABINEE e demais entidades da indústria
paulista predominantemente, foi feita uma leitura do catastrofismo estratégico,
o anúncio da completa desindustrialização iminente, caso o plenário do Senado
aprove o texto da Comissão, na prática, os 12% da Zona Franca de Manaus.
A
grita tem muito ou tudo a ver com a guerra particular com a indústria de
informática, que a Suprema Corte, em mais de uma oportunidade, deu como resultado
favorável à ZFM, numa leitura simples e direta dos artigos 40 e 92 do ADCT-88.
É a guerra da informação, que busca demonizar o modelo ZFM, propositalmente
ignorando o que reza a Constituição Federal. É inadiável entrarmos nesse
conflito, com inteligência e contundência, e deixar claro que este modelo não
pratica nem promove guerra fiscal.
O Manifesto - na carona da choradeira dos
secretários, faz questão de esconder que as demais unidades da federação, ao
concederem incentivos fiscais ou financeiros, vinculados ao ICMS, afrontam a
legislação complementar e constitucional.
Do mesmo modo, os contribuintes
beneficiários sabem ou deveriam saber que usufruem de vantagens ilegítimas. E
mais: sendo promulgada pelo Senado Federal o Projeto de Resolução n. 1, de 2013,
com a manutenção da alíquota de 12% para as operações interestaduais com
mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus, não se acrescenta qualquer
vantagem adicional para o estado do Amazonas, em relação àquela que desfruta
desde 7 de janeiro de 1975, como demonstram a respeito os estudos do jurista
Raymundo Noronha, autoridade no substrato histórico e legal da ZFM e sua função
estratégica ambiental e nacional.
Vamos passear
na floresta –
Fizemos, a propósito,
mas não repercutimos, a várias mãos, um documento sobre verdades e mentiras a
respeito da Zona Franca de Manaus, ouvindo técnicos, empresários e
trabalhadores, a academia, a classe política e demais formadores de opinião.
“Todos os dados apresentados indicam que a verdadeira função do Polo Industrial
de Manaus-PIM é a de um catalisador econômico, que, de um lado, alivia a pressão
sobre a floresta amazônica, e, por outro lado, é capaz de canalizar recursos
financeiros para a educação e desenvolvimento de C,T&I ,que por sua vez,
impulsionam o desenvolvimento de tecnologias e inovações de processos
econômicos sustentáveis ao longo prazo”.
O veredito proferido pelo Prof.
Norberto Fenzl, Phd. consultor do CORDIS (Community Research Development
Information Service) da União Europeia, está circunscrito à aldeia local. Fomos
incapazes de dizer à nação o que significa o zelo e guarda de 20% do banco
genético do planeta, que o Amazonas mantém intacto em 98% e sob a soberania do
Brasil.
Fomos incapazes de dizer que é o Sudeste que consome a parte do leão da
renúncia fiscal do Brasil, e abocanha o filé mignon das verbas do BNDES para
projetos e infraestrutura. A mulher de César, além de ser séria, precisa
mostrar ao Império Romano sua integridade moral. A hora é agora de trazer a
opinião pública para o nosso lado e convidar o Brasil a passear na
floresta.
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