Ramez Philippe Maalouf*
A crítica situação do Egito está longe de ser definida. A mobilização
popular permanece. A repressão governamental está acirrada. Há acenos para que
haja uma acomodação do novo governo com alguns integrantes da Irmandade
Muçulmana, mas as relações obscuras do atual vice-presidente ElBaradei com
ex-integrantes do governo de Mubarak são um péssimo sinal para uma radical
mudança de regime.
Não há qualquer perspectiva no presente momento de que se estabeleça de
fato um governo soberano no Egito e, a persistir a violenta repressão,
confrontada com uma oposição cada vez mais mobilizada e enfurecida, há uma real
possibilidade de que ecloda uma guerra civil no Egito.
Se os EUA entenderem que não há chances de manter a total submissão do
Egito à sua geoestratégia de poder global, a opção de fazer eclodir uma guerra
civil (a via indireta) pode se tornar concreta. Uma opção que já havia sido
vislumbrada por estrategistas israelenses, em 1982, às vésperas da invasão do
Líbano.
Desde a derrubada de Mubarak, em 2011, o Egito se converteu em mais um
campo de batalha da guerra travada pelos EUA contra o resto da humanidade
(segundo a Teoria do Choque de Civilizações do falecido politólogo Samuel P.
Huntington) em busca da hegemonia global absoluta por meio do cerco e da contenção
da China e da Rússia.
Uma guerra mundial que foi iniciada na década de 1990, sendo travada no
Panamá, no Iraque, na antiga Iugoslávia, na Somália, na República Democrática
do Congo, na Líbia, no Afeganistão, no Iêmen, no Paquistão, na Coréia, no Mali,
na Palestina, na Síria, na América do Sul (na Colômbia, na Venezuela e, mais
recentemente, no Paraguai).
Várias batalhas de uma só guerra. Uma derrota imperialista no Egito, com
a vitória de uma revolução popular, seria um duro golpe para os EUA, com consequências
imprevisíveis em todo espaço afro-asiático. Aguardemos os novos acontecimentos
no País do Nilo.
*Historiador e doutorando em Geografia Humana pela USP.
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