É uma constatação da Politologia
(ou Ciência Política) que a classe média, em qualquer país de modelo capitalista, é a pedra angular da
governabilidade, bastando aos donos do poder saberem conquistar e manterem seu
apoio. É essa classe que decide as eleições e estimula a competição entre os principais
partidos políticos.
Trocando ideias com alguns
colegas jornalistas e cientistas políticos, solicitei-lhes que resumissem a equação
do poder atual no Brasil, da coalizão de governo liderada pelo Partido dos
Trabalhadores –PT- e Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB-, e
eles assim resumiram: O governo tira com
impostos escorchantes da classe média, deixa os empresários à vontade para
ampliarem seus lucros e dá assistência aos pobres.
Ponderei, inutilmente, que nem todos os
empresários estão com a vida fácil. O setor industrial, principalmente, tem
sofrido muitos revezes, por conta de
transformações na composição do seu perfil(internacionalização), da maior
presença de importados e do crescimento
dos demais setores, ficando bem atrás dos agronegócios e do setor de serviços.
A sua participação na geração de empregos caiu, de 21,1%, em 2002, para 11,2%,
em 2011, enquanto, no mesmo período, a participação dos serviços subiu de 37,5%
para 50,2%, segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- IBGE.
Quanto ao número de tributos, abrangendo
impostos, taxas, contribuições, empréstimos compulsórios e royalties,
totalizando cerca de 85 modalidades, o Brasil é um dos campeões mundiais,
embora as estatísticas sejam variáveis em face da regulamentação e extinção de
alguns, em níveis federal, estadual e municipal. A desoneração da folha de
pagamento de vários setores industriais ocorreria sem pressões do capital
internacional investido nas indústrias? Penso que não, e certamente provocará
mais aumento nos impostos, ficando a conta para a classe média brasileira.
Mas, que classe média brasileira
é esta, que tem sustentado eleitoralmente o Governo, apesar de tão sacrificada?
Segundo dados oficiais da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República, são 104 milhões de brasileiros -53% da população -, que movimentam
um trilhão de reais por ano. Têm uma renda per capita que varia entre 291 reais
a 1019 reais – renda superior a de 54% da população mundial. De 2003 a 2011,
foram 40 milhões de pessoas incorporadas à tal classe média, em níveis A,B e C.
Em 2002, o Brasil tinha 115,2
milhões de eleitores, e hoje tem cerca de 135,8 milhões ( um acréscimo de 20,6
milhões), em grande parte integrantes da
nova classe média e número suficiente para dar sustentação à reeleição de
Dilma, com apoio do ex-presidente Lula.
Nesta sociologia do voto, é um
equívoco afirmar que a sustentação do Partido dos Trabalhadores vem dos pobres. Ela vem, de fato, dos beneficiados
pelos projetos assistencialistas do governo, mas, que não se consideram mais
pobres e assumem o comportamento de classe média, com suas ideias, necessidades,
reivindicações e seus interesses, etc.
O historiador norte-americano
Francis Fukuyama, comentando os protestos de junho no Brasil, identificou essa
nova classe média, acreditando que ela se forma desvencilhada do Estado, base
para a corrupção e o clientelismo.
Creio que ele estava jogando para
a plateia (PT) com tal afirmação, porque o Estado brasileiro continua sendo o
grande maestro e alvo de quase todos os jovens que sonham em ter emprego, estabilidade
e bom salário. O Estado antecede à Sociedade no Brasil, desde a sua formação,
conforme acentuava Afonso Arinos, e não há possibilidade de que ele (o Estado) venha
a deixar de ser o protagonista em todas as esferas ou expressões do poder
nacional, por mais globalizadas que sejam as nações.
Resumindo: No Brasil, manda quem tem
a caneta e o Diário Oficial, com poder de nomear ou demitir, prender ou soltar,
conforme a sabedoria política herdada de Portugal, desde os tempos coloniais. É
assim que, mesmo espoliada, a classe média brasileira jamais deixará de apoiar
o governo que saiba seduzi-la.