quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Estudiosos civis e militares ignoram FEB


A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, com 25 334 homens da Força Expedicionária Brasileira - FEB-, ao lado dos aliados na campanha da Itália, é um fato histórico e político que ganha especial relevância.
Um fato histórico relevante porque a Segunda Guerra foi o maior conflito  da história da  Humanidade e o Brasil não ficou à margem dos acontecimentos, atuando com suas tropas na Europa, sob o comando dos Estados Unidos. Evidente que isto dá ao Brasil uma dimensão especial em relação aos demais países da América Latina.
Político porque o Brasil vem buscando um papel de protagonista mundial pleiteando sua admissão ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, além participar ativamente das forças de paz constituídas pela organização.
Recentemente, a diplomacia brasileira recebeu dura resposta do Governo de Israel, ao criticar a reação israelense “desproporcional” aos ataques recebidos do exército palestino Hamas, tendo o Brasil sido chamado pelo porta-voz oficial de Telavive de “anão diplomático”. É óbvio que o Brasil se meteu de forma imprudente nesta guerra,  que é milenar disputa entre Henlil e Marduk.
Mas, o porta-voz  talvez se esquecesse da atuação dos brasileiros na Segunda Guerra, exatamente contra os alemães de Hitler responsáveis pelo holocausto de seis milhões de judeus. Mais tarde, em 1947,o Brasil, com o chanceler Oswaldo Aranha, presidiu a sessão da ONU que reconheceu a criação do Estado de Israel, perante um mundo perplexo com a matança de judeus.
Essa atuação na luta contra o totalitarismo contribuiu para a transformação dos militares brasileiros em elementos de vanguarda na democratização e modernização do País.
Brasileiros de vários e até antagônicos matizes ideológicos compuseram a FEB, e a democracia se transformou num dos objetivos nacionais permanentes identificados doutrinariamente pela Escola Superior de Guerra - ESG-, no Rio de Janeiro, por onde passaram ex-febianos como Castello Branco, Cordeiro de Farias, Otávio Costa, Hugo de Abreu, Golbery do Couto e Silva, etc., embora a desmobilização imediata da FEB após o conflito tivesse sido feita por Getúlio Vargas, para que a nação brasileira não se entusiasmasse com aqueles que combateram os regimes fascista, de Mussolini, e nazista, de Hitler, e se compusesse contra a sua ditadura.
Mais tarde, os mesmos oficiais que lutaram contra o totalitarismo de direita na Europa conspiraram para evitar que o totalitarismo de esquerda, o Comunismo, se implantasse através da república sindicalista cuja implantação era ensaiada pelo governo de João Goulart. A revolução de 64, engendrada na ESG, contou com outros expoentes que passaram pela escola, como Ernesto Geisel e Tancredo Neves (este fazendo oposição ao regime).
A desmobilização da FEB por Getúlio Vargas foi seguida por silêncio doutrinário nas escolas militares que perdura até hoje. Os jovens oficiais que se formam nas academias conhecem pouco dos feitos da FEB, pois pouco lhes é repassado nos estudos das disciplinas de formação, aperfeiçoamento e comando.
Não seria patriotismo ou fervor cívico infundado a exaltação desses heróis que foram convocados para fazer “a cobra fumar”, pagando sua coragem com saldos de 465 mortos do Exército, 2.064 feridos e 35 prisioneiros das escaramuças contra alemães e italianos, durante 239 dias de combate ininterrupto, conforme estatísticas divulgadas em sites especializados.
Aproveitando o talento e entusiasmo de João Barone, baterista do “Paralamas do Sucesso”, historiador e agora cineasta, que vem documentando a participação dos brasileiros na segunda guerra mundial, recomendo aos estudiosos civis e militares seu documentário “O caminho dos heróis”.
Barone já produziu outras três obras sobre o tema: O documentário “Um brasileiro no Dia D(2006) e os livros “A minha segunda guerra” (2008) e “1942 - O Brasil e sua guerra quase desconhecida” (2013)”.
A microhistória da FEB apresenta lances fascinantes, protagonizados por  guerreiros mais tarde condecorados por seus feitos nos campos de batalha. A mais alta condecoração é a medalha “Sangue do Brasil”, outorgada aos que tiveram sangue derramado.
Heróis e guerreiros, de Péricles a Napoleão, apresentam virtudes raras combinadas com a coragem. Tanto o soldado quanto o general pode ter seu momento de bravura e genialidade no fragor da batalha, com ações que contribuem para transformar o que aparentemente seria destino em sorte. Tais exemplos precisam ser narrados nas academias aos jovens militares, em cujas mãos repousa a defesa do País.
Que se narrem histórias como a do resgate do soldado Chico Paraíba pelo tenente Ithamar Viana da Silva (que conheci pessoalmente como coronel e engenheiro militar) umas das mais conhecidas crônicas da FEB. Basta ao leitor acessar http://henriquemppfeb.blogspot.com.br/2012/01/cronicas-da-feb-chico-paraiba.html
Que se narrem histórias como as dos oficiais Hugo Abreu, Ernani Ayrosa, Adhemar da Costa Machado, Antônio Ferreira Marques, etc. entre outros grandes nomes e generais que conheci como repórter setorista da área militar para o jornal “O Estado de S. Paulo”, nos anos 70. Não se podem sonegar das novas gerações os feitos daqueles que fizeram diferença na defesa do Brasil e dos tradicionais valores ocidentais.

 

 

 

 

 

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