A melhor imagem que conheço para
simbolizar os 35 anos de existência do Partido dos Trabalhadores –PT-(comemorados ontem)e seus
quase 12 anos de governo no Brasil é a pintura “A persistência da Memória”, do surrealista e
anarco-monarquista espanhol Salvador Dalí.
Na referida obra, os relógios se
derretem e o tempo se deforma, conforme a relatividade descoberta por Einstein,
criando imagens surrealistas. O PT era, no seu início, o partido organizado e ético, que veio
com a proposta de contribuir para o restabelecimento da democracia no Brasil.
Lula ensandecia a classe trabalhadora nos palanques e nos clubes operários. Agora, a imagem do PT se derrete como os
relógios de Dalí... Enquanto o Partido do Movimento Democrático Brasileiro -PMDB- continua sendo, na aparência, o relógio intacto.
O que acontece hoje com o PT, que
de massa passou a disfarçada legenda de quadros, por conta de sua oligarquização, é a exaustão de seu discurso e
o seu desgaste gerado pelo processo do “Mensalão” e pelas recentes denúncias da
“Operação Lava Jato”, que apura os desmandos na administração da Petrobrás.
As redes sociais e os celulares
via wathsapp
convocam debates e reuniões para promoverem a ideia de impedimento da Presidente Dilma
Rousseff, fornecendo combustível para os golpistas de plantão. Até aí, o
silêncio da Presidente Dilma Rousseff se escora na sua própria decisão, quando
reeleita, e ontem reafirmada no discurso na festa do PT, de promover a fundo as investigações na empresa estatal, doa a quem
doer.
Mas, a posição saneadora de Dilma, que
atuou em gestões anteriores da Petrobrás, agora se torna enigmática com a dimensão da
delação feita por Pedro José Barusco Filho, ex-gerente de engenharia da
Petrobrás, segundo a qual, entre 2003 e 2013, o PT teria recebido propinas, em
noventa dos maiores contratos da Petrobrás, no valor aproximado de 200 milhões
de dólares. É muito dinheiro!
Ante o impacto de tal denúncia e
o impacto gerado pela demissão de Graça Foster da presidência da empresa,
além de vários diretores, eis que se anuncia o nome de Aldemir Bendini,
ex-presidente do Banco do Brasil, amigo pessoal de Lula, para "fortalecer" a Petrobrás,
como diz o ministro das Comunicações,Antônio Berzoini. Mas, todos sabem que o nomeado arrosta denúncias contra sua administração no Banco do Brasil. Por que, então, a sua nomeação, que pouco altera o ânimo negativo do mercado em relação à Petrobrás, a não ser que seja para manter as coisas como estão?
Como se não bastassem tais
denúncias sobre os desmandos na Petrobrás, uma das mais reputadas empresas do mundo,
pesam contra as administrações de Lula e Dilma denúncias de
manipulações de empréstimos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
- BNDES-, presidido por Luciano Coutinho, apaniguado do ex-presidente Lula. O valor
do rombo no BNDES é assustador: Seria de cerca de um trilhão de reais, dos quais cinco bilhões
teriam sido amealhados por Lula, conforme afirma em seu blog o engenheiro e
empresário paranaense Ossami Sakamori.
A Petrobrás é uma empresa da qual
o Brasil sempre teve orgulho, embora fosse mais benéfica para seus acionistas, investidores e
funcionários do que para o povo brasileiro, que paga caro pelos derivados
do petróleo; já o BNDES é um banco de fomento do desenvolvimento -como o nome
indica – e tem importância estratégica para todos os brasileiros.
Não se pode acusar sem provas, e
cabe aos acusadores o ônus das provas. A direção do PT fala em tentativa da
Oposição de satanizar o partido, com objetivo de inviabilizar eventual candidatura de Lula
às próximas eleições presidenciais. Também alguns petistas vêem um plano conspiratório internacional para desgastar a Petrobrás, cujo valor real cresceu consideravelmente com as reservas do Pré-Sal.
Há quem mencione interesses subterrâneos do
PMDB em sublevar a massa contra Dilma, provocar seu impedimento e colocar o
vice-presidente Michel Temer na Presidência. Assim, o PMDB ficaria com a
Presidência da República e com a direção do Senado Federal e da Câmara dos
Deputados, montando uma engenharia inédita da cadeia sucessória do Brasil,
dominando os Poderes Executivo e Legislativo – e quiçá o Judiciário.
A Presidente Dilma estaria
isolada, em caso de conspiração endógena na coalizão, e teria dificuldades para
enfrentar um processo de deposição oriundo do clamor popular, a exemplo do que
ocorreu com o Presidente Fernando Collor, que não tinha partido para blindá-lo.
O PT teria condições de blindar a
Presidente Dilma?Se Dilma entende que a Oposição continua fazendo maior alarde e sendo mais convincente no uso dos meios de comunicação, é um ponto de vista a ser analisado pelos especialistas em marketing do PT. No momento, nas ruas, do motorista de táxi ao quitandeiro, a opinião pública parece propensa a acreditar que Dilma e Lula têm culpa no cartório e que não conseguirão se explicar a contento sobre as denúncias de fatos ainda não esclarecidos que teriam ocorrido nos seus governos.
O dramático de uma eventual
desestabilização da Presidente Dilma Rousseff, que determinou a rigorosa apuração dos fatos, é que o golpe não é o caminho para
a consolidação da democracia no Brasil, que, ficaria ao nível das republiquetas
antidemocráticas que levaram Simon Bolívar a afirmar que pregar a democracia na América Latina é “lavrar
no mar”. Não haveria os militares, as Forças Armadas se comprometendo com esse
tipo de manobra, como imaginam milhões de inocentes úteis que se manifestam
pelas redes sociais saudosos do regime militar.
Alguns analistas políticos insistem em afirmar que impedimento ("impeachment") não é golpe, mas, sim, um legítimo mecanismo legal e constitucional, que pode ser acionado por qualquer parlamentar. Ponto de vista que era defendido pelo então deputado José Dirceu, do PT, contra o Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Tem que haver sólida justificativa que justifique um pedido de impedimento do Presidente, e esta razão é construída sempre por quem deseja derrubar o Presidente. Por causa de um carro Elba que Collor aceitou de presente, pediram, e conseguiram, o seu impedimento.Não pode a razão suplantar o veredito das urnas, pois isto torna o impedimento um golpe. O PT usou contra Collor esse mecanismo, e hoje a Oposição quer usá-lo contra Dilma, na linha do adágio "quem com ferro fere, com ferro será ferido". Não é por aí... Dilma, Lula e o PT devem esclarecimentos à Nação quanto às denúncias e têm o dever de prestá-los.
As conjunturas interna e externa atuais não são favoráveis a nenhum golpe, a nenhuma ditadura,civil ou militar, mas, sim, impõem o caminho democrático, ainda que pedregoso.O terrorismo internacional e as violências urbana e rural no Brasil -essas agravadas pelas condições climáticas desfavoráveis e pela retração econômica, -são fatores que contribuiriam para engolfar o Brasil numa convulsão intestina sem precedentes, em caso de ruptura político-institucional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário