J. Bernardo Cabral(advogado, ex-deputado federal,ex-ministro da Justiça e ex-senador)
Nos
últimos dias, fui tomado de muita apreensão. Vejo o momento político passar para
as principais páginas dos jornais e das Tv’s, com destaque para autoridades na
lista de banco suíço; do acervo de obras de arte, em números de 131, apreendido
pela Polícia Federal; de acusados de coletar propinas para autoridades
governistas; de desvio, não só na Petrobrás mas também na Caixa Econômica,
através de fraude no crédito imobiliário, num total de 120 milhões de reais; da
discordância dos partidos sobre o financiamento de campanha; do pacote de
medidas contra a corrupção, grande parte delas com propostas antigas.
De
outra parte, comprovo que o governo não conseguiu pagar um centavo dos R$ 311
bilhões de juros sobre a dívida pública e, ao contrário, registrou um “déficit
primário” de R$ 32,5 bilhões e elevou a
dívida pública a 63,4% do PIB. E mais: o clamor popular nas ruas, nas casas,
nos bares, agravado pela especulação de um “impeachment”.
A
minha apreensão é que não vislumbro instrumentos efetivos e de imediata solução
para a grande maioria desses problemas que estão a afligir a Nação, a permitir
que novas frestas de luz iluminem os operadores especializados na busca de
soluções modernas, a partir de premissas novas, com o abandono de vários dogmas
já sepultados pela atualidade.
Teses,
princípios e soluções incontestáveis há alguns anos devem ser relidos com
urgência, atualizados ou abandonados, para não persistirmos na utopia de que
sairemos dessa brutal crise que nos assola – e só alguns a consideram aparente
– e brutaliza a nossa sociedade.
É
incomodamente óbvio ressaltar que as causas já foram identificadas e elas se
encontram numa única e mesma realidade, a de ter sido desprezada a ética e de
que o Estado não foi criado para a prática de atos condenáveis – para não dizer
imorais, ao extremo – e sim para promover o bem geral da comunidade.
Talvez
neste instante esteja eu revivendo o meu tempo de advogado militante – e a
advocacia tem uma certa semelhança com a medicina. Isso porque o advogado é o
cirurgião plástico do fato e, na sua vivencia, o seu tempo de análise das
pessoas e dos fatos se agiganta, tornando-o capaz de distinguir o essencial do
acessório.
Mas
eu continuo apreensivo. E muito!
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