Houve grande repercussão nos
meios de comunicação e nas redes sociais das votações dos parlamentares que
mencionaram seus familiares e outros laços de afeto e seus municípios-bases-eleitorais
e até confissões religiosas para justificarem sua posição a favor do
impeachment.
No senso comum brasileiro, esse
comportamento dos parlamentares demonstrou o baixo nível da representação
política brasileira, além de fornecer um handicap à Presidenta Dilma Rousseff
com baixa frequência de citação da razão principal dela estar sendo impedida:
As denominadas “pedaladas fiscais” e a sua leniência com os esquemas de
corrupção que se constituíram sob sua gestão e na do ex-presidente Lula, seu
criador, que, a exemplo de Dilma, nunca soube de nada.
No exterior, a imprensa também
criticou esse “baixo nível” dos parlamentares brasileiros, como se não
bastassem as negociatas e tratativas espúrias que o Governo e o ex-presidente
Lula promoveram à luz do dia perante os olhos do Brasil e do mundo para
angariar votos contra o impeachment. O
site da revista alemã “Der Spiegel chamou de “Insurreição dos hipócritas” e
criticou o “clima carnavalesco” reinante durante a votação.
Mas, eu quero aqui, sob a ótica
culturalista, defender e exaltar o espetáculo em si, explicando todo aquele “carnaval”
como produto da cultura carnavalesca e lúdica do Brasil, País do carnaval e do
futebol. O País é aquele cadinho de raças que se transformou na maior miscigenação
da cultura lusófila do mundo, assim como os Estados Unidos se transformaram na
maior miscigenação da cultura anglófila. Duas vertentes que causam inveja ao
resto do mundo.
Essa miscigenação, que se
expressa no Brasil pela informalidade e transforma tudo em samba, é um
patrimônio extraordinário e ajuda na terapia nacional das graves crises,
embora, eu admito, aumente a tolerância à corrupção. Tentar implantar o
Comunismo no Brasil, ou a própria Democracia pura, é como tentar “lavrar no mar”,
como diria Simon Bolívar. A cultura - forma apropriada de pensar, sentir e agir
- é quem determina o comportamento do povo, é quem determina a própria cultura
política.
Esse espetáculo que vimos é a
cultura política brasileira, sem tirar nem por adjetivos. E querem que a Câmara
dos Deputados, que representa o Povo, reflita aquém ou além da sociedade que
elegeu seus representantes? Tivemos uma apoteose do voto: One man, one vote.
Mas, há outras observações
cabíveis em defesa do espetáculo do impeachment.
Quem conhece o Parlamento brasileiro, sabe que apenas uns 30% dos 594 parlamentares
da Câmara e do Senado tinham acesso aos meios de informação, em especial as
revistas, jornais, rádios e emissoras de televisão, que divulgam os trabalhos de seus preferidos. A mídia
seletiva é também elitista para a constituição da própria elite congressual.
Iludem-se os que pensam que todo
parlamentar se sente poderoso lá dentro do Congresso Nacional. O princípio é de
igualdade entre todos os eleitos, mas há gradações nessa igualdade, onde alguns
são mais iguais do que outros, por razões diversas, entre as quais capacidade
de aculturação, número de votos, posições ideológicas, talento para
articulações de bastidor e oratória, prestígio dentro do partido, condição
financeira, etc.
No dia 17, todos os deputados tiveram as televisões do Brasil e do exterior
estampando seus rostos por preciosos minutos ou até segundos que jamais lhes teriam sido concedidos pela
mídia nacional e estrangeira em condições normais.Nas suas bases eleitorais, o impacto foi grande,
e terá enorme repercussão nas eleições municipais deste ano. Eis uma razão de
terem citado seus municípios e bases eleitorais.
Quanto à citação de esposa, filhos,
netos e religião, eu creio que foram influenciados, e muito, pelas redes
sociais, destacadamente o faceboock, que se transformou no principal canal de
comunicação da sociedade brasileira, onde a classe média se faz maciçamente
presente revelando suas dúvidas e certezas do cotidiano. As redes vêm pautando
a grande imprensa e há muitos políticos, deputados e senadores, que as
frequentam como um vício. Jornais, revistas, rádios e televisões não podem mais
ignorar a força das redes, que pautaram o voto familiar contra a corrupção que
assola o País.
Aplausos aos deputados que se
comportaram como vereadores na votação. É bom que os seus críticos reflitam que
eles todos são caciques nas suas regiões e que o vestibular para obtenção de um
mandato eletivo é o mais difícil que existe. Dentre quase 200 milhões de
habitantes, eles foram ungidos pelo voto popular, e os que os elegeram merecem
respeito. Alí não tem ninguém tolo. Quem é tolo ficou de fora...
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