terça-feira, 19 de abril de 2016

Salvem os Deputados,salve o Povo brasileiro!


Houve grande repercussão nos meios de comunicação e nas redes sociais das votações dos parlamentares que mencionaram seus familiares e outros laços de afeto e seus municípios-bases-eleitorais e até confissões religiosas para justificarem sua posição a favor do impeachment.

No senso comum brasileiro, esse comportamento dos parlamentares demonstrou o baixo nível da representação política brasileira, além de fornecer um handicap à Presidenta Dilma Rousseff com baixa frequência de citação da razão principal dela estar sendo impedida: As denominadas “pedaladas fiscais” e a sua leniência com os esquemas de corrupção que se constituíram sob sua gestão e na do ex-presidente Lula, seu criador, que, a exemplo de Dilma, nunca soube de nada.

No exterior, a imprensa também criticou esse “baixo nível” dos parlamentares brasileiros, como se não bastassem as negociatas e tratativas espúrias que o Governo e o ex-presidente Lula promoveram à luz do dia perante os olhos do Brasil e do mundo para angariar votos contra o impeachment. O site da revista alemã “Der Spiegel chamou de “Insurreição dos hipócritas” e criticou o “clima carnavalesco” reinante durante a votação.

Mas, eu quero aqui, sob a ótica culturalista, defender e exaltar o espetáculo em si, explicando todo aquele “carnaval” como produto da cultura carnavalesca e lúdica do Brasil, País do carnaval e do futebol. O País é aquele cadinho de raças que se transformou na maior miscigenação da cultura lusófila do mundo, assim como os Estados Unidos se transformaram na maior miscigenação da cultura anglófila. Duas vertentes que causam inveja ao resto do mundo.

Essa miscigenação, que se expressa no Brasil pela informalidade e transforma tudo em samba, é um patrimônio extraordinário e ajuda na terapia nacional das graves crises, embora, eu admito, aumente a tolerância à corrupção. Tentar implantar o Comunismo no Brasil, ou a própria Democracia pura, é como tentar “lavrar no mar”, como diria Simon Bolívar. A cultura - forma apropriada de pensar, sentir e agir - é quem determina o comportamento do povo, é quem determina a própria cultura política.

Esse espetáculo que vimos é a cultura política brasileira, sem tirar nem por adjetivos. E querem que a Câmara dos Deputados, que representa o Povo, reflita aquém ou além da sociedade que elegeu seus representantes? Tivemos uma apoteose do voto: One man, one vote.

Mas, há outras observações cabíveis em defesa do espetáculo do impeachment. Quem conhece o Parlamento brasileiro, sabe que apenas uns 30% dos 594 parlamentares da Câmara e do Senado tinham acesso aos meios de informação, em especial as revistas, jornais, rádios e emissoras de televisão, que divulgam  os trabalhos de seus preferidos. A mídia seletiva é também elitista para a constituição da própria elite congressual.

Iludem-se os que pensam que todo parlamentar se sente poderoso lá dentro do Congresso Nacional. O princípio é de igualdade entre todos os eleitos, mas há gradações nessa igualdade, onde alguns são mais iguais do que outros, por razões diversas, entre as quais capacidade de aculturação, número de votos, posições ideológicas, talento para articulações de bastidor e oratória, prestígio dentro do partido, condição financeira, etc.

No dia 17, todos os deputados  tiveram as televisões do Brasil e do exterior estampando seus rostos por preciosos minutos ou até segundos  que jamais lhes teriam sido concedidos pela mídia nacional e estrangeira em condições normais.Nas suas bases eleitorais, o impacto foi grande, e terá enorme repercussão nas eleições municipais deste ano. Eis uma razão de terem citado seus municípios e bases eleitorais.

Quanto à citação de esposa, filhos, netos e religião, eu creio que foram influenciados, e muito, pelas redes sociais, destacadamente o faceboock, que se transformou no principal canal de comunicação da sociedade brasileira, onde a classe média se faz maciçamente presente revelando suas dúvidas e certezas do cotidiano. As redes vêm pautando a grande imprensa e há muitos políticos, deputados e senadores, que as frequentam como um vício. Jornais, revistas, rádios e televisões não podem mais ignorar a força das redes, que pautaram o voto familiar contra a corrupção que assola o País.

Aplausos aos deputados que se comportaram como vereadores na votação. É bom que os seus críticos reflitam que eles todos são caciques nas suas regiões e que o vestibular para obtenção de um mandato eletivo é o mais difícil que existe. Dentre quase 200 milhões de habitantes, eles foram ungidos pelo voto popular, e os que os elegeram merecem respeito. Alí não tem ninguém tolo. Quem é tolo ficou de fora...

 

 

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