sexta-feira, 5 de abril de 2013

Brics, Chíndia e Chimérica: Os novos “players” da economia mundial

Manuel Cambeses *
 
Ultimamente, muito se tem falado sobre os "Brics" - acrônimo criado pelo economista do banco Goldman Sachs, em Londres, de nome Jim O´Neill, no ano de 2001 -, que contém as iniciais dos cinco países que caminham em maior velocidade dentro da economia global, no alvorecer do século XXI: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
 
Também se tornou frequente ouvir a novel expressão "Chíndia", batizada pelo político indiano Jairam Tamesh, para fazer referência à notável sinergia entre a força manufatureira e a força nos serviços das duas dinâmicas economias: China e Índia. Entretanto, o mais curioso desses novos conceitos foi o surgido na Inglaterra, no ano de 2008, cunhado pelo historiador inglês Niall Ferguson e o economista alemão Moritz Schularick, intitulado: "Chimérica".

O termo "Chimérica" traduz o profundo entrelaçamento das relações comerciais, produtivas e financeiras entre as duas maiores economias do mundo, situadas em pólos diemetralmente opostos do planeta: China e Estados Unidos. Alguns analistas, a meu ver erradamente, chegam a comparar esta associação com a União Europeia, devido à intensidade e diversidade que alcança a sua intensa complementaridade econômica.
 
No entanto, é importante destacar que, diferentemente da experiência europeia, a ativa imbricação e a interdependência consolidada em "Chimérica" é mero fruto das circunstâncias e, em nenhum caso, o resultado de uma ação deliberada, ou mesmo desejada, e incansavelmente planejada pelos países constitutivos da impressionante e profícua parceria alcançada pelos europeus, através de muitos anos de exaustivos ajustamentos.

Muito além dos "mapas de rota" adredemente traçados pelos países constitutivos da União Europeia, e bem antes da consolidação e ativação do pujante bloco econômico, inclusive com a entronização da moeda única, o Euro, o certo é que, diferentemente do que ocorreu na Europa, os Estados Unidos e a China foram paulatinamente imbricando-se, em termos econômicos e comerciais, e, na atualidade, já não podem, para o bem e para o mal, viver de forma isolada, sem uma intensa e marcante dependência recíproca.

Hodiernamente, a economia estadunidense tem capacidade de seguir funcionando, a meia força, em que pesem os seus gigantescos e reiterados déficits, porque os chineses estão dispostos a absorver as emissões da dívida pública que o governo norte-americano coloca no mercado bursátil. Entretanto, os excedentes chineses não poderiam existir se os americanos não estivessem dispostos a consumir vorazmente os produtos fabricados pela indústria chinesa e a aceitar uma balança comercial habitualmente negativa e favorável ao governo chinês.

No primeiro trimestre de 2012, o governo estadunidense autorizou o repasse, aos chineses, de 1,4 trilhão de dólares em bônus emitidos pelo Tesouro dos EUA, como forma de por de novo em marcha uma economia moribunda, ademais de ativar várias leis de estímulo financeiro.

Faz-se mister destacar que, se de alguma maneira o portentoso país asiático tem, sistematicamente, vindo em socorro, no sentido de resgatar e alavancar a combalida economia americana, vez que outra também é o responsável, em grande medida, pelo que ocorre na economia do gigante do norte.
 
Ou seja, se não fosse pela disposição e impetuosidade dos chineses de alimentarem-se do déficit dos Estados Unidos, seria impossível que os estadunidenses estivessem tão dispostos a viver acima de suas reais possibilidades, ou que o baixo custo do dinheiro tivesse estimulado o risco financeiro da maneira com que tem sido feito.

Diante desta realidade, podemos inferir que o termo "Chimérica" traduz-se em uma complexa relação, entre dois portentosos países, que engendra, como corolário, círculos viciosos que se traduzem em desequilíbrios estruturais, no marco de uma dinâmica operativa altamente complexa e, consequentemente, instável.

Certamente, com todos os percalços que possam existir, os Estados Unidos e a República Popular da China constituem, na atualidade, as duas partes da mesma laranja e, consequentemente, apresentam alto grau de interdependência em suas economias. Daí, podemos deduzir que, em realidade, já não podem deixar de viver como num casamento estável e perfeito: um sem o outro.

 
*O autor é Coronel-aviador Refm; conferencista especial da ESG, membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, membro do conselho editorial da Revista do Clube Militar e conselheiro do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER)

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