A situação da
imprensa no Brasil não é confortável, em termos de liberdade, pois ela se encontra submetida à censura política
pela via econômica e sob controle do governo, sem capacidade de exercer seu
papel tradicional de informar o cidadão, fiscalizar as instituições e denunciar as mazelas do
País.
Os poucos órgãos
com influência nacional dependem da publicidade oficial direta e indireta, para
se manterem a duras penas, além de sofrerem a forte concorrência da internet em
seu próprio conteúdo divulgado.
Há crescente
número de jornalistas desempregados, nos grupos privados de comunicação, e as estatísticas,
sob controle sindical, são pouco confiáveis, mas estima-se que haja 50 mil
profissionais ativos no Brasil, dos quais cerca de 30 mil sindicalizados, segundo dados
revelados pela Federação Nacional dos Jornalistas –FENAJ.
Uma rápida
avaliação indica, com base nos dados do Instituto Verificador de Circulação –IVC-
que a tiragem diária dos 10 maiores jornais brasileiros não ultrapassa dois milhões e meio de exemplares. Ainda que se somem esses dados
com os referentes à circulação de jornais regionais e menores, imprensa
alternativa e revistas, são números ridículos em relação ao tamanho da
população, 194 milhões de pessoas.
Não é apenas a
imprensa, mas órgãos como Polícia Federal, Secretaria da Receita Federal e
Ministério das Relações Exteriores - ligados às carreiras de estado – estão sendo
silenciosamente monitorados, para não cumprirem com muita eficiência as suas
atribuições, ainda mais nesses preparativos da Copa do Mundo, onde os gastos e
desvios reais de verbas são mantidos fora do conhecimento popular.
Não é de se estranhar,
diante desse quadro, que a direção do jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro,
tenha publicado recente declaração abjurando seu apoio à Revolução de 31 de
Março de 1964.
Um ato de
oportunismo das Organizações Globo, segundo o general reformado e articulista
Valmir Fonseca Azevedo Pereira, para quem “a Rede Globo é conivente e deseja
que o Brasil seja dominado por uma nomenclatura que a torne o seu porta-voz”.
Para o general
Clóvis Purper Bandeira, assessor da presidência do Clube Militar, “trata-se de revisionismo,
adesismo e covardia do último grande jornal carioca.” É a seguinte a íntegra de
seu artigo:
“Numa mudança de
posição drástica, o jornal O Globo acaba de denunciar seu apoio histórico à
Revolução de 1964”. Alega, como justificativa para renegar sua posição de
décadas, que se tratou de um “equívoco redacional”.
“Os grandes
jornais existentes à época, o único sobrevivente carioca como mídia diária
impressa é O Globo. Depositário de artigos que relatam a história da cidade, do
país e do mundo por mais de oitenta anos, acaba de lançar um portal na Internet
com todas as edições digitalizadas, o que facilita sobremaneira a pesquisa
de sua visão da história.
Pouca gente
tinha paciência e tempo para buscar nas coleções das bibliotecas, muitas vezes
incompletas, os artigos do passado. Agora, porém, com a facilidade de poder
pesquisar em casa ou no trabalho, por meio do portal eletrônico, muitos puderam
ler o que foi publicado na década de 60 pelo jornalão, e por certo ficaram
surpresos pelo apoio irrestrito e entusiasta que o mesmo prestou à derrubada do
governo Goulart e aos governos dos militares. Nisso, aliás, era acompanhado
pela grande maioria da população e dos órgãos de imprensa.
Pressionado pelo
poder político e econômico do governo, sob a constante ameaça do “controle
social da mídia” – no jargão politicamente correto que encobre as diversas
tentativas petistas de censurar a imprensa – o periódico sucumbiu e renega,
hoje, o que defendeu ardorosamente ontem.
Alega, assim,
que sua posição naqueles dias difíceis foi resultado de um equívoco da redação,
talvez desorientada pela rapidez dos acontecimentos e pela variedade de versões
que corriam sobre a situação do país.
Dupla mentira:
em primeiro lugar, o apoio ao Movimento de 64 ocorreu antes, durante e por
muito tempo depois da deposição de Jango; em segundo lugar, não se trata de
posição equivocada “da redação”, mas de posicionamento político firmemente
defendido por seu proprietário, diretor e redator chefe, Roberto Marinho, como
comprovam as edições da época; em segundo lugar, não foi, também, como fica insinuado,
uma posição passageira revista depois de curto período de engano, pois dez anos
depois da revolução, na edição de 31 de março de 1974, em editorial de primeira
página, o jornal publica derramados elogios ao Movimento; e em 7 de abril de
1984, vinte anos passados, Roberto Marinho publicou editorial assinado, na
primeira página, intitulado “Julgamento da Revolução”, cuja leitura não deixa
dúvida sobre a adesão e firme participação do jornal nos acontecimentos de 1964
e nas décadas seguintes.
Declarar agora
que se tratou de um “equívoco da redação” é mentira deslavada. Equívoco, uma ova! Trata-se de
revisionismo, adesismo e covardia do último grande jornal carioca.
Nossos pêsames
aos “leitores.”
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