Heitor
Scalambrini Costa( Professor
da Universidade Federal de Pernambuco
Encerrado
o prazo legal (em 5 de julho) para o registro das candidaturas ao pleito
presidencial de 2014, onze candidatos se registraram junto ao Tribunal Superior
Eleitoral. De acordo com os dados apresentados pelos partidos políticos, o
gasto estimado com a campanha será próximo de R$ 1 bilhão de reais. Com nove
concorrentes, a campanha presidencial de 2010 totalizou despesa de R$ 289,20
milhões (em valores da época).
Sabemos
nós, moradores da ilha da fantasia chamada Brasil, que os valores oficiais
apresentados estão longe de representarem o que realmente se gasta em uma
campanha eleitoral. Nada se fala dos valores paralelos, o “caixa dois” ou outro
nome que se queira dar. Portanto, sem medo de errar, podemos multiplicar por
três os gastos oficiais sugeridos para 2014. O que elevaria os gastos na
campanha à Presidência da Republica deste ano para mais de três bilhões de
reais. Numero impressionante por si só, mas quando se agregam os gastos das
candidaturas a governador, deputados federais e estaduais pelo país afora,
verifica-se uma deformação, pois as grandes somas em dinheiro envolvidas acabam
anulando a vontade popular. Desta forma, o voto não representa mais o cidadão.
É o poder econômico que elege para atender aos seus interesses mesquinhos.
O
financiamento das campanhas no Brasil, ou seja, o modo como os partidos
políticos custeiam suas campanhas eleitorais, segundo a legislação vigente,
pode vir de recursos públicos e privados. Oficialmente, a forma de arrecadação
e de aplicação dos recursos são submetidas a um complexo conjunto de regras que
deveriam controlar, enquadrar e multar o candidato, sempre que houvesse abusos
contra as regras eleitorais. Mas não servem para muita coisa. Regras podem ser
boas quando cumpridas, no entanto, na ilha da fantasia, é tudo “faz de conta”.
A fiscalização praticamente não existe. E quem deveria fazê-la “olha para o
outro lado”. Uma vergonha.
Quanto
à origem, os recursos destinados às campanhas eleitorais podem ser recursos
próprios dos candidatos, doações de pessoas físicas, doações de pessoas
jurídicas, doações de outros candidatos, de comitês financeiros ou partidos
políticos, receitas decorrentes da comercialização de bens e serviços ou da
promoção de eventos, bem como da aplicação financeira dos recursos de campanha.
O
projeto Às Claras (http://www.asclaras.org.br/@index.php), atuando desde 2002,
mostra que as eleições no país são “compradas” pelos grandes grupos econômicos,
que se constituem na fonte mais importante de financiamento das campanhas. As
empreiteiras dominam as doações. Para elas é um investimento com retorno certo.
Segundo o Instituto Kellog para cada real doado a candidatos, as empresas obtêm
R$ 8,50 em contratos públicos.
Os
maiores financiadores de campanhas, não por acaso, são justamente aqueles com
interesse em licitações de serviços públicos. As mais conhecidas no Brasil, por
sua atuação no setor de construção civil, as chamadas “quatro irmãs” –
Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – são as maiores
financiadoras das eleições. Alguma dúvida do porquê estas empresas e suas
terceirizadas dominam o cenário das obras publicas?
A
farsa da democracia é construída desde a legislação eleitoral, que determina as
regras do jogo, indo até o empresariado que financia as grandes campanhas eleitorais.
Daí a necessária reforma política. Não se pode admitir que nosso país tenha
“donos”. Obviamente uma reforma substantiva não ocorrerá com este Congresso
Nacional. E talvez com nenhum outro, enquanto não alterarmos sua atual
genética, moralmente corrompida.
Para
quem ainda não desistiu, a participação é a pedra de toque para as mudanças que
a maioria deseja para o país. Se discutirmos sobre as próximas eleições tanto
quanto se discutiu sobre o acidente que tirou Neymar da seleção brasileira, com
certeza estaremos no caminho para construir um país melhor para a maioria do
seu povo.
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