sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O "Mensalão" e a estabilidade política no Brasil


Em sua fase de “dosemetria” das penas a serem imputadas aos 25 réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do “Mensalão”, entre os quais o ex-ministro José Dirceu, chefe do Gabinete Civil do Presidente Lula, em 2005,quando eclodiu o escândalo da corrupção no âmbito da base parlamentar do governo ,envolvendo a quantia de 350 milhões de reais para a compra de votos, há um suspense geral no Brasil em torno da figura do empresário Marcos Valério, um dos condenados.

Já condenado a mais de 40 anos de prisão, Marcos Valério, de cujo nome se extraiu a expressão “Valerioduto”, referência aos ductos por onde transitaram as somas –algumas astronômicas- que reforçaram as contas bancárias e os bolsos dos membros do grupo, é atualmente um arquivo vivo importante do País, razão pela qual teme ser morto e quer a delação premiada, como proteção física e artifício de redução da pena.

Enquanto o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, aperta o cerco e exige a retenção dos passaportes dos condenados, para evitar que fujam do Brasil e até mesmo para desbastar ranços de impunidade e escárnio de algumas figuras perante a opinião pública, em detrimento da imagem do STF, os observadores mais atentos do cenário político observam os movimentos de Marcos Valério, com uma pergunta que não quer calar: “O Presidente Lula sabia de todo o esquema?”.

Valério, em entrevista à revista “Veja”, afirma que Lula sabia. Outra coisa é ele afirmar isto perante o STF. O PPS e o PSDB, partidos de oposição, encaminharam à Procuradoria Geral da República pedido de investigação sobre a participação do Presidente Lula, com base na teoria do domínio do fato,segundo a qual, se o ministro Dirceu estava envolvido, seu chefe e beneficiário final do esquema também sabia e consentia.

Há um porém nessa iniciativa da Oposição, que pode incendiar o País, se confirmada a participação do Presidente Lula: A Presidente Dilma Rousseff, que exercia, em 2003, o cargo de ministra das Minas e Energia e tinha acesso confidencial ao Presidente Lula, poderia ser chamuscada pela teoria do domínio do fato.

Em 2009, Dilma prestou depoimento judicial sobre o assunto, observando que as medidas provisórias criando marcos regulatórios para o setor da energia foram aprovadas com surpreendente rapidez no Congresso, ela (Dilma) explicando que a surpresa positiva foi parlamentares até da oposição compreenderem que o setor estava â mercê de outros “apagões” no sistema elétrico.

O efeito cascata da teoria do domínio de fato, aplicado ao caso do “Mensalão”, passaria a ter efeito avassalador, contaminando figuras, atos governamentais e, possivelmente, atores políticos atuais ainda ocultos aos olhos da opinião pública pelo jogo de luzes e sombras do procênio

Nesse quadro, vejo os seguintes cenários possíveis sobre o “Mensalão”:

1.      A Procuradoria Geral da República indefere o pedido do PPS, Dirceu assume tudo e Marcos Valério se cala aceitando resignadamente as cominações legais, tudo em nome da estabilidade político-institucional;

2.     A Procuradoria Geral da República defere o pedido do PPS e parte para as investigações; Lula fora de suspeição, o sistema político digere o “Mensalão”; Lula suspeito e réu, alguns assessores e ministros de Lula, entre os quais Dilma, excluídos do processo atual, ficam sujeitos às investigações. Nesse caso, a teoria pode ser outra, a do dominó...

Em suma, há duas pessoas, numa cristalina bipolarização de tudo, sobre as quais repousa a atual estabilidade política do Brasil: A Procuradoria Geral da República e o Presidente Lula.

Num raciocínio filosófico, estaria a nação brasileira diante do dilema cunhado por Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do cronista carioca Sérgio Porto, na década dos 60, em seu Febeapá - Festival de Besteiras que Assola o País -: ”Restaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos.”?

Não creio.Penso que a cultura política brasileira trará resposta a esse dilema, pois há uma Razão autônoma, no próprio regime democrático, capaz de fixar os limites morais e éticos da forma de governo republicana escolhida pela sociedade brasileira, orientando o processo de decisão política em consonância com as transformações estruturais e conjunturais nacionais e internacionais.

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